“Marina, morena Marina, você se pintou” – diz a canção de Caymmi. Mas é
provável, Marina, que pintaram você. Era a candidata ideal: mulher, militante,
ecológica e socialmente comprometida com o “grito da Terra e o grito dos
pobres”, como diz Leonardo.
Dizem que escolheu o partido errado. Pode ser. Mas, por outro lado, o que é
certo neste confuso tempo de partidos gelatinosos, de alianças surreais e de
pragmatismo hiperbólico? Quem pode atirar a primeira pedra no que diz respeito a
escolhas partidárias?
Mas ainda assim, Marina, sua candidatura estava fadada a não decolar. Não pela
causa que defende, não pela grandeza de sua figura. Mas pelo fato de que as
verdadeiras causas que afetam a população do Brasil não interessam aos
financiadores de campanha, às elites e aos seus meios de comunicação. A batalha
não era para ser sua. Era de Dilma contra Serra. Do governo Lula contra o
governo do PSDB/DEM. Assim decidiram as “famiglias” que controlam a informação
no país. E elas não só decidiram quem iria duelar, mas também quiseram definir o
vencedor. O Estadão dixit: Serra deve ser eleito.
Mas a estratégia de reconduzir ao poder a velha aliança PSDB/DEM estava fazendo
água. O povo insistia em confirmar não a sua preferência por Dilma, mas seu
apreço pelo Lula. O que, é claro, se revertia em intenção de voto em sua
candidata. Mas “os filhos das trevas são mais espertos do que os filhos da luz”.
Sacaram da manga um ás escondido. Usar a Marina como trampolim para levar o
tucano para o segundo turno e ganhar tempo para a guerra suja.
Marina, você, cujo coração é vermelho e verde, foi pintada de azul. “Azul
tucano”. Deram-lhe o espaço que sua causa nunca teve, que sua luta junto aos
seringueiros e contra as elites rurais jamais alcançaria nos grandes meios de
comunicação. A Globo nunca esteve ao seu lado. A Veja, a FSP, o Estadão jamais
se preocuparam com a ecologia profunda. Eles sempre foram, e ainda são, seus e
nossos inimigos viscerais.
Mas a estratégia deu certo. Serra foi para o segundo turno, e a mídia não cansa
de propagar a “vitória da Marina”. Não aceite esse presente de grego. Hão de
descartá-la assim que você falar qual é exatamente a sua luta e contra quem ela
se dirige.
“Marina, você faça tudo, mas faça o favor”: não deixe que a pintem de azul
tucano. Sua história não permite isso. E não deixe que seus eleitores se iludam
acreditando que você está mais perto de Serra do que de Dilma. Que não pensem
que sua luta pode torná-la neutra ou que pensem que para você “tanto faz”. Que
os percalços e dificuldades que você teve no Governo Lula não a façam esquecer
os 8 anos de FHC e os 500 anos de domínio absoluto da Casagrande no país cuja
maioria vive na senzala. Não deixe que pintem “esse rosto que o povo gosta, que
gosta e é só dele”.
Dilma, admitamos, não é a candidata de nossos sonhos. Mas Serra o é de nossos
mais terríveis pesadelos. Ajude-nos a enfrentá-lo. Você não precisa dos
paparicos da elite brasileira e de seus meios de comunicação. “Marina, você já é
bonita com o que Deus lhe deu”.
Contribuição de
Sonia Maria Coutinho Orquiza
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