10.24.2017

Não ao bullying


Estratégias de combate ao bullying podem ser adotadas desde a educação infantil até o ensino médio em escolas do Brasil. O objetivo é incentivar que as crianças e jovens falem sobre seus sentimentos, denunciem práticas abusivas e desenvolvam noções de tolerância.

Na sexta-feira (20), alunos do Colégio Goyases, em Goiânia, associaram o assassinato de dois estudantes ao bullying sofrido pelo agressor.  
O que está sendo feito para cumprir o artigo 5º da lei 13.185, que obriga escolas e clubes a adotarem medidas de prevenção e combate ao bullying.

Art. 5º É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying). - Lei nº13.185


Abaixo, veja as inciativas dos colégios:

Capacitação de professores e dos pais

Na Coleguium Rede de Ensino, formada por 16 escolas em Belo Horizonte, o número de casos de bullying chamou a atenção da diretoria. “Existe uma grande agitação em torno desse tema e isso gera histeria, mas falta informação clara e precisa”, diz a professora Juliana Tauil, responsável pelo projeto.

O primeiro passo foi investir em um programa de formação de toda a comunidade escolar: pais, professores e coordenadores. Os funcionários fazem um curso para aprender o que é bullying e não confundi-lo com brigas conflitos momentâneos. E as famílias dos alunos participam de um ciclo de palestras para saber como detectar os sintomas do problema.


“É algo muito difícil de ser observado pelos adultos, porque a vítima tenta esconder o que passa. Cabe à escola explicar aos pais como identificar os primeiros sinais, antes que o bullying tome maiores proporções.” - Juliana Tauil, professora da Coleguium Rede de Ensino
Cartaz de projeto contra o bullying do Coleguium Rede de Ensino (Foto: Divulgação)
Cartaz de projeto contra o bullying do Coleguium Rede de Ensino (Foto: Divulgação)

Ajuda de alunos para identificar vítimas


No Colégio Bandeirantes, em São Paulo, alguns alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental são escolhidos e formados para compor o que eles chamam de "equipe de ajuda". Uma das missões é ajudar a perceber os estudantes mais isolados nos intervalos e que não participam das atividades para tentar fazer com que se enturmem. As "equipes de ajuda" também encaminham casos considerados mais problemáticos.

Além disso, o colégio desenvolve a prevenção do bullying abordando o tema em rodas de diálogo que ocorrem a cada bimestre. As pautas dos encontros são sugestões dos próprios jovens, sempre relacionadas à convivência escolar. Se, ainda assim, ocorrer um caso de violência, a escola promove uma mediação entre o agressor e a vítima, envolvendo as respectivas famílias.

Maria Estela Benedetti Zanini, coordenadora de aulas de Convivência em Processo de Grupo (CPG), diz que os casos de bullying são raros no colégio, porque as rodas de conversa dão conta de resolver os conflitos antes que eles tomem maiores proporções.

“O conflito é inerente à idade, o problema é lidar com ele para não se transformar em algo repetitivo. Por que o aluno que pratica bullying precisa diminuir o outro para se sobressair? É necessário trabalhar o indivíduo. Buscamos sempre o caminho do diálogo.” - Maria Estela Benedetti Zanini

Proximidade com a coordenação


A proximidade das autoridades pedagógicas com os alunos é outra forma de tentar prevenir o bullying. No Colégio Salesiano Santa Teresinha, instituição privada e católica na zona norte de São Paulo, a coordenação detecta quem são os líderes das turmas para torná-los fontes de informação sobre o que ocorre em sala de aula.

“Temos também auxiliares que estão sempre no pátio da escola. Eles podem observar os alunos que estão mais quietos ou isolados”, afirma Luciano de Castro, coordenador pedagógico do ensino médio. “Quando descobrimos algum caso, conversamos com os alunos e chamamos os pais. Se está em um estágio mais evoluído, sugerimos que as famílias procurem ajuda profissional”, completa.

