9.01.2009

Alerta: Resistência aos medicamentos




O director regional da OMS para África, Luís Gomes Sambo, alertou para o desenvolvimento generalizado da resistência aos medicamentos contra o VIH/Sida, Tuberculose (TB) e paludismo e propos medidas concretas para enfrentar esta ameaça emergente em saúde pública na região.

O alerta foi lançado hoje, terça-feira, em Kigali, durante a discussão do relatório do subcomité de programa da OMS/AFRO, em que ele afirmou a necessidade de se abordar este problema antes que a situação fique fora do controlo.

Para o director regional, a resistência aos medicamentos para combater estas três doenças deve-se a diversos factores, incluindo os desafios que os sistemas de saúde relativos ao acesso limitado aos serviços de saúde, aos fracos sistemas de aquisição e de gestão do aprovisionamento, infraestruturas laboratoriais inadequadas e restrições logísticas e de recursos humanos.

A resistência aos medicamntos contra o VIH/Sida, Luis Sambo declarou que é esperada mesmo entre os indivíduos que recebem tratamento adequado e que cumprem o regime terapêutico, em virtude destes doentes necessitarem de tratamento antiretroviral para toda a vida e devido a elevada taxa de replicação e mutação do VIH.

Explicou que os casos de tuberculose multiresistente e de TB ultraresistente aos farmacos estão a aumentar, principalmente por causa dos regimes terapêuticos mal administrados.

Quanto ao paludismo, acrescentou que a resistência generalizada a cloroquina e a sulfadoxina-primetanina levou a uma mudança na política de tratamento para a associação terapêutica com base na artemisina, aconselhando a necessidade de assegurar o uso prudente para evitar resistências.
Em prol desta situação, o director regional recomenda que os estados membros deverão desenvolver a capacidade de recursos humanos para prevenção e gestão da resistência aos medicamentos, reforçar as redes laboratoriais de saúde, estabelecer e manter redes sub-regionais para monitorização da resistência aos farmacos.

Propõe o reforço dos mecanismos de aquisição e aprovisionamento de medicamentos contra o VIH/Sida, TB e paludismo, criação de sistemas de monitorização da eficácia e da resistência aos medicamentos, implementação de medidas administrativas, ambientais e de protecção pessoal e controlo das infecções para Tb multi e ultraresistentes.


Advogar em prol da investigação e do desenvolvimento de novos instrumentos de diagnóstico e medicamentos e mobilizar recursos financeiros para apoiar a implementação de medidas contra a resistência aos medicamentos, no contexto do reforço dos sistemas de saúde são outras recomendações de Luís Gomes Sambo.

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Uso excessivo de antibiótico cria resistência no organismo

Rio - Apesar de ainda ser um dos medicamentos mais eficaz no combate à infecções, a banalização do uso de antibióticos tem levado pediatras a recorrer a diagnósticos mais precisos porque as crianças estão criando resistência ao medicamento. Uma recente descoberta de especialistas britânicos apontou que o uso prolongado de antibióticos em prematuros estaria causando também surdez. Trata-se dos chamados antibióticos aminoglicosídeos usados para tratar certas infecções, mas pode afetar funções renais e o sistema auditivo da criança.

“Se usado em altas doses e por muito tempo, o antibiótico pode não fazer mais efeito nas crianças. Além disso, grande parte dos problemas freqüentes em crianças é causada por vírus, e muitas vezes, os pais dão antibiótico para os filhos sem necessidade. Em longo prazo, este remédio perde a funcionalidade para a criança, sendo necessário algum medicamento ainda mais forte”, alerta a pediatra Maria Cristina Duarte.

Segundo o chefe da pediatria do Hospital Balbino, Antônio Carlos Turner, no Brasil a utilização excessiva em emergências de hospitais também precisa ser revista. “Para tratar as crianças, muitas vezes não há especialistas nas emergências e a solução para curar qualquer tipo de doença é o uso imediato de antibiótico, o que futuramente pode causar uma gastrite ou outras doenças renais nos menores”, afirma.

Ele aconselha que deve-se avaliar melhor se a criança está reagindo mal à infecção utilizando determinado antibiótico. “Na segunda tentativa de medicação com antibiótico sem sucesso, realizamos uma cultura de sangue ou antibiograma para avaliar qual antibiótico vai funcionar melhor no tratamento. Essa medida pode poupar gastos com cirurgias no futuro”, explica.

