1.09.2010

Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)

Omeprazol é quase tão bom quanto a cirurgia antirefluxo no tratamento da doença grave do refluxogastroesofágico, segundo artigo publicado no Clinical Gastroenterology and Hepatology
A+ A- Alterar tamanho da letra Publicado no periódico Clinical Gastroenterology and Hepatology, estudo avaliou os efeitos de longo prazo das terapias para casos mais graves de doença do refluxo gastroesofágico1 com esofagite2. Em doze anos de seguimento, foram comparados os efeitos da terapia com omeprazol e da cirurgia antirefluxo. Ambas foram efetivas e bem toleradas. A cirurgia é superior para controlar as manifestações gerais da doença, mas o omeprazol evita o aparecimento de sintomas3 decorrentes desta intervenção cirúrgica.

O estudo coordenado por Lars Lundell, da Karolinska University Hospital, na Suécia, incluiu 310 pacientes com esofagite2 secundária à doença do refluxogastroesofágico. Destes, 154 receberam omeprazol (um desistiu de participar antes do início da terapia) e 144 passaram pela cirurgia antirefluxo (11 desistiram antes da realização da cirurgia). A ideia inicial era um acompanhamento de cinco anos, mas o estudo se estendeu por doze anos.

Os resultados mostraram que, de todos os pacientes, 71 dos que receberam omeprazol (46%) e 53 tratados com a cirurgia (37%) foram acompanhados durante todo o período de 12 anos. Ao final deste acompanhamento, permaneceram em remissão contínua dos sintomas3 53% dos pacientes que fizeram a cirurgia, comparados com 45% dos pacientes que receberam omeprazol e precisaram de reajustes de dose deste medicamento, e 40% que não tiveram reajuste de dose. Dos pacientes cirúrgicos, 38% precisaram de uma nova estratégia terapêutica. Por exemplo, tratamento medicamentoso ou uma outra cirurgia, comparados a 15% dos que usaram omeprazol.

Em conclusão, as terapias para a doença do refluxogastroesofágico são bem toleradas e efetivas. A cirurgia antirefluxo é superior para controlar a azia e o refluxo, mas o omeprazol evita problemas decorrentes do pós-operatório como disfagia4, flatulência e incapacidade para vomitar ou eructar.
Fonte consultada:
Clinical Gastroenterology and Hepatology volume 7 de dezembro de 2009

Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE)
A+ A- Alterar tamanho da letra Sinônimos:

Azia, Refluxo, Doença do Refluxo



O que é?

É uma condição crônica decorrente do retorno de conteúdo do estômago1 e duodeno para o esôfago2, acarretando sinais3 ou sintomas4 esofagianos variados que podem estar associados ou não a lesões nos tecidos.


Quais são as causas?

O refluxo ocorre quando o músculo localizado no fim do esôfago2, chamado de esfíncter inferior do esôfago2, não funciona adequadamente. Este músculo deveria estar fechado na maior parte do tempo, abrindo apenas para a entrada de alimentos no estômago1. Mas ele pode apresentar uma certa incapacidade e não se fechar completamente, o que permite o retorno do conteúdo do estômago1 para o esôfago2.

Outras situações podem contribuir para o refluxo, como a elevada produção de ácido gástrico, obesidade5, gravidez6, hérnia7 de hiato, síndrome de Zollinger-Ellison8, hipercalcemia e esclerose sistêmica.


O que sente o portador desta condição?

As principais manifestações clínicas são:

Pirose (azia): sensação de queimação no peito, atrás do esterno, que pode chegar até a garganta. Este é o sintoma9 mais comum do refluxo, podendo piorar quando a pessoa come, agacha ou deita. Às vezes ela é confundida com infarto do miocárdio10 ou angina11
Sensação de plenitude gástrica: relatada pelos pacientes como inchaço no estômago1 ou má digestão12
Dor em queimação na “boca do estômago” (abdome superior), que normalmente acorda a pessoa no meio da noite
Eructação (arrotos)
Náuseas13
Excesso de salivação
Regurgitação14 ácida: refluxo de líquidos ou alimentos do estômago1 à boca
Disfagia15 (dificuldade para engolir): manifestada por engasgos
Sensação de asfixia noturna
Rouquidão, principalmente pela manhã
Dor de garganta
Pigarro ou necessidade de limpar a garganta repetidamente
Tosse crônica, pneumonias de repetição, asma16, sinusite17 crônica
Desgaste do esmalte dentário, halitose18 (mau-hálito)
A intensidade e a freqüência dos sintomas4 não são sinais3 de gravidade da esofagite19. Mas existe correlação entre o tempo de duração dos sintomas4 e o aumento do risco para o desenvolvimento do Esôfago2 de Barrett e do adenocarcinoma20 (câncer21) do esôfago2.

Alguns sintomas4 são considerados “manifestações de alarme” e devem ser investigados mais rapidamente. São eles: dificuldade para engolir, dor de garganta, anemia22, hemorragia23 digestiva, emagrecimento, história familiar de câncer21, náuseas13 e vômitos24, além de sintomas4 de grande intensidade e/ou de ocorrência noturna.


Como o médico faz o diagnóstico25?

O diagnóstico25 é realizado a partir de uma história clínica detalhada. Os pacientes que apresentam sintomas4 com freqüência mínima de duas vezes por semana, ao longo de 4 a 8 semanas, devem ser considerados possíveis portadores da DRGE.

Como as manifestações clínicas são variadas, podem ser necessários exames complementares como a endoscopia26 digestiva alta, exame radiológico contrastado do esôfago2, cintilografia, manometria, pHmetria de 24 horas ou teste terapêutico para auxiliar no diagnóstico25.

A endoscopia26 digestiva alta é particularmente importante nos pacientes com mais de 40 anos de idade, bem como nos que apresentam “manifestações de alarme”. Ela permite ver diretamente a mucosa27. Mas é importante saber que uma endoscopia26 normal não exclui o diagnóstico25 de DRGE, pois pode estar presente em 25-40% dos pacientes com DRGE.

Procure um especialista em gastroenterologia para avaliar os seus sintomas4 e a necessidade de realizar exames complementares para o diagnóstico25.

No Brasil, pelo baixo custo do exame endoscópico, ele faz parte da propedêutica inicial para pacientes com história clínica e sintomas4 de DRGE, mesmo em idade abaixo de 40 anos.

Quais as opções de tratamento disponíveis?

Existem dois tipos de tratamento: as medidas comportamentais (mudanças de hábitos) e as farmacológicas (uso de medicamentos). Elas devem ser implementadas simultaneamente em todas as fases da doença.

Pacientes conscientes da importância de modificar o seu estilo de vida ajudam muito no tratamento.

Fazem parte das medidas comportamentais:

Elevação da cabeceira da cama em 15 centímetros
Moderada ingestão de alimentos gordurosos, cítricos, café, bebidas alcoólicas, bebidas gasosas, menta, hortelã,
produtos de tomate, condimentos e leite integral
Cuidados especiais para o uso de medicamentos que podem piorar o refluxo, como anticolinérgicos, teofilina, antidepressivos tricíclicos, bloqueadores de canais de cálcio, agonistas ß adrenérgicos e alendronato
Evitar comer até duas horas antes do horário de dormir (deitar)
Evitar refeições copiosas. O melhor é fazer refeições fracionadas, mais vezes ao dia
Parar de fumar
Emagrecimento
Evitar o uso de roupas apertadas, pois elas aumentam a pressão no abdome, piorando o refluxo
A presença de esofagite19 à endoscopia26 indica o uso de medicamentos inibidores da bomba de prótons (IBP), por um tempo mínimo de 6 semanas, embora 4 semanas também possam ser utilizadas.

Aqueles que não apresentarem resposta satisfatória ao tratamento com IBP por 12 semanas, devem ter a dose dobrada por mais 12 semanas antes de serem considerados como insucesso terapêutico.

Por vezes, o tratamento cirúrgico pode ser recomendado pelo médico, dependendo das indicações.


Quais as opções para prevenir esta doença?

São as mesmas medidas comportamentais adotadas para o tratamento do refluxo.


Quais são as complicações da doença?

As complicações mais comuns são:

Esofagite19: inflamação28 do esôfago2
Estenose: redução do calibre do esôfago2, tornando difícil a deglutição29 de alimentos sólidos
Úlcera30: aparecimento de uma ferida aberta no esôfago2
Esôfago2 de Barrett: substituição do epitélio estratificado e escamoso do esôfago2 por epitélio colunar com células intestinalizadas ou mistas, em qualquer extensão do órgão. É uma alteração na qual o tecido31 rosado normal do esôfago2 é substituído por um tecido31 de cor “salmão” que mais se assemelha ao revestimento do estômago1 e afeta primariamente indivíduos do sexo masculino, de raça branca, com idade superior a 40 anos
Sangramento esofágico: costuma ser lento e insidioso, sendo muitas vezes responsável por quadros de anemia22 crônica. O tratamento clínico constitui a melhor opção de tratamento
Câncer21 de esôfago2: o Esôfago2 de Barrett pode evoluir para o câncer21 de esôfago2 em 2 a 5 por cento das pessoas com esta condição

Fontes:
I Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastroesofágico32
Refluxo Gastroesofágico32: Diagnóstico25 e Tratamento - Projeto Diretrizes
Arquivos Médicos do ABC

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