Estratégias de combate ao bullying podem ser adotadas desde a educação infantil até o ensino médio em escolas do Brasil. O objetivo é incentivar que as crianças e jovens falem sobre seus sentimentos, denunciem práticas abusivas e desenvolvam noções de tolerância.
Na sexta-feira (20), alunos do Colégio Goyases, em Goiânia, associaram o assassinato de dois estudantes ao bullying sofrido pelo agressor.
O que está sendo feito para cumprir o artigo 5º da lei 13.185, que obriga escolas e clubes a adotarem medidas de prevenção e combate ao bullying.
O que está sendo feito para cumprir o artigo 5º da lei 13.185, que obriga escolas e clubes a adotarem medidas de prevenção e combate ao bullying.
Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying). - Lei nº13.185
Abaixo, veja as inciativas dos colégios:
Capacitação de professores e dos pais
Na Coleguium Rede de Ensino, formada por 16 escolas em Belo Horizonte, o
número de casos de bullying chamou a atenção da diretoria. “Existe uma
grande agitação em torno desse tema e isso gera histeria, mas falta
informação clara e precisa”, diz a professora Juliana Tauil, responsável
pelo projeto.
O primeiro passo foi investir em um programa de formação de toda a
comunidade escolar: pais, professores e coordenadores. Os funcionários
fazem um curso para aprender o que é bullying e não confundi-lo com
brigas conflitos momentâneos. E as famílias dos alunos participam de um
ciclo de palestras para saber como detectar os sintomas do problema.
“É algo muito difícil de ser observado pelos adultos, porque a vítima tenta esconder o que passa. Cabe à escola explicar aos pais como identificar os primeiros sinais, antes que o bullying tome maiores proporções.” - Juliana Tauil, professora da Coleguium Rede de Ensino
Ajuda de alunos para identificar vítimas
No Colégio Bandeirantes, em São Paulo, alguns alunos do 6º ao 9º ano do
ensino fundamental são escolhidos e formados para compor o que eles
chamam de "equipe de ajuda". Uma das missões é ajudar a perceber os
estudantes mais isolados nos intervalos e que não participam das
atividades para tentar fazer com que se enturmem. As "equipes de ajuda"
também encaminham casos considerados mais problemáticos.
Além disso, o colégio desenvolve a prevenção do bullying abordando o
tema em rodas de diálogo que ocorrem a cada bimestre. As pautas dos
encontros são sugestões dos próprios jovens, sempre relacionadas à
convivência escolar. Se, ainda assim, ocorrer um caso de violência, a
escola promove uma mediação entre o agressor e a vítima, envolvendo as
respectivas famílias.
Maria Estela Benedetti Zanini, coordenadora de aulas de Convivência em
Processo de Grupo (CPG), diz que os casos de bullying são raros no
colégio, porque as rodas de conversa dão conta de resolver os conflitos
antes que eles tomem maiores proporções.
“O conflito é inerente à idade, o problema é lidar com ele para não se transformar em algo repetitivo. Por que o aluno que pratica bullying precisa diminuir o outro para se sobressair? É necessário trabalhar o indivíduo. Buscamos sempre o caminho do diálogo.” - Maria Estela Benedetti Zanini
Proximidade com a coordenação
A proximidade das autoridades pedagógicas com os alunos é outra forma
de tentar prevenir o bullying. No Colégio Salesiano Santa Teresinha,
instituição privada e católica na zona norte de São Paulo, a coordenação
detecta quem são os líderes das turmas para torná-los fontes de
informação sobre o que ocorre em sala de aula.
“Temos também auxiliares que estão sempre no pátio da escola. Eles
podem observar os alunos que estão mais quietos ou isolados”, afirma
Luciano de Castro, coordenador pedagógico do ensino médio. “Quando
descobrimos algum caso, conversamos com os alunos e chamamos os pais. Se
está em um estágio mais evoluído, sugerimos que as famílias procurem
ajuda profissional”, completa.
Cultura a favor do respeito
No Colégio Rio Branco, instituição privada de São Paulo, os alunos da
educação infantil e do ensino fundamental I são estimulados a entrar em
contato com os próprios sentimentos por meio da literatura infantil. As
crianças participam de rodas de conversa para debater sobre conflitos e
refletir sobre as histórias.
“A escola deve propiciar espaços em que crianças, desde cedo, tomem
contato com suas próprias emoções, entendendo, inclusive, que não é
preciso gostar do amigo e nem concordar com ele, mas, sim, respeitá-lo”,
diz a diretora-geral Esther Carvalho.
Literatura
Uma das estratégias comuns a quase todas as escolas é buscar apoio de
livros de literatura ou paradidáticos para abordar o tema. A tolerância
pode ser trabalhada desde com ajuda dos contos de fadas ou fábulas, como
com obras produzidas diretamente com esse intuito.
Rima Awada, uma das autoras de "Palavras que voam", usou a história de
uma menina para fazer o alerta sobre o bullying na rede virtual.
"Fizemos palestras em várias instituições", conta.
"A literatura é um caminho. A gente consegue acessar o imaginário (da criança) e ela consegue se colocar no lugar do outro quando ela se identifica com o personagem." - Rima Awada, escritora
Além da literatura, outra forma de arte também é empregada.
Especificamente no Rio Branco, no ensino fundamental II e no ensino
médio, o recurso cultural a ser utilizado será a peça teatral: nos dias
11 e 18 de novembro, os estudantes discutirão com os professores sobre a
peça “O alvo”, de Pedro Garrafa, vencedor do Prêmio São Paulo de
Incentivo ao Teatro para Crianças e Jovens em 2015.
A história narra um episódio de bullying em um colégio de classe média
alta em São Paulo: um grupo de meninas faz com que uma garota, vítima da
violência psicológica, role escada abaixo e vá para o hospital em
estado grave.
Alunos responsáveis pelos mais novos
No colégio Mopi, no Rio de Janeiro, a psicopedagoga Lygia Miracy Coelho
conta que uma das estratégias para trabalhar o bullying é usar o tema
nas chamadas "aulas de qualidade de vida" junto com aos alunos do 5º
ano. Eles participam de debates com as professoras, depois pesquisam e
fazem apresentações de slides e roda de conversa com os alunos mais
novos do 2º, 3º e 4º ano.
"A gente acredita piamente em um trabalho educativo: informação e estudo para depois multiplicar com os menores, em uma linguagem em que eles entendem." - Lygia Miracy Coelho, do colégio Mopi
"O trabalho tem que ser preventivo e educativo", afirma Lygia.
Produção de vídeos
Também no Colégio Rio Branco, os alunos do 8º ano fazem parte do
projeto “Stop Motion... Ops...Stop Bullying”. Eles assistem, pela
internet, a vídeos que relatam episódios de cyberbullying. Depois,
debatem sobre o assunto em sala de aula e inventam uma história sobre o
assunto.
A narrativa é apresentada em formato de roteiro para filme: os
adolescentes escrevem o script e gravam vídeos. O resultado é
apresentado nas aulas de tecnologia, com discussões sobre cada trabalho.
“Eles podem exteriorizar suas opiniões, traumas e sentimentos”, diz a
diretora do Rio Branco.
Religião
O Colégio Salesiano, católico, afirma que usa o sistema preventivo de
Dom Bosco para estimular a criação de uma relação de confiança entre
alunos e direção.
“Faz parte do processo educativo a presença da equipe de pastoral. Nós
acreditamos no protagonismo do jovem e nas relações sociais”, afirma o
coordenador do ensino médio. “Temos a preocupação de trabalhar dentro da
rotina escolar valores e atitudes que formem cidadãos honestos e
cristãos.”
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