10.02.2011

Como saber se o seu filho é gay

Um polêmico aplicativo para aparelhos com Android promete ajudar pais a descobrirem se seus filhos são gays.

Desenvolvido pela Emmene-moi, o programa Mon Fils Est-Il Gay? (meu filho é gay?) é vendido por € 1,99 no Android Market, loja oficial de aplicativos para a plataforma do Google.
"Você tem dúvidas?", diz a descrição do app, que apresenta 20 questões para saber se está "tudo em ordem com o seu filho".

Divulgação
Telas do aplicativo Mon Fils Est-Il Gay? (meu filho é gay?), para aparelhos com Android
Telas do aplicativo Mon Fils Est-Il Gay? (meu filho é gay?), para aparelhos com Android
Algumas das perguntas que o aplicativo faz, diz o Huffington Post, são: "Ele gosta de se vestir bem?", "Ele gosta de futebol?", "Ele gosta de cantoras divas?", "Ele passa tempo se preparando antes de ser visto em público?" e "Ele já o apresentou a alguma namorada?".
Segundo o Huffington Post, a pessoa que solicitou a criação do aplicativo à Emmene-moi disse que o programa foi concebido com uma proposta brincalhona, divertida, com o objetivo de "ajudar mães a aceitar a homossexualidade de seus filhos" por meio do humor.
Folha
Quem imita quem?
Por Mônica Bergamo 
Com visual parecido, gays machos e héteros bombados vão à mesma balada e confundem os freqüentadores da noite
Você é gay? “Como você sabe?”, responde, preocupado, o estudante de marketing Alex Leonardo, 24. Ele esclarece: “Seguinte, “brother”, sou gay, mas não curto cara afeminado nem bichinha”.

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Alex usa boné, costeleta comprida, bermuda baixa com o abdômen depilado aparecendo, uma corrente prateada no pescoço, tatuagem no braço. Diz que, no mês que vem, pretende tomar “bomba” pra ficar forte. Ele dá a entrevista ao repórter Paulo Sampaio em um bar na rua Farme de Amoedo, a mais gay do Rio.
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No interior de São Paulo, em uma rave de música eletrônica, o representante de vendas Henrique Nunes, 22, chapéu, peito bombado, oblíquo do abdominal depilado, calça baixa, cinto Dolce & Gabbana, cueca Calvin Klein aparecendo, etc., etc., dança com a namorada, a modelo Valkiria Sinegali, 22, em uma rave de música eletrônica no interior de São Paulo: “Sou muito paquerado por homem, véio”, diz Nunes.
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A simples observação do físico ou da atitude -dos acessórios, da música (eletrônica) e dos termos que o “brother” usa- não é mais suficiente para definir a orientação sexual dele. Na balada, a confusão é geral. Os dois grupos, que há até pouco tempo não se freqüentavam, agora dançam lado a lado, no mesmo balanço sobre pernas semi-flexionadas e dedos polegar e indicador em forma de “pistola”; muitos tiram a camisa na pista, mas não assumem que é para exibir o peitão; a maioria diz que “é calor”.
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Mas, afinal, quem imitou o outro? O dentista homossexual Diego Tavares, 30, diz que “os héteros seguem os gays”. “Eles vêem que a gente é sarado, sabe se vestir, dançar, e está sempre rodeado das mulheres mais bonitas e desencanadas, e nos imitam para ver se conseguem se aproximar delas”, diz Tavares, boné, correntão, peito bombado, depilado, tatuagem…

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Os héteros acham que, ao contrário, o gay é que foi na direção deles. “A maioria quer parecer com a gente porque nos acha bonitos, e também para passar despercebida. Gay sente atração por “homem-homem”, não por bicha afetada”, diz o universitário Fernando Piedade, 23, boné, correntão, peito bombado, depilado.
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No alucinante mundo eletrônico das aparências, o “homem-homem” a que Piedade se refere é uma imagem consensual, pasteurizada. Segue uma espécie de fórmula que leva todos a parecerem o mesmo. “Sou vaidoso e um pouco consumista, sim. Afinal, eu trabalho duro”, diz o estudante de hotelaria Rodrigo Pompeu, 25, que depila o torso “para ficar mais definido”. No momento, Pompeu está sem namorada nem camisa, e veste roupas e acessórios das grifes Ralph Lauren, Adidas, Armani e Prada (ele é heterossexual).
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A estética da “masculinidade comum de dois” mistura roupas de grife com um linguajar deliberadamente “malandro” (“Beleza véio?”; “Fala mano!”; “Firmeza?”), gírias abrutalhadas (“saradaço”, “bombadão”) e signos de macheza, como orelhas amassadas e cachorros malvados (casualmente, um dos maiores chamarizes em sites de busca homossexual é o nickname “Jiu-Jitsu”).
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“O gay pode ser espinhudo, calvo, baixinho, tudo, menos feminino. Então, para parecer macho, usa expressões como “E aí, brother?”, engrossa a voz ao telefone e diz: “Sou muito discreto, ninguém em casa desconfia de nada’”, diz o empresário Sérgio di Pietro, 27, dono do disponível.com, o maior site de relacionamento do Brasil, com 300 mil usuários, 90% gays.
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O gay-macho costuma se aferrar a um forte patrulhamento. “Eu não forço nada, tenho um jeito naturalmente masculino. Mas muitos gays imitam homens, outros nem conseguem. Usam bomba pra ficar fortes e, quando abrem a boca, sai aquela vozinha”, diz o universitário Raphael Martins, 26. Ao posar para a foto, ele cruza os brações, estufa o peito e explica por que não se depila. “Pêlos são coisa de homem. Não tenho nada contra biba, mas gosto de homem. Já peguei cara casado e que namora mulher. Meu namorado tem atitude de homem.”
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Valorizado por sua “atitude de homem”, o hétero bombado também parece duro como um animal empalhado -mas suas explicações para as semelhanças com os gays são menos rebuscadas. “Eles ficam fortes pra atrair homens, brother; nós, para atrair mulheres”, diz Felipe Rodrigues, 23, óculos, corrente, peito bombado, depilado, Calvin Klein…
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Acontece que, na noite, as coisas não são tão claras. O professor de educação física Leandro Dantas, 27, 1,93 m, 47 cm de bíceps, 118cm de peitoral liso, conta: “Conheci uma menina linda em uma balada GLS, que deu o mó mole, e, quando me aproximei, ela queria que eu transasse com o amigo dela”. O hétero bombado, apesar da reconhecida “confusão estética”, muitas vezes têm tanto medo de parecer gay quanto o próprio gay. “Tá de sacanagem?”, responde um rapaz de boné, peitão, correntão etc, quando a reportagem o aborda sobre as semelhanças.
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O personal trainer gay Oswaldo Ferreira, 30, peito bombado, etc., diz que “a coisa mais engraçada é o cara saradão que passa por você com a namorada, e te mede, não necessariamente para paquerar, mas pra ver quem tem o corpo maior. Tipo competição, sabe?”.

Por que vc quer saber se seu filho é gay?



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Para começar, se vc está desconfiando é porque de alguma forma JÁ SABE  que seu filho ou filha é gay. Então quer ter certeza disso – mas por quê e para fazer o quê com esta certeza?
Por que vc quer ter certeza que seu filho é gay?
Provavelmente para se culpar. Mãe dominadora e pai fraco tinha que dar nisso mesmo… Vc quer saber onde errou na criação, porque afinal a culpa tem que ser de alguém, preferencialmente sua. Ou do outro parceiro, que (escolha a alternativa aplicável): saiu de casa, arranjou um/a amante, bebia, não se dedicou à família, etc.
Em primeiro lugar, vamos aos fatos científicos sobre a homossexualidade. Ninguém sabe o que leva uma pessoa a tornar-se homossexual, isto é, a sentir atração física por outra pessoa do mesmo sexo genital. Da mesma maneira, ninguém sabe com certeza porque uma pessoa torna-se heterossexual. O que há são hipóteses, mas nenhuma certeza. Na primeira hipótese, o homossexualismo teria uma causa natural. Há alguns anos, um estudo mostrou que gêmeos separados no nascimento (tendo sido portanto expostos a influências culturais distintas) tornaram-se igualmente gays. Haveria um gene, ou mutação, ou mesmo degeneração genética que levasse à homossexualidade? Os estudos científicos ainda não comprovaram que alguém nasce homossexual, ou com tendência a tornar-se homossexual, por alguma predisposição genético-fisiológica.
Do outro lado está a hipótese cultural, isto é, de que a homossexualidade é resultante da influência do meio-ambiente (por exemplo, a