Cultura a favor do respeito


No Colégio Rio Branco, instituição privada de São Paulo, os alunos da educação infantil e do ensino fundamental I são estimulados a entrar em contato com os próprios sentimentos por meio da literatura infantil. As crianças participam de rodas de conversa para debater sobre conflitos e refletir sobre as histórias.

“A escola deve propiciar espaços em que crianças, desde cedo, tomem contato com suas próprias emoções, entendendo, inclusive, que não é preciso gostar do amigo e nem concordar com ele, mas, sim, respeitá-lo”, diz a diretora-geral Esther Carvalho.

Literatura


Uma das estratégias comuns a quase todas as escolas é buscar apoio de livros de literatura ou paradidáticos para abordar o tema. A tolerância pode ser trabalhada desde com ajuda dos contos de fadas ou fábulas, como com obras produzidas diretamente com esse intuito.

Rima Awada, uma das autoras de "Palavras que voam", usou a história de uma menina para fazer o alerta sobre o bullying na rede virtual. "Fizemos palestras em várias instituições", conta.

"A literatura é um caminho. A gente consegue acessar o imaginário (da criança) e ela consegue se colocar no lugar do outro quando ela se identifica com o personagem." - Rima Awada, escritora

Página do livros
Página do livros "Palavras que voam", da Editora do Brasil, que integra a Coleção Crianças na Rede. Série trata de questões da "geração milênio". (Foto: Reprodução)

Além da literatura, outra forma de arte também é empregada. Especificamente no Rio Branco, no ensino fundamental II e no ensino médio, o recurso cultural a ser utilizado será a peça teatral: nos dias 11 e 18 de novembro, os estudantes discutirão com os professores sobre a peça “O alvo”, de Pedro Garrafa, vencedor do Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro para Crianças e Jovens em 2015.

A história narra um episódio de bullying em um colégio de classe média alta em São Paulo: um grupo de meninas faz com que uma garota, vítima da violência psicológica, role escada abaixo e vá para o hospital em estado grave.

Alunos responsáveis pelos mais novos


No colégio Mopi, no Rio de Janeiro, a psicopedagoga Lygia Miracy Coelho conta que uma das estratégias para trabalhar o bullying é usar o tema nas chamadas "aulas de qualidade de vida" junto com aos alunos do 5º ano. Eles participam de debates com as professoras, depois pesquisam e fazem apresentações de slides e roda de conversa com os alunos mais novos do 2º, 3º e 4º ano.

"A gente acredita piamente em um trabalho educativo: informação e estudo para depois multiplicar com os menores, em uma linguagem em que eles entendem." - Lygia Miracy Coelho, do colégio Mopi

"O trabalho tem que ser preventivo e educativo", afirma Lygia.

Produção de vídeos


Também no Colégio Rio Branco, os alunos do 8º ano fazem parte do projeto “Stop Motion... Ops...Stop Bullying”. Eles assistem, pela internet, a vídeos que relatam episódios de cyberbullying. Depois, debatem sobre o assunto em sala de aula e inventam uma história sobre o assunto.

A narrativa é apresentada em formato de roteiro para filme: os adolescentes escrevem o script e gravam vídeos. O resultado é apresentado nas aulas de tecnologia, com discussões sobre cada trabalho. “Eles podem exteriorizar suas opiniões, traumas e sentimentos”, diz a diretora do Rio Branco.

Religião


O Colégio Salesiano, católico, afirma que usa o sistema preventivo de Dom Bosco para estimular a criação de uma relação de confiança entre alunos e direção.

“Faz parte do processo educativo a presença da equipe de pastoral. Nós acreditamos no protagonismo do jovem e nas relações sociais”, afirma o coordenador do ensino médio. “Temos a preocupação de trabalhar dentro da rotina escolar valores e atitudes que formem cidadãos honestos e cristãos.”

Página do livro




Nenhum comentário: