8.27.2009

Teste para evitar risco de surdez (‘teste da orelhinha’ )


Um teste simples feito 48 horas após o nascimento do bebê pode detectar se o recém-nascido tem algum problema auditivo e evitar problemas na fala e no aprendizado da criança. A avaliação é rápida, indolor e importante para toda a vida da pessoa. Conhecido popularmente como teste da orelhinha, a Emissão Evocada Otoacústica existe desde os anos 90, mas até hoje poucas maternidades públicas brasileiras realizam o exame, mesmo com a vigência de leis dispondo sobre a obrigatoriedade.


Hoje, cerca de 150 locais em 19 estados realizam a triagem auditiva. O problema é que, dessas unidades, só 20 são maternidades públicas. “É possível que algum hospital dos 90 pronto- atendimentos da rede pública realize o exame de emissão acústica, mas nosso sistema de informação não separa por idade”, afirma a diretora do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, Teresa Campos.
Segundo a fonoaudióloga Vanessa Furtado, doutora em teste da orelhinha, dez municípios têm legislação obrigando a realização do teste, mas a lei se restringe ao papel. “Falta iniciativa política”, afirma. A média brasileira de diagnóstico de surdez está em torno dos três a quatro anos de idade. O que é tarde, se for levado em consideração que uma criança com problemas auditivos deve começar a utilizar o aparelho de correção até os seis meses para não ter nenhum comprometimento depois. “Sem áudio, a criança apresenta déficit cognitivo irreparável”, explica a fonoaudióloga.
Segundo Vanessa, apesar do aparelho de prótese ser importado e sair por R$ 32 mil, o custo- benefício sai mais em conta. “O custo da educação de uma criança em escola especial é três vezes maior que os gastos em uma escola regular, mesmo com apoio especializado”.
Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que 10% da população mundial apresentam algum problema auditivo. No Brasil, estima-se que existam cerca de 15 milhões de pessoas com algum tipo de perda auditiva. No Censo de 2000, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 3,3% da população responderam ter algum problema auditivo. Aproximadamente 1% declarou ser incapaz de ouvir.
Os profissionais de fonoaudiologia devem entregar, ainda este mês, um documento ao Ministério da Saúde pedindo atenção à área. Em setembro do ano passado, o Ministério criou a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. A meta é fechar o ano cobrindo a realização do exame de triagem em pelo menos 126 pontos distribuídos em todos os estados.
O exame é tão ou mais importante do que o conhecido teste do pezinho. O teste da orelhinha deve ser realizado até o terceiro mês de vida. É nesse período que o bebê começa a captar os estímulos sensoriais sonoros que ajudam no processo da fala e na aprendizagem. A incidência de perda auditiva é estimada de um a três de cada mil nascimentos saudáveis. Comparativamente, o teste do pezinho tem uma alteração menor, de um em cada dez mil nascimentos.
Quando se constata a deficiência auditiva, é necessário fazer outros exames para saber qual o grau dessa perda e o tratamento mais adequado. Para os bebês internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), o teste é realizado na própria unidade, evitando deslocamento do recém-nascido. Não existe medicamento para o problema, por isso é necessário a prótese.
O ouvido humano é um órgão que distingue 400 mil sons. Segundo a fonoaudióloga Ieda Chaves Pacheco Russo, diretora da Academia Brasileira de Audiologia, é pelo ouvido que se adquire e mantém o sistema estruturado na linguagem. “Hoje, as maternidades colocam à disposição o serviço e as mães pagam pelo teste. O ideal é que o exame fosse obrigatório e gratuito”, defende.

Desconhecimento
A avaliação está prevista na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) e quase todos os planos de saúde cobrem. O preço pago está por volta de R$ 70,00. Foi o valor que a universitária Juliana dos Santos Damasceno, 23 anos, teve que desembolsar para saber se o filho de 26 dias apresentava alguma deficiência auditiva. Felipe Damasceno nasceu na maternidade do Hospital Regional da Asa Sul no último dia 14 de maio, mas Juliana pagou pelo teste em um hospital particular de Brasília.
Juliana conta que fez mais de dez consultas de pré-natal, mas nenhum médico falou sobre a existência do teste da orelhinha. A universitária soube do teste por meio de uma amiga que teve filho em um hospital privado, onde o exame é oferecido. “Fiz nove consultas em uma clínica particular e três em hospitais públicos. Ninguém me orientou”, diz.
A recomendação do teste da orelhinha não é nova. Em 1999, o Comitê Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (Cbpai), formado por profissionais da área, reivindicou ao governo a implantação da triagem auditiva neonatal no Brasil. As capitais Florianópolis (SC), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) têm legislação prevendo o teste da orelhinha. Em São Paulo, além da capital, o teste é lei nos municípios de Jaú, Itapeva e Campinas. No Rio de Janeiro, há lei na capital e no município de Duque de Caxias.

Sem áudio, a criança apresenta déficit cognitivo irreparável

Vanessa Furtado, fonoaudióloga


Hoje, as maternidades colocam à disposição o serviço e as mães pagam pelo teste. O ideal é que o exame fosse obrigatório e gratuito


Ieda Chaves Pacheco Russo, diretora da Academia Brasileira de Audiologia

O número
10%
da população mundial apresentam algum problema auditivo

Um hospital atende no DF

No Distrito Federal, o teste da orelhinha é obrigatório. A previsão está na Lei Distrital 2.794/2001 e todos os hospitais da rede pública e privada deveriam oferecer o exame desde outubro de 2002. Apesar da obrigatoriedade, o exame só está disponível no Hospital Universitário de Brasília (HUB) e apenas para os bebês nascidos lá ou vindos de hospitais ou clínicas particulares.

No HUB são feitos cerca de 200 exames mensais e 90% dos recém-nascidos não apresentam problema. “Há três anos, atendíamos os bebês nascidos em outros hospitais, mas não temos fonoaudiólogos e equipamentos suficientes para a quantidade de crianças nascidas no DF”, afirma a fonoaudióloga Nilda Maia, responsável pelo teste no HUB.

Segundo a especialista, o hospital dispõe de apenas dois profissionais e um aparelho para atendimento. “O Governo do Distrito Federal (GDF) deveria disponibilizar pelo menos três unidades para realizar o teste”, reclama Maia.
A estudante Ana Gabriela Araújo Dias é um exemplo do descaso do teste da orelhinha no DF. Há dois meses, ela deu à luz Anna Giulia no Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) e saiu da maternidade sem saber da existência do teste. “Minha mãe trabalha para uma médica que perguntou se eu tinha feito o exame”, diz. Moradora do Valparaíso I (GO), Gabriela Dias voltou ao HRAS e soube que o hospital não aplica o teste. “Fiz seis consultas pré-natais. Fiquei sabendo só do teste do pezinho”, conta. Sem condições de pagar R$ 70,00 pelo procedimento, ganhou o exame da patroa da mãe.

A Secretaria de Saúde do DF reconhece que o GDF não priorizou o assunto. O secretário-adjunto, Mário Sérgio Nunes, disse que há pedido da Coordenadoria de Saúde Neonatal para oferecer o teste em maternidades da rede pública do DF. No entanto, Sérgio não soube informar qual a previsão para a chegada dos equipamentos. O subsecretário de Atenção à Saúde, Evandro Oliveira da Silva, também evita falar em prazos para a implantação do sistema. O primeiro hospital a ser beneficiado seria o Hospital Regional da Asa Sul (HRAS).

Não foi só o GDF que deixou a lei cair no esquecimento. A deputada distrital Anilcéia Machado, autora da lei junto com os então deputados distritais Gim Argelo (PMDB), Sílvio Linhares e Wasny de Roure (PT), desconhecia a não-aplicação do teste no DF. “Vou trabalhar junto ao governo para o cumprimento da lei”, promete. (HB)

Fonte: http://www.forum.direitos.org.br/?q=node/view/3432


Teste para evitar risco de surdez
Projeto nas mãos do prefeito Eduardo Paes propõe tornar ‘teste da orelhinha’ obrigatório na rede pública municipal

Rio - Fundamental para detectar problemas auditivos em recém-nascidos, o ‘teste da orelhinha’ pode se tornar obrigatório no Município do Rio. Projeto do vereador Bencardino (PRTB), aprovado dia 18 em segunda instância na Câmara, prevê que o exame seja feito em maternidades e hospitais municipais onde for realizado o parto. O projeto deve ser enviado esta semana para o prefeito Eduardo Paes. Assim que receber, Paes terá 13 dias para sancionar ou não.

Segundo Bencardino, estudo feito pela prefeitura aponta que uma das principais causas de reprovação escolar são os problemas auditivos. Com o projeto, o vereador pretende diagnosticar precocemente o mal e evitar que as crianças tenham problema na fala. Bebês com dificuldade de audição que recebam tratamento até os seis meses de idade conseguem desenvolver linguagem muito próxima a de uma criança ouvinte.

“O objetivo é que o bebê só saia da maternidade com o exame feito, assim como ocorre com o teste do pezinho. Se for aprovado, o projeto não vai ficar caro para os hospitais aderirem. É melhor resolver o problema logo no início, para não ficar mais caro depois”, disse.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, a cada 10 mil bebês, 30 têm perda auditiva. No Brasil, em cada grupo de mil nascidos, um é surdo e entre dois a seis bebês nascem com problemas auditivos. De acordo com Cláudio Coelho, membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, o teste da orelhinha (emissão otoacústicas) é indolor e é feito com o bebê dormindo. Ele explica que o grau de audição é medido através de um fone que emite sons fracos e depois recolhe as respostas que a orelha do bebê produz.

“O teste da orelhinha pode descobrir no primeiro dia de vida se a criança apresenta algum problema auditivo. Se o exame for feito precocemente, possibilita uma maior reabilitação. Se o resultado do primeiro teste não for satisfatório, o exame pode ser repetido de 15 a 30 dias após o primeiro”, explica o especialista.

O Dia

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