8.25.2009

Morte de Michael Jackson mostra perigo de usar remédios por conta própria



Propofol só é vendido no Brasil para uso hospitalar.

Droga causa parada respiratória e uso requer infraestrutura.

Jackson em show na Califírnia, em 2002. (Foto: AFP)Os remédios encontrados no corpo do cantor Michael Jackson são de uso controlado no Brasil, segundo anestesiologistas ouvidos pelo G1. O propofol, usado em anestesias gerais, só pode ser vendido para uso hospitalar. O midazolam, o lorazepam e o diazepam são vendidos em forma de comprimidos em farmácias, mas são tarja preta. A combinação dos remédios é extremamente perigosa. Os médicos afirmam que a morte do cantor é um alerta contra o uso dessas medicações fora do ambiente hospitalar.


O médico do cantor americano, Conrad Murray, contou à polícia que Jackson estava viciado em propofol para dormir. “O propofol é o remédio mais aplicado para indução e manutenção de anestesias gerais”, explica o anestesiologista Alexandre Slullitel, diretor-científico da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo.


A medicação induz a um sono de hipnose por cerca de cinco a dez minutos. Ela é usada como anestésico porque não causa mal estar e também atua como relaxante muscular e como um leve analgésico. Durante cirurgias, o remédio é administrado continuamente para manter o paciente apagado pelo tempo que for necessário.

--------------------------------------------------------------------------------
O principal risco do propofol é que ele causa uma curta parada respiratória, explica o anestesiologista Irimar de Paula Posso, do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Assim que você administra o propofol, a pressão da pessoa cai e ela para de respirar por alguns segundos”, afirma o médico.


“Por isso, sua aplicação tem sempre que ser acompanhada. Eu uso propofol todos os dias, em todas as cirurgias, é perfeitamente seguro. Mas eu estou o tempo todo monitorando o paciente e com um equipamento do lado, para poder reanimá-lo caso ele pare de respirar por mais tempo”, afirma Posso.


Alexandre Slullitel afirma o mesmo. “Em um ambiente controlado, não há risco nenhum. Mas esse não é um remédio para ser usado em casa. Uma reação comum dele pode ser fatal se o profissional não tiver a infraestrutura de um hospital”, explica.


O médico de Jackson disse que tentou controlar o vício do cantor ao misturar o propofol com lorazepam e midazolam. Para Posso, isso foi um erro grave.

“O midazolam e o lorazepam aumentam o efeito do propofol. Você usa doses menores, por que ele fica mais forte. Isso é feito em hospitais, por que hospitais são ambientes controlados. Em casa, o risco é imenso. Isso foi claramente feito por alguém que não sabia o que estava fazendo”, afirma Posso.

No dia da morte de Jackson, Conrad Murray diz ter tentado colocá-lo para dormir sem o propofol. Para isso, usou diazepam. Sem sucesso, tentou o lorazepam meia hora depois. Como Michael ainda estava acordado, Murray aplicou midazolam. Como todos os remédios não conseguiam adormecer o astro e como Jackson, segundo ele, teria pedido a droga várias vezes, o médico teria finalmente ministrado 25 miligramas de propofol. Assim que o cantor dormiu, o médico deixou o quarto.

Segundo Posso, essa foi uma sucessão de erros fatal. “O midazolam, o lorazepam e o diazepam são todos fármacos parecidos, que induzem o sono e causam amnésia. O midazolam é uma medicação de curta duração, usada para sedação, por que seu efeito dura cerca de uma hora e meia, duas horas. O lorazepam é de longa duração, demora de 12 a 18 horas. O diazepam é intermediário, seda por cerca de seis horas”, explica o médico. “Os três também fortalecem a ação do propofol”, explica o médico.

Ao deixar Jackson sozinho, Murray também não teria como detectar uma parada respiratória até ser tarde demais. “O uso do propofol precisa ser acompanhado o tempo todo”, afirma. Para o anestesiologista, Jackson não deveria nem ter começado a tomar o propofol em casa. “Aplicar um remédio desse tipo para dormir é extremamente antiético”, diz ele.

Para Slullitel, o caso de Jackson foi excepcional. “É um caso extremo, onde tudo aconteceu muito errado”, afirma. Mas ele deve servir de alerta para quem se automedica. “Remédios são coisas muito perigosas quando usados sem orientação. Principalmente a combinação de remédios. Só um médico especializado sabe como uma certa medicação vai interagir com a outra. As pessoas precisam saber que se têm algum problema, elas devem sempre buscar a orientação de um médico especialista em seu problema”.

G1.com

Nenhum comentário: