O mundo inteiro sabe, e assim ficará registrado nos livros de História, que o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi um golpe de políticos corruptos contra uma uma mulher honesta; além disso, como o golpe foi também um fracasso econômico, os meios de comunicação que a ele se associaram – e que também responderão à História por este crime – buscam agora, desesperadamente, desconstruir a imagem de Dilma, a partir de um email apócrifo e provavelmente forjado por Mônica Moura; em editorial, a Folha diz que o mito da mulher honesta foi demolido; no Globo, Merval Pereira pede a prisão de Dilma e Ricardo Noblat que não haverá Justiça no Brasil enquanto ela não for punida; no entanto, o que incomoda as forças golpistas é o contraste entre a imagem de Dilma e a de personagens como Eduardo Cunha (15 anos de prisão), Aécio Neves (campeão de inquéritos na Lava Jato), Romero Jucá (estanca essa porra) e o próprio Michel Temer (propina de US$ 40 milhões)
As forças políticas que aplicaram o golpe parlamentar de 2016 perderam a narrativa. No mundo inteiro, já se sabe que houve, no Brasil, há um ano, um golpe de políticos corruptos contra uma presidente honesta. Um capítulo humilhante e vergonhoso da história nacional.
Essa "assembleia de bandidos presidida por um bandido" foi a definição precisa do escritor português Miguel Sousa Tavares, que foi confirmada pelos fatos.
Basta lembrar que o ex-deputado Eduardo Cunha, que aceitou o pedido de impeachment sem crime de responsabilidade contra Dilma, está condenado a mais de 15 anos de prisão. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que decidiu virar a mesa da democracia após ser derrotado em 2014, é hoje o recordista de inquéritos na Lava Jato. A seu lado, aparece o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que dizia ser necessário derrubar Dilma para "parar essa porra e estancar a sangria da Lava Jato". No poder, quem dá as cartas, é Michel Temer, acusado pela Odebrecht de presidir uma reunião em que se definiu uma propina para o PMDB de US$ 40 milhões, equivalente a R$ 126 milhões e correspondente a 5% de um contrato da Petrobras – que Dilma cortou pela metade, diga-se de passagem.
Se o golpe tivesse sido um sucesso econômico, a questão da narrativa perderia a importância. Afinal, o Brasil estaria crescendo, gerando empregos e oportunidades – como, aliás, era a promessa dos meios de comunicação que se associaram, em cartel, para golpear a democracia brasileira.
Ocorre que o golpe, além de uma humilhação para a imagem do Brasil, que se transformou na mais bananeira de todas as repúblicas bananeiras que já existiram, foi também um fiasco econômico. A riqueza nacional encolheu quase 10% e o desemprego bateu todos os recordes.
Diante desse fracasso absoluto, as forças golpistas buscam, agora, uma nova narrativa. Nela, é essencial destruir a imagem de honestidade da presidente Dilma Rousseff, mulher que, após ser golpeada, vive num apartamento de classe média em Porto Alegre.
Contra ela, não há nenhuma acusação minimamente parecida com as propinas de Cunha, Aécio, Jucá e do próprio Temer, além das que atingem os nove ministros investigados na Lava Jato.
Dilma é acusada, apenas, de ter usado um email apócrifo, entregue por Mônica Moura, mulher de João Santana, para alertá-la sobre a Lava Jato. A prova, aparentemente forjada, foi a moeda de troca entregue por Mônica para reduzir sua pena.
No entanto, este email ridículo virou a tábua de salvação da mídia brasileira. Em editorial, publicado nesta segunda-feira, a Folha de S. Paulo diz que o mito da mulher honesta foi demolido. No Globo, Merval Pereira pede a prisão de Dilma e Ricardo Noblat que não haverá Justiça no Brasil enquanto ela não for punida.
No entanto, o que incomoda as forças golpistas é o contraste entre a imagem de retidão de Dilma e a de personagens como Eduardo Cunha (15 anos de prisão), Aécio Neves (campeão de inquéritos na Lava Jato), Romero Jucá (estanca essa porra) e o próprio Michel Temer (propina de US$ 40 milhões).
O golpe montou um cerco em torno da esquerda e do movimento popular. O cerco do preconceito monstruosamente forjado pela velha mídia, o cerco institucional pela judicialização da política, o cerco político pela ofensiva antipopular da maioria direitista no Congresso – montaram um dique de contenção contra os interesses populares, que precisa ser desmontado.
