RIO - Se tudo correr conforme o previsto, Indianara Carvalho terá realizado um sonho.
— Sempre quis desfilar de tapa-sexo — diz a loura, Miss Bumbum 2014 e musa da escola de samba Tucuruvi, que estava prevista para entrar no Sambódromo paulistano na sexta-feira passada.
Ela assume suas intenções:
— Para “dar mídia”, quis o menor da história do carnaval: dois centímetros e meio de largura.
O modelo de Indianara é como uma calcinha de metal sem as laterais, que se prende à região pélvica como um brinco de pressão. Há também o modelo com adesivo, usado por Dani Sperle. Dani é “a musa do tapa-sexo” desde 2009, quando desfilou no Rio com uma tira de três centímetros. A bela da Mocidade não revelou a metragem deste ano. Mas compara:
— É menor do que uma tampa de caneta. Farei jus ao meu título — diz a morena. — Prendo com uma cola específica, que vem da Alemanha. Para tirar, só lavar com água quente e sabão.
Enquanto Sperle encara tudo com naturalidade, para Indianara, estreante no carnaval, “é muita emoção”.
— Mais até do que na minha “segunda primeira vez” — diz ela, que ano passado fez uma cirurgia íntima que reconstruiu seu hímen.
O duelo entre Indianara e Sperle pelo menor tapa-sexo é apenas a página mais recente de uma história que começa (sem trocadilho) lá atrás.
A primeira menção ao acessório no arquivo do GLOBO é de 19 de março de 1974. Naquela data, Nelson Motta contava que os rapazes do Dzi Croquettes tinham se livrado da censura após trocar “o tapa-sexo usado no final do espetáculo por um mais familiar short”. (Aliás: os Dzi estão em cartaz e, na versão atual, vão de tapa-sexo-mesmo.)
Logo o adereço foi dos palcos para os desfiles. Nos anos 1980, Monique Evans causou furor à frente da bateria da Mocidade só de tapa-sexo. Com seis centímetros, largura de um crachá, seria considerado gigantesco hoje. Natural que a nudez total logo desse às caras. E ela veio em 1988, com Enoli Lara. Atriz, escritora, escultura e incendiária, ela botou fogo na Sapucaí desfilando nua.
— Nua não, de botas — diz a sexagenária, repetindo a frase que ficou famosa. — Eu ia usar o tapa-sexo, mas houve um contratempo, e acabei saindo pintada e calçada, porém pelada.
Em 1989, Enoli repetiu a dose, tendo seu sexo coberto apenas por um véu — que ela volta e meia levantava.
Foi demais para a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba). Desde então, toda a nudez frontal será castigada. Está lá no inciso V do artigo 26 do regulamento: a escola deve “impedir a apresentação de pessoas que estejam com a genitália à mostra, decorada e/ou pintada”. O não cumprimento da regra custa 0,5 ponto — bastante num concurso em que cada décimo faz diferença.
— Fui o despudor que gerou o pudor — diz Enoli, que é favorável à proibição. — É mais bonita a insinuação.
Em 1992, a Beija-Flor foi punida por um apetrecho que, diferentemente do que dizia o carnavalesco Joãosinho Trinta, deixou o ator Torez Bandeira exposto. A Beija-Flor ficou fora do desfile das campeãs. E Joãosinho, fora da escola.
Após a queda do adesivo e de João, o tapa-sexo virou uma aposta arriscada. O modelo colante não era confiável, e a “calcinha metálica”, muito incômoda — Nana Gouvêa passou um desfile inteiro ajeitando a sua. Em 1997, a Santa Cruz chegou à concentração com um quarteto de belas com coberturas ínfimas. Advertida de que poderia perder pontos, a escola improvisou: as musas cobriram seus triângulos com bermudas.
Mas havia um lugar em que o tapa-sexo não sofria objeções: as vinhetas da mulata Globeleza. Na TV, Valeria Valenssa ostentava um adesivo resistente a todo rebolado. Kiko Alves, autointitulado a maior referência no assunto no Rio e dono de um ateliê que produz os diminutos adereços, participou da produção desses quadros, e viu que aquilo dava samba:
— Trabalhando com a Globeleza, aprendi a fazer o melhor tapa-sexo. E ainda aperfeiçoei: para a TV bastava usar emplastro Sabiá. Para a Avenida, eu precisava de cola Super Bonder.
Dominada a nova “tecnologia”, Kiko só precisava de uma musa. Encontrou Viviane Araújo, sensação da Sapucaí ao desfilar pela Vila Isabel em 1998.
— As pessoas me perguntavam quem era ela e como aquele negócio não caía — lembra Kiko.
Viviane estourou e fez dúzias de ensaios sensuais. Kiko se especializou em descobrir musas e cobrir sexos: Nani Venâncio, Núbia de Oliveira, Mônica Carvalho e a própria Dani Sperle desfilaram com seus protetores — cada vez menores. Tudo ia bem até 2008, quando sua protegida Viviane Castro saiu pela São Clemente com um adesivo de quatro centímetros. A tira descolou, a escola perdeu meio ponto e foi rebaixada — verdade que por sete décimos, mas quem pagou o pato foi o acessório. Que, no entanto, seguiu em alta.
— Não tenho vaidade, mas deixei um legado. O tapa-sexo é uma realidade. Não tem mais volta — diz Kiko. — Bota aí: não importa o tamanho do tapa-sexo, e sim o amor pelo samba. Tem que saber a diferença entre sambista e oportunista.
Conhecido de outros carnavais, Milton Cunha adverte sobre os tapa-sexos muito pequenos:
— Estas moças estão loucas! Tem de ter cinco centímetros no mínimo. Com menos, a coisa é engolida, sorvida, abduzida.
O escritor Luis Fernando Verissimo, criador da socialite Dora Avante, que sempre se refere a seu tapa-sexo, não sabia da corrida pelo menor adereço. Mas diz que sua personagem aprova:
— Quanto menor, melhor.
Conheça as peças que fazem parte do carnaval e que não deixam as musas completamente nuas na avenida
Tapa-sexo de Sabrina Sato fica à mostra após desfile pela Vila Isabel em 2014. Foto: AgNews
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Juju Salimeni, Andressa Urach, Sabrina Sato e tantas outras musas do carnaval fazem uso do tapa-sexo na avenida. Seja para aparecer com os corpos pintados, para proteger as partes íntimas do atrito causado pela fantasia ou até apenas para não despontuar a escola. Afinal, corpos completamente nus são motivo para as agremiações perderem ponto nos desfiles das escolas de samba.
Mas você sabe quais são os tipos de tapa-sexo utilizados por rainhas, musas, destaques ou passistas?
A peça pode ser produzida apenas com um ferro ou arame torcido, que integra a fantasia. Quando utilizado dessa maneira, o tapa-sexo pede um “irmão”. Para proteger as partes íntimas, a musa costuma usar um tapa-sexo adesivo por baixo. Estes, descartáveis, são encontrados em farmácia e são os mais utilizados até por modelos em passarelas.
O adesivo é prático, pois, se comprado de um tamanho maior, pode ser moldado de acordo com o tamanho da fantasia. Mas é importante estar com a virilha completamente sem pelos, senão o sofrimento após o desfile para a retirada do adesivo será grande. Uma dica para quem não quer fazer a depilação completa é aplicar algodão nas partes que podem sofrer com a retirada do adesivo.
Existe também um modelo chamado de calcinha de encaixe. Esta peça pode ser feita de tecido e polietileno injetado ou de poliamida com elastano. A parte de frente do encaixe forma uma espécie de triângulo, seguindo para um fio-dental na parte traseira.
Por não ter lateral, a peça não deixa a pele marcada, como acontece com a calcinha de silicone desenvolvida por Ângela Bismarchi. Por ser de silicone, o que deixa a peça completamente transparente, deixando em dúvida se a musa está completamente nua ou não, esta calcinha é a mais confortável das opções de tapa-sexo.
Ângela desenvolveu o acessório pois diz não gostar de ficar sem calcinha. A personalidade da mídia costuma usar a peça mesmo fora do carnaval, quando utiliza vestidos ou roupas decotadas.
Vale citar que também há no mercado um tapa-sexo comestível. Mas, este, não é nem um pouco recomendável para quem vai entrar na avenida, já que ele se dissolve lentamente ao contato da umidade e o calor do próprio corpo. Para quem se empolgar e quiser realizar fantasias de carnaval, este tem sabor e deixa aroma da fruta escolhida.
Para os seios, mesmo sendo bem pouco utilizado na avenida, a coisa é bem mais simples e pode ir de peças caseiras a comerciais. Indo desde o band-aid, passando pelo esparadrapo e micropore, e chegando ao Lib, um adesivo hipoalergênico modelador.
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