Nadadora de Recife, conhecida pelo desempenho nas piscinas e
por suas posições políticas, foi alvo de ataques machistas nas redes
sociais após a eliminação na Olimpíada do Rio; ela chegou a ler no
Facebook que merecia morrer afogada e até mesmo ser estuprada,
resgatando o trauma de abuso que sofreu na infância; em entrevista, a
atleta disse que processará seus agressores, criticou o preconceito
contra a medalhista Rafaela Silva e deixou claro que não vai parar de se
posicionar; "Quero um país para todos"
Revista Fórum - A nadadora Joanna Maranhão concedeu, no início da tarde desta terça-feira (9), uma entrevista
que acabou se transformando em um depoimento representativo de uma
atleta brasileira mulher contra a cultura do ódio e do machismo no
Brasil. Após ser eliminada da fase classificatória dos 200 metros
borboleta dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Maranhão revelou os
ataques preconceituosos e machistas que vem recebendo através das redes
sociais. “Ontem à noite foi o dia mais difícil para mim. Tentei ficar fora de
rede social, mas fui no Facebook e vi uma enxurrada de críticas,
ataques. Alguns dizem que eu merecia ser enxutada, que minha história é
uma grande mentira. Eu tentei segurar a onda, mas agora eu desabafei. E
muito duro receber”, desabafou. Conhecida pelo seu desempeno nas piscinas, Joanna já foi alvo de
inúmeras críticas por se posicionar politicamente contra o
conservadorismo, a redução da maioridade penal e figuras como Eduardo
Cunha e Jair Bolsonaro. Na entrevista que deu há pouco, a nadadora
revelou que voltou a ser xingada pelas suas posições políticas e chegou a
sair em defesa do governo da presidenta afastada Dilma Rousseff quando
comentou a medalha de ouro da judoca Rafaela Silva. “Esses perfis que nos atacam não sabem o sufoco que passa o atleta
brasileiro. A Rafaela Silva, há quatro anos, não tinha nada, mas com a
ajuda dos programas assistenciais, conseguiu essa medalha”, comentou. Outro ponto alto de sua entrevista coletiva foi quando tratou da
questão do estupro, já que a atleta já havia revelado anteriormente ter
sofrido abusos sexuais quando criança. De acordo com Joanna, após a
eliminação ela chegou a se deparar com mensagens desejando sua morte ou
ainda que fosse estuprada. “Desejar que eu seja estuprada é passar dos limites”, disse. Confira, abaixo, os principais trechos da fala da nadadora.
“O Brasil é um país muito racista, preconceituoso, racista,
homofóbico, voltado ao futebol, e os ataques que são feitos lá as
pessoas pensam que não afeta. Eu sempre me posicionei politicamente,
porque sinto que todo ser humano tem um papel a fazer, mas eu quero um
país para todo mundo. Não quero que a Tais Araújo seja chamada de
‘macaca’, que a Rafaela Silva seja chamada de ‘decepção’, amarelona'”.
“Felipe Kitadai, Charels Chibana, Sarah Menezes não entraram para
perder. É muito difícil as pessoas entenderam isso. Mas passar para a
linha do desrespeito é difícil. Treinei muito para ser a melhor nadadora
do Brasil e não sucumbir à minha depressão, e de repente as pessoas me
questionando, questionando minha história”.
“Nem todo mundo entende a dificuldade que é [estar aqui nas
Olimpíadas]. Mas desejar que minha mãe morra, que eu me afogue, que eu
seja estuprada, que a história da minha infância seja algo que eu
inventei para estar na mídia já ultrapassa. Eu falo sobre coisas que a
maioria dos atletas não fala, eu aguento porrada, mas tudo tem limite.
Quando tem desrespeito por eu ser mulher ou ser do Nordeste, aí eu vou
tomar as medidas jurídicas”.
“Um país de psicopatas, país de doidos, que confundem religião, política e esporte”
por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho
Ontem em entrevista ao Uol, a doutora Terezinha Maranhão, mãe da
atleta Joanna Maranhão, foi direto ao ponto quando perguntada sobre as
ofensas dirigidas à sua filha: “Este é um país de psicopatas, país de
doidos, que confundem religião, política e esporte. Minha filha tem
opiniões próprias, mas não merece ser ofendida e atacada como foi”.
Sobre os ataques machistas e preconceituosas não há o que dizer. Um
completo absurdo sem sentido. Mas quero aqui atentar para outro detalhe,
cada vez mais comum no debate político.
Acusar os defensores do governo Dilma, do PT, ou de qualquer coisa
que lembre a esquerda de receberem 'mamatas' com dinheiro público.
Abaixo segue um exemplo deste tipo de argumento cada vez mais comum nos debates políticos: (Foto: Reprodução/ Facebook)
Primeiro aconteceu com os blogs progressistas. Depois com os artistas
que se manifestaram contra o golpe. E ontem vi muitas pessoas acusando
Joanna Maranhão de receber algum tipo 'mamata' ou vantagem com dinheiro
público, seja lá o que isto signifique. E a culpa é do PT, claro.
Me espanta o nível de alienação e psicopatia na rede.
Se o Estado não deve financiar a imprensa alternativa, a cultura e o
esporte, deve financiar o que afinal? O que sugerem os anti-petistas
raivosos? Que o Estado continue a distribuir dinheiro somente para os
mais ricos, através dos juros mais altos do mundo?
Abaixo a entrevista completa com a mãe de Joanna Maranhã, no Uol.
***
Mãe de Joanna fica indignada com ataques à filha: “Um país de psicopatas”
Por Roberto Salim, do UOL
A doutora Terezinha Maranhão é geriatra. Está acostumada a atender
velhinhos com problemas inevitáveis na vida de qualquer um. É uma médica
dedicada, uma pessoa paciente e uma mãe que se levantava todo dia às
quatro da manhã para levar sua filha aos treinamentos de natação, em
Recife. A doutora dormia dentro de seu fusquinha, esperava o fim do
treino, dava o lanche para pequena Joanna e a levava para a escola. Só
depois disso ia para seu consultório na capital pernambucana.
“Criei meus filhos para ter opinião, pois a vida perde o sentido se o ser humano não for autêntico”.
Por ter educado Joanna Maranhão dentro desses princípios, a médica
não se conformava nesta terça-feira com as ofensas recebidas pela filha
nas redes sociais.
“Este é um país de psicopatas, país de doidos, que confundem
religião, política e esporte. Minha filha tem opiniões próprias, mas não
merece ser ofendida e atacada como foi”.
A doutora disse que Joanna não dormiu direito, ficou abalada, mesmo sendo forte.
“Foram ofensas pessoais que mexeram com ela. E é óbvio que ela não
rendeu o melhor que podia na piscina, se tivesse repetido seu melhor
desempenho teria passado às finais”.
Em sua família, doutora Terezinha foi criada para ser guerreira. Um
dos ensinamentos da infância: a vida segue, seja qual for a dificuldade.
“E é vida que segue, às vezes se paga um preço alto por ser autêntico, mas faz parte”.
Ela volta para seus pacientes nesta quarta-feira. Joanna fica no Rio
até dia 14, acompanhando o judoca Luciano Correa, seu namorado, que está
comentando os jogos por uma emissora de TV.
“Se a Confederação de Desportos Aquáticos ou o Comitê Olímpico
Brasileiro vão tomar alguma atitude? Eu não acredito. Eles nunca fizeram
nada pela minha filha, não vai ser agora que vão agir”.
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