Lula fez algo similar com Moro no depoimento do dia 10, fazendo com que o feitiço virasse contra o feiticeiro. As perguntas de Lula foram sumamente incômodas para Moro. Lula retomou a iniciativa, desmontou as acusações contra ele, deixou Moro sem ação, sem nem sequer o poder de interromper o Lula.
Antes de tudo, portanto, como fez Lula com Moro, responder a tudo, esclarece a tudo, com exaustão, porque a razão que temos é o nosso argumento mais forte. O convencimento, a persuasão, a consciência dos problemas e das soluções é o instrumento decisivo para darmos volta à situação politica do pais.
O movimento popular está na defensiva desde a ofensiva que levou ao golpe. O governo passou a ditar a agenda, a tomar iniciativas, valendo-se da sua enorme maioria parlamentar e do poder da velha mídia, para deslocar a pauta para seus projetos de desmonte de tudo o que foi construído desde 2003. Mesmo isolado e desgastado, o governo tem a iniciativa, porque pode contar com o beneplácito da mídia e com maioria no Congresso. Enquanto contar com isso, pode sobreviver e prestar serviços à direita e ao capital financeiro.
Precisamos sair do cerco e passar a cercar o governo. As mobilizações convocadas para Brasília podem ser o momento de virada da situação estratégica da defensiva para a de ofensiva, pelo menos para promover um empate estratégico com o governo. Atacar no cenário decisivo e simbólico. A reforma da Previdência tornou-se o embate de virada. Valer-nos da vitória que temos na opinião publica, com dados arrasadores contra a iniciativa do governo – e a própria declaração do MT de que a aprovação da reforma da Previdência não é decisiva, ao contrario do afirmou Meirelles todos os dias – para levar o governo à sua primeira grande derrota politica, é o caminho. Uma derrota que tem se configurado não apenas nas concessões que o governo tem feito, mas principalmente nos adiamentos que tem promovido, forma típica de recuo desse governo fraco e covarde.
Temos que cortar a capacidade de ação do governo, que residiu na certeza do apoio da velha mídia e da maioria no Congresso. Que ele tenha cada vez menos certeza nesses dois instrumentos de apoio, principalmente em que pode aprovar seus projetos, mesmo quando passou a ter reprovado na opinião pública. Precisamos amputar a capacidade de iniciativa do governo, reduzi-lo à impotência, cercado pelo movimento popular, condenado pela opinião publica, contando cada vez com menos apoio parlamentar e politico, criticado cada vez mais pela velha mídia.
Estamos, depois da greve geral e das manifestações de Curitiba, em um momento de virada na correlação de forcas entre a oposição e o governo, entre as forcas democráticas e as forcas golpistas. Precisamos consubstanciar isso em iniciativas politicas nossas, diante das quais o governo e a mídia tenham que se pronunciar, recuperando a iniciativa por parte do campo popular.
A reivindicação das diretas já é um tema, mas podemos faze-la acompanhar da criação de um consenso da necessidade de convocação de uma Assembleia Constituinte, para reformar o sistema politico. Podemos apresentar propostas no Congresso, lutar para colocar em pauta esse tema essencial, que nos faz recuperar iniciativa na grande agenda nacional, provocar a que os outros tenham que e pronunciar sobre ela.
Podemos também manter a iniciativa no plano das mobilizações de massa, nas quais a defesa do Lula – como se viu em Curitiba – é uma reivindicação que unifica a todos os movimentos populares, porque se identifica com a restauração da democracia. O lançamento da pr-candidatura do Lula no Congresso Nacional do PT, pode ser o marco para grandes atividades de discussão e proposição das plataformas que deve ter um novo governo de esquerda no Brasil.
Precisamos repor a centralidade da questão social – da desigualdade, da pobreza, da exclusão social –, condição das nossas vitorias eleitorais, que se perdendo, conforme a direita foi impondo a centralidade da questão da corrupção no Brasil. Assim como precisamos recuperar a confiança na potencialidade do Brasil – que o Lula tanto realça -, que a direita foi debilitando, desmontando o modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, recuperar o prestigio do Estado, como prestador de serviços à população, mas também como comando da retomada do projeto estratégico do Brasil como potencia democrática, econômica e social.
O Brasil vai decidir daqui até o fim de 2018, no espaço curto de 18 meses – 18! - o seu futuro, projetado em toda a primeira metade do século. Ou a direita ter força para dar outro golpe e se consolidar no poder ou as forças democráticas e populares conseguem retomas o governo e realizar as profundas transformações que o pais requer e desenhar um Brasil democrático, solidário, soberano, com o que aprendemos a sonhar com o Lula.
Nenhum comentário:
Postar um comentário