7.21.2017

A polêmica crítica de Lula às “frescuras do Psol”


Por Juliano Medeiros
Em entrevista concedida ao jornalista José Trajano, na tarde desta quinta-feira, Lula afirmou, sobre o PSOL:

“(...) a única coisa que e desejo é que eles ganhem alguma coisa, eu quero que eles governem a cidade do Rio de Janeiro. Quando eles governarem a cidade do Rio do Janeiro, metade da frescura deles vai acabar. Eles vão perceber que não dá pra gente nadar teoricamente. Você não pode ficar na beira da praia falando 'você dê uma braçada pra cá, uma braçada pra lá, levanta a cabeça...'. Entra na água e vai nadar, pô! Então eu quero que eles governem uma cidade. Depois que eles governarem uma cidade eles vão compreender que nem o Sarney, quando foi em 2006 [1986], que elegeu 323 deputados constituintes e 23 governadores, conseguiu governar”. E conclui afirmando que: “O problema é o seguinte: eles 'se acham'. Sabe aquele cara que levanta de manhã, vai no espelho e fala, 'espelho, espelho meu: tem alguém mais fodido que eu? Tem alguém mais sério do que eu? Tem alguém mais honesto que eu, mais bonito que eu, mais sabido que eu?”

Lula expressa uma opinião sobre o PSOL que revela sua forma de ver a política como um todo. É claro que somos um partido que ainda precisa amadurecer em vários aspectos. Nos falta um programa que responda adequadamente aos efeitos da crise capitalista no Brasil, nossa inserção no movimento de massas está aquém do que seria o necessário para fazer avançar uma proposta radical nos dias de hoje, e ainda temos, em nossas fileiras, posições esquerdistas que, embora minoritárias, às vezes atrapalham uma leitura adequada do quadro político. Só um partido “que se acha” não admitiria essas limitações.

Mas chama a atenção que Lula, em meio à maior ofensiva contra ele de todos os tempos, opte por caraterizar o PSOL por aquilo que ele considera seus “defeitos”. Logo o PSOL que, na semana passada, se manifestou em nota oficial contra sua condenação. Claro que não o fizemos esperando qualquer forma de reconhecimento. Mas ainda assim, é curiosa a forma como Lula nos vê: para ele, o ato de governar vai “amansar” o PSOL, um partido rebelde porque infantil. Esse seria o destino inexorável. Assim, ao se impor, a realidade mostraria a esses sonhadores que governar impõe escolhas difíceis e alianças inescapáveis. Foi esse horizonte rebaixado, essa esperança sequestrada, essa ausência de coragem, que levaram o lulismo aos dilemas que ele hoje enfrenta.

Lula esquece que temos no PSOL pessoas como Luiza Erundina e Edmilson Rodrigues, que governaram São Paulo e Belém sem maioria parlamentar nas respectivas câmaras municipais e sem alianças com partidos da ordem. Esquece que temos quadros com quatro décadas de militância política pela esquerda, incluindo pessoas que colaboraram nas gestões petistas nos anos 1990 e 2000. Esquece – ou desconhece – que já governamos nossas próprias administrações municipais com êxito. Esquece que o partido apoiou as candidaturas petistas no segundo turno das eleições presidenciais toda vez que estava em jogo a possibilidade de retorno do tucanato ao governo federal. Enfim, o PSOL não espera inventar a roda: quer aprender com os erros e acertos do passado para colaborar no processo de reorganização da esquerda e reconstruir um projeto socialista para o Brasil. Lula pode achar isso uma "viagem". Mas para nós, é a razão de existirmos.

Precisamos de uma esquerda programática sem ser dogmática; radical sem ser sectária; plural e ao mesmo tempo com a capacidade de ser o projeto dos que vivem do trabalho e se levantam contra os monopólios e o imperialismo, das minorias e das maiorias excluídas. Lula não quer representar esse projeto. É um direito seu. Mas, de nossa parte, buscaremos contribuir para um novo ciclo na esquerda sob esses alicerces. E para isso nosso caminho seguirá outras sendas que não aquelas que levaram à trágica deposição de uma presidente honesta pelos partidos que compunham sua aliança.

Como disse um companheiro do PSOL: Lula perdeu uma ótima oportunidade de exercitar a humildade e a autocrítica. Atacar a esquerda, na linha da estigmatização, é a forma mais descarada de fazer o serviço para a direita, essa mesma que está no ataque ao que simbolicamente Lula ainda representa para uma parcela do povo brasileiro.

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