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4.16.2009
Células que salvam
Pesquisa brasileira aumenta a chance de cura do diabetes
Uma pesquisa brasileira, pioneira no mundo, com o uso de células-tronco adultas no tratamento do diabetes do tipo 1, tem apresentado bons resultados, segundo artigo publicado na “Revista da Associação Médica Americana” (Jama, na sigla em inglês).
Diabéticos submetidos à experiência, iniciada em 2003 por cientistas do Centro Regional de Hemoterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, se livraram da necessidade de injeções de insulina, o hormônio produzido pelo pâncreas e que ajuda a glicose a chegar às células.
O estudo coordenado pelo endocrinologista Carlos Eduardo Couri e pelo imunologista Júlio Voltarelli incluiu 23 pacientes com diabetes tipo 1 (o pâncreas cessa a fabricação de insulina ou só a libera em pouca quantidade). Deste grupo, 20 não precisaram mais de insulina em algum momento, sendo que 12 de maneira permanente e oito transitoriamente, por períodos de seis meses a quatro anos.
A experiência consiste no autotransplante de células-tronco hematopoéticas (elas se diferenciam em células do sistema imunológico, hemácias e plaquetas), previamente retiradas numa veia periférica. Então os médicos fazem o “apagão imunológico”, ou seja, desligam o sistema de defesa por meio de imunossupressão com drogas quimioterápicas.
Uma semana depois, ele é reativado com a infusão de células-tronco do próprio diabético. Assim, há renovação do sistema imunológico, impedindo o ataque às células beta, responsáveis pela liberação de insulina.
Tratamento ainda é complicado
Após quatro anos, dois pacientes transitoriamente livres da insulina voltaram a apresentar níveis altos de glicemia e tiveram que ser medicados com o hormônio. E os médicos brasileiros resolveram esse problema de maneira inovadora. Eles usaram o medicamento sitagliptina, aprovado nos EUA para diabetes tipo 2. Porém, estudos indicaram que a droga estimula a ação das células beta. Algo que não havia sido testado no tipo 1.
— Um mês depois de usarem a sitagliptina, esses dois pacientes não precisaram mais de insulina. Isso já dura mais de seis meses — diz Couri — Nunca imaginei, como endocrinologista, que conseguiria suspender a insulina em diabéticos tipo 1. Esse é o primeiro grande passo, mas ainda há um longo caminho a percorrer até a cura ou que mais pacientes possam ter acesso ao tratamento. Ele tem grande risco, principalmente de infecções na fase de imunossupressão, requer grande estrutura hospitalar e especialistas treinados — afirma o médico, cuja equipe foi a primeira a testar células-tronco em humanos diabéticos.
Quando os primeiros dados da pesquisa brasileira foram publicados na “Jama”, em 2007, alguns especialistas criticaram a experiência, lembra a hematologista Belinda Pinto Simões, da equipe do Hemocentro da USP.
— Médicos diziam que era um tratamento muito agressivo. Mas estamos obtendo bons resultados. E depois outros centros iniciaram protocolos semelhantes — diz.
Um dos parceiros do estudo brasileiro é o cientista Richard Burt, da faculdade de medicina da Nortwestern University, em Chicago. Ele comenta que é a primeira vez que um tratamento livra pacientes diabéticos da insulina, embora ainda não possa afirmar que se trata da cura da doença.
— Alguns pacientes tiveram recaída e voltaram a usar insulina. Mesmo assim, não precisam de tanto quanto antes do tratamento.
O transplante autólogo (da própria pessoa) de células-tronco hematopoéticas em pacientes com diabetes tipo 1 foi realizado com pacientes recém diagnosticados (menos de seis semanas), na faixa etária de 12 anos a 35 anos. Todos praticavam atividade física regularmente, dosavam glicemia pelo menos duas vezes por dia e faziam contagem de carboidratos. E ainda tinham alguma reserva de células beta.
Couri iniciou no ano passado outro estudo pioneiro com diabéticos diagnosticados há mais tempo, com mais de dez anos de doença. Este estudo consiste na infusão de células-tronco mesenquimais (adultas multipotentes) retiradas da medula de um parente de primeiro grau do diabético. Em experimentos animais, elas foram capazes de regenerar células beta. Mas os pesquisadores ainda não sabem quais são as vantagens e os possíveis efeitos nocivos, como, por exemplo, formação de tumores.
Saiba mais sobre a doença
O diabetes tipo 1 é uma doença auto-imune, isto é, o próprio organismo ataca e destrói as células beta responsáveis pela produção do hormônio insulina. Esse tipo de diabetes ocorre em qualquer idade, porém é mais comum antes dos 35 anos. Como não há insulina, a glicose não alcança as células e elas ficam sem combustível para produzir energia.
Os diabéticos precisam repor o hormônio para regularizar o metabolismo do açúcar. Caso contrário, o nível sobe muito e causa danos aos olhos, aos rins, aos nervos e ao coração. Os principais sintomas são necessidade de urinar diversas vezes ao dia, fome freqüente, sede constante, fraqueza, fadiga, nervosismo, náusea e vômito.
(O Globo, 15/4)
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