Anvisa afirma que casos de infecções resistentes a antibióticos já constituem a chamada "emergência epidemiológica" no país.
Quase 300 registros este ano, entre casos suspeitos e confirmados, de infecção por micobactéria - um parasita de crescimento rápido pouco comum no Brasil -, levaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a emitir um alerta a todos os hospitais e profissionais de saúde.
O principal problema, de acordo com o órgão, está na esterilização deficiente dos instrumentos utilizados em cirurgias com vídeo, a exemplo da endoscopia e da colonoscopia, e nas operações plásticas.
A bactéria fez, em 2007, 851 vítimas. Muitas, depois de sofrerem dores terríveis em função da infecção hospitalar e de serem obrigadas a se submeter a outras cirurgias, ficaram com seqüelas, por conta do tratamento à base de fortes medicações.
Caso de Sandra Neves Teixeira, 33 anos. A intervenção simples para retirada de um cisto no ovário transformou-se em um calvário. Dores abdominais, febre e secreções atormentaram Sandra durante três meses. Só depois disso, quando passou por nova cirurgia para raspagem do local operado, foi diagnosticada a micobactéria. "Fiquei oito meses sem trabalhar, tomava oito antibióticos por dia com efeitos colaterais terríveis e hoje tenho um nódulo no fígado", conta. Um caso recente na capital do Espírito Santo, desta vez em uma clínica de cirurgia plástica, reacendeu o debate sobre o parasita.
"O que se sabe, até agora, é que o sistema de higienização deste local apresentava falhas, pois havia restos de gordura nas cânulas", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, José Tariki. A entidade pediu, oficialmente, a todos os cirurgiões que redobrem a atenção quanto aos processos de esterilização das clínicas e hospitais.
Ao classificar os casos como uma emergência epidemiológica, uma espécie de estágio anterior ao de uma epidemia, a Anvisa determinou algumas normas, tais como substituir um esterilizante chamado glutaraldeído, ao qual a micobactéria se mostrou resistente, por outro.
Fonte: Correio Braziliense
Um comentário:
Agência ainda estuda regras para reduzir risco de contágio em cirurgia.
Só cinco anos após os primeiros casos de infecção por micobactérias serem registrados é que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) resolveu estudar novas regras para reduzir o risco de contaminação por instrumentos usados em cirurgias.
A idéia é exigir um número mínimo de equipamentos para cada instituição, o que ajudaria a garantir que os instrumentos ficassem o tempo necessário em processos de desinfecção. Desde que os primeiros casos foram registrados, já havia fortes suspeitas de que as contaminações fossem provocadas por falhas de desinfecção de materiais usados em laparoscopias, atroscopias, lipoaspiração. Mesmo assim, a Anvisa restringiu a ação a pesquisas, palestras para médicos e divulgação de comunicados. Ações de vigilância foram concentradas em áreas onde o número de infecções era mais alto.
Os primeiros casos da infecção por micobactéria foram registrados em São Paulo; pouco depois, no Pará. A explosão do número de ocorrências, no entanto, ocorreu no Rio, onde o hospital Pedro Ernesto registrou mais de mil casos e teve de interromper o atendimento. Agora, novos casos são registrados em Minas e Espírito Santo.
As consequências da infecção são graves e o tratamento, feito com antibióticos, é caro. "Os ajustes vão sendo feitos de acordo com o tempo, de acordo com o amadurecimento", justificou a diretora-adjunta da Anvisa, Beatriz Mac Dowell. Até agora, mais de 1.900 casos de contaminação foram confirmados. Muitos pacientes tiveram de ser submetidos a cirurgia reparadora. O ministério gastou mais de US$ 1,8 milhão para custear remédios. A outra medida adotada pela Anvisa foi divulgar uma nota, alertando sobre as suspeitas de que um dos produtos usados na desinfecção dos materiais, o glutoraldeído, era pouco eficaz. "Os estudos sobre o produto começaram ano passado. Mas não há nada que comprove sua ineficiência", afirmou o gerente de investigação e prevenção de infecções da Anvisa, Leandro Santi. Justamente por isso, completou, não há como se pedir a suspensão cautelar do uso do produto. Para ele, o fato de o alerta ter sido realizado somente agora não representa uma falha. "Há implicações econômicas. Não podemos colocar em dúvida um produto se não houver um mínimo de evidência científica", observou. A pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora do Centro Hélio Fraga, diz que novos casos podem ser registrados, se medidas adequadas não forem adotadas. Leandro Santi garante que a vigilância atuou de forma adequada. "Não podemos ficar 24 horas acompanhando os serviços. A vigilância faz inspeções para ver se a empresa tem condições de atuar e, concedida a liberação, cabe a eles executar o trabalho de forma adequada", rebateu. SAIBA MAIS - Micobactéria: tipo de bactéria encontrada no solo e na água que causa lesões de difícil cicatrização. Forma de contágio: falhas na esterilização dos equipamentos levam à contaminação. Tratamento: com antibióticos de alto custo, pois os convencionais não fazem efeito. -
Fonte: Estado de São Paulo
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