Fonte: Ciência e Saúde


Estudo revela prescrição e uso inadequado de antimicrobianos no Sul

Renata Moehlecke

É crescente a preocupação mundial com o uso racional de antimicrobianos. Diversos estudos têm apontado o uso inadequado desse tipo de medicamento, até mesmo em situações em que estes não se aplicam, como infecções de origem viral. Com foco nessa questão, pesquisadores das universidades Federal do Rio Grande, da Região da Campanha e do Vale do Rio dos Sinos, as três do Rio Grande do Sul, resolveram descrever o perfil de prescrição de antimicrobianos, bem como suas principais indicações clínicas, em cinco unidades básicas de Saúde da Família na cidade de Bagé, avaliando também suas diferenças sazonais.


De acordo com os pesquisadores, o uso abusivo e indiscriminado dos medicamentos antimicrobianos pode levar à emergência e ao aumento da resistência microbiana


Os resultados, publicados em artigo da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, evidenciaram a falta de um padrão de prescrição, o que contraria as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O uso abusivo e indiscriminado desses medicamentos pode levar à emergência e ao aumento da resistência microbiana”, alertam os pesquisadores. “O seu crescimento acarreta dificuldades no manejo de infecções e contribui para o aumento dos custos do sistema de saúde, pois com a ineficácia dos antimicrobianos essenciais são necessários tratamentos com novos medicamentos desse tipo, geralmente mais caros”.

Para o estudo, foram analisados 4.110 atendimentos nos meses de julho de 2005 (inverno) e janeiro de 2006 (verão), sendo a prevalência de prescrição de antimicrobianos foi de 30,4% e 21%, respectivamente. Dessas consultas, 70% apresentaram prescrições médicas com uma média de 2,9 medicamentos em cada uma, valor considerado alto pela OMS e que revela tendência a polimedicação. “Tendo em vista que, no Brasil, os medicamentos ocupam primeiro lugar entre os agentes causadores de intoxicações em seres humanos e o segundo lugar nos registros de mortes por intoxicação, e que apenas 50% dos pacientes, em média, tomam corretamente seus remédios, os problemas são agravados quanto maior for o número utilizado”, esclarecem os pesquisadores, com base em dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) da Fiocruz.

A duração dos tratamentos prescritos foi em média de 7,6 dias, sendo que em 15,6% das prescrições de antimicrobianos não foi encontrada esta informação. “Salienta-se que o uso insuficiente dos antimicrobianos devido à falta de acesso, a doses inadequadas, e não cumprimento de todo o tratamento, pode ser tão importante para a resistência bacteriana como o seu uso excessivo”, comentam os estudiosos.

A pesquisa mostrou diferenças significativas entre as coletas de dados das duas estações analisadas, sendo maior a proporção de prescrições no inverno. No inverno, a amoxicilina foi o antimicrobiano mais prescrito, estando presente em metade das prescrições do período. Em segundo lugar ficou a combinação de sulfametoxazol e de trimetropin, representando quase um quarto das prescrições em todas as faixas etárias. “A cefalexina representou 8% do total de prescrições de antimicrobianos nesse período, sendo mais prescrita entre os adultos e idosos, e o metronizadol 6% do total das prescrições, mais freqüente entre adolescentes e adultos jovens”, afirmam os pesquisadores.

Em relação ao verão, apesar de continuar sendo o antimicrobiano mais prescrito, a amoxicilina apresentou percentual um pouco menor em relação ao inverno: 30% do total de prescrições. A combinação sulfametoxazol / trimetropin também permaneceu em segundo lugar, presente em 20% das prescrições, mas menos freqüente nos grupos mais jovens em comparação com adultos e idosos. “A eritromicina foi o terceiro antimicrobiano mais prescrito no verão, tanto quanto a amoxicilina no grupo até 9 anos”, comentam os estudiosos. “A cefalexina também apresentou um aumento na proporção de prescrições em relação ao período do inverno (8% para 13%), sendo o segundo antimicrobiano mais prescrito na faixa dos 10 aos 19 anos”.

A pesquisa também apontou que as principais indicações clínicas para essas prescrições foram: infecção das vias aéreas superiores não especificadas (22,5%), amidalites (20,8%), infecções de trato urinário (13,3%), otites (8,5%) e sinusites (7,5%). “Das cinco principais indicações clínicas para a prescrição de antimicrobianos, quatro foram para tratamento de doenças do trato respiratório superior que, segundo literatura internacional, representam as mais freqüentes razões para consulta médica e estão associadas a 75% do total de prescrições desses medicamentos”, destacam os pesquisadores. “Na sua maioria, estas são de etiologia viral, e de acordo com recomendações internacionais, o uso de antimicrobianos de rotina para o seu tratamento não é indicado, ficando restritos a pacientes com suspeita confirmada de infecção bacteriana e para profilaxia, quando as conseqüências da infecção possam ser severas”.

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