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4.10.2010
Medicina genética garante fim de doenças hereditárias potencialmente perigosas
Através de fertilização in vitro, menina Chloe se livrou do câncer de cólon.
Procedimento ainda é caro, e mexe com questões éticas e religiosas.
Enquanto Chad e Colby Kingsbury olham sua filha de 2 anos brincando no tanque de areia, em sua casa no subúrbio de Chicago, não deixam de pensar um milhão de vezes: Chloe nunca ficará doente.
Como todos os pais, eles queriam que a filha chegasse ao mundo com as mesmas chances que a maioria das crianças. Mas havia um problema. “Em minha família, há um gene de câncer que matou minha mãe, meus dois tios. Tenho dois primos que estão com a doença”, diz Chad.
Este gene pode levar a uma forma de câncer de cólon que afeta a pessoa no meio da vida; normalmente por volta dos 45 anos. Ele possui o gene e, segundo as leis da genética, havia 50% de chances de passar para seus filhos.
Muitas pessoas com o gene não manifestam o câncer. E, se a doença for diagnosticada e tratada cedo, a taxa de sobrevivência é de 90%. Ainda assim, o risco mostrou-se alto demais diante das opções disponíveis.
O casal conheceu um procedimento médico cada vez mais comum: o P.G.D. (Diagnóstico Genético Pré-implantacional). Nele, os futuros pais fazem fertilização in vitro e selecionam apenas os embriões que não possuem estes genes potencialmente perigosos. “O P.G.D. pega um embrião em estágio inicial, retira uma célula, examina atrás de mutações genéticas e, se o embrião não possui mutações, é implantado e se torna um feto”, explica o doutor Dr. Kenneth Offit, diretor de genética no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center.
O processo exigiu que Colby tomasse injeções frequentes de hormônio e sofresse uma extração de óvulos dolorosa. E, para pagar pelo procedimento, o casal teve de usar mais de US$ 10 mil de suas economias. Um fato que, segundo os médicos, pesa muito.
O P.G.D. está disponível desde os anos 90. Mas com este conhecimento difundido, mais pessoas estão optando por esta escolha. O doutor Offit sugere que parte disso tem a ver com o desejo dos casais de controlar o próprio destino, em vez de deixar a natureza seguir seu curso. “Nos últimos anos, percebi cada vez mais que muitos desses jovens têm uma sensação de poder ao assumir o controle quando percebem que podem ter filhos que não carregarão as mesmas mutações que eles, seus pais, seus avós e muitas gerações passadas”.
Segundo o casal, parte da dificuldade foi explicar para outras pessoas sobre a ideia de interferir na natureza. Isso significou passar por cima de preocupações religiosas de suas famílias, e convencer amigos de que aquilo não era algo da ficção científica. “Explicar o processo que nem nós mesmos entendíamos parecia algo de um filme espacial e diziam: por que vão fazer isso?”, diz Colby.
Um em cada 200 americanos carrega uma mutação genética que os tornam suscetíveis a ter câncer de seio e cólon. Dois tipos de câncer hereditários que já podem ser testados. Mas quanto mais os cientistas aprendem sobre a genética do câncer e outras doenças hereditárias, mais os dilemas ficam complexos.
E essa discussão já está acontecendo. Mas enquanto isso, casais como Colby e Chad seguem o desejo de ter filhos livres de doenças que assolam suas famílias. Eles, inclusive, já estão planejando ter mais um filho.
New York Times
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