2.10.2014

Deputado do PSOL pode estar envolvido em lançamento de rojão que atingiu o cinegrafista da Band

 Em nota, deputado disse que acusação é ‘irresponsável e leviana.

O Globo 
Fábio Raposo, entre o estagiário e seu advogado, chegam à delegacia; termo de declaração em que advogado fala sobre ligação entre jovens e Freixo Foto: Simone Marinho e reprodução / O Globo
Fábio Raposo, entre o estagiário e seu advogado, chegam à delegacia; termo de declaração em que advogado fala sobre ligação entre jovens e Freixo Simone Marinho e reprodução / O Globo
RIO - Enquanto o delegado Maurício Luciano de Almeida, titular da 17ª DP (São Cristóvão), estava reunido com o advogado do tatuador Fábio Raposo discutindo a respeito da tipificação do crime que seria aplicada ao jovem, na tarde deste domingo, uma suposta ligação de celular recebida pelo advogado do rapaz, Jonas Tadeu Nunes, acabou envolvendo o nome do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) no caso. Fábio foi preso neste domingo por ter repassado o rojão que atingiu a cabeça de cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, durante manifestação no Centro, na última quinta-feira.
Em nota, Marcelo Freixo disse que a acusação “é irresponsável e leviana” (leia abaixo a íntegra da mensagem). Já no Twitter, o deputado afirmou que o advogado Jonas Tadeu Nunes defendeu o miliciano e ex-deputado estadual Natalino José Guimarães, que foi citado na CPI das Milícias, presidida em 2008 pelo próprio Freixo. Na época, segundo o parlamentar, "mais de 200 pessoas, entre elas várias autoridades, foram indiciadas. Natalino e seu irmão, Jerominho, que dividiam o poder, cumprem pena em presídios federais".
Procurado pelo GLOBO, o advogado diz que não tem ligação com milicianos e que não manteve mais contato com Natalino. Segundo ele, ficou a seu cargo a defesa do ex-deputado apenas em seu processo de cassação na Assembleia Legislativa do Rio.
Jonas contou que recebeu um telefonema da ativista Elisa de Quadros Pinto Sanzi, a Sininho, afirmando oferecer apoio jurídico de pessoas ligadas a Freixo. O advogado ainda acrescentou que Sininho teria dito que tanto Fábio quanto o homem ainda não identificado que atirou o rojão na direção do cinegrafista Santiago Andrade teriam ligação com Freixo. O deputado negou veemente qualquer ligação com Fábio ou o outro suspeito.
— Fiz um termo circunstanciado registrando o fato na delegacia porque me senti pressionado por aquela ligação da Sininho. Queria deixar registrado que, se eu fosse futuramente afastado do caso, foi porque pessoas usaram advogados ligados a um nome de peso para me substituir, não por incompetência minha ou algo do tipo. O termo acabou sendo registrado em nome do meu estagiário por um erro técnico já que ele foi a pessoa que recebeu a ligação dela num primeiro momento. Mas fui eu que ouvi ela se referir ao Freixo. Como eu estava muito nervoso, resolvi registrar — afirmou o advogado, que acrescentou: — Agora, com mais calma, tenho certeza de que usaram o nome do deputado indevidamente. Não acredito que ele tivesse tido tamanha falta de ética. A conduta dele seria diferente.
Em sua página no Facebook, Sininho reforçou que não falou que Marcelo Freixo teria ligação com qualquer um dos acusados de acionar o artefato que atingiu o cinegrafista:
"... Fiquei sabendo que o advogado falou que eu falei que conhecia o segundo menino do rojão e que era conhecido do Marcelo Freixo. Mas que loucura é essa? O que esse advogado quer com isso? No final das contas eu acabei recebendo uma intimação para ficar cara a cara com o advogado para esclarecer isso... Lógico que vou, não tenho nada a esconder, sei muito bem o que falei", diz a mensagem.
A mãe de Fábio Raposo, Marise Raposo, confirmou que recebeu neste domingo um telefonema de Sininho, mas não quis revelar o teor da conversa. Ela disse, porém, acreditar que o filho tenha algum tipo ligação com Freixo.
Jovem aceita colaborar com a polícia
O tatuador Fábio Raposo, preso na casa dos pais no Recreio dos Bandeirantes, aceitou colaborar com a polícia e ajudará na confecção do retrato falado do homem acusado de ter detonado o rojão que atingiu a cabeça do cinegrafista. Segundo o delegado Maurício Luciano de Almeida, o jovem diz que não tem contato nem sabe o nome do suspeito, mas afirmou na delegacia já tê-lo visto em outros protestos realizados na cidade e ser capaz de descrever suas características físicas.
A polícia explicou que o acusado poderá receber o benefício da deleção premiada caso a Justiça entenda que a colaboração dele foi efetiva. Só depois será decidido que tipo de benefício será concedido a ele em troca. Neste domingo, após a prisão pela manhã, Fábio Raposo foi levado para a delegacia para prestar novo depoimento e, à tarde, foi transferido para a Cadeia Pública Juíza Patrícia Lourival Acioli, em São Gonçalo.
O cinegrafista Santiago Ilídio Andrade segue em estado muito grave, em coma induzido e respirando com a ajuda de aparelhos. Ele segue no CTI do Hospital Municipal Souza Aguiar.
Leia a mensagem de Marcelo Freixo na íntegra:
“Segundo a matéria, uma ativista teria ligado para o estagiário do advogado de Fábio Raposo e dito que o responsável por acender o rojão que atingiu o cinegrafista Santiago Andrade é ligado a mim.
Além de a fonte da informação ser de uma fragilidade absurda e de a própria ativista negar ter me associado ao ocorrido, nenhuma prova concreta foi apresentada. Aqueles que afirmarem que o responsável pela explosão é ligado a mim terão que provar. Caso contrário, serão devidamente processados.
Sempre repudiei a violência nos protestos, seja ela praticada por manifestantes ou policiais. Discordo dela como princípio e como método para conquistar qualquer coisa.
As investigações sobre essa tragédia apenas começaram e é triste ver que um assunto tão importante e delicado é tratado com tamanha irresponsabilidade. A quem interessa transformar uma informação tão frágil num acusação tão grave?"

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