2.10.2014

MILITARES TENTAM INTIMIDAR A COMISSÃO DA VERDADE

Está na Folha de S. Paulo desta 2ª feira (10):
"Militares da ativa vêm sendo destacados para acompanhar, às vezes fardados, depoimentos públicos e privados de militares da reserva convocados pela comissão [Nacional da Verdade].
No Rio, em 2013, o Comando Militar do Leste destacou o tenente-coronel André Luís para uma sessão que ouviu um militar da reserva acusado de crimes nos anos 1970.
O mesmo ocorreu no depoimento reservado que o general Álvaro Pinheiro prestou em novembro, no Rio. Pinheiro apareceu com 16 militares, da ativa e da reserva. E dois militares da reserva acompanharam o depoimento do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra..."
Pentangeli negando tudo. Terá a vida imitado a arte?
Trocando em miúdos, os militares estão tentando intimidar a Comissão e, talvez, constranger depoentes.

O paralelo com o filme O poderoso chefão II (d. Francis Ford Coppola, 1974) logo nos ocorre: ao saber que Frankie Pentangeli (Michael V. Gazzo) fechara um acordo de delação premiada e iria incriminá-lo, Michael Corleone (Al Pacino) faz com que o irmão do dito cujo venha da Itália para assistir à audiência. O velho gângster, por vergonha de ser visto pelo mano desempenhando o papel de delator, recua do seu intento.

Talvez tenha sido este o motivo da presença do tenente-coronel André Luís, escalado para uma missão que os contribuintes dificilmente considerarão um bom emprego do tempo dele em horário de serviço.

O torturador Brilhante Ustra, por sua vez, provavelmente levou dois pijamados a tiracolo para ostentar o apoio que estaria recebendo de seus colegas, só que a ausência de militares da ativa deve ter causado impressão contrária. 

E os 16 acompanhantes do general Pinheiro, entre fardados e pijamados, só podem ser interpretados como uma forma de pressionar os integrantes da Comissão. 

Em se tratando de uma audiência reservada, estes deveriam ter-lhes fechado a porta na cara, só admitindo a presença de advogado, caso o depoente a requeresse.

É um dos motivos pelos quais eu tanto pleitei a participação de um veterano da resistência na Comissão. Não imagino um Ivan Seixas deixando de responder à altura numa situação destas. 

Eu, com certeza, não me resignaria a ser mero espectador do teatrinho militar. Foi exatamente por isso que não me quiseram lá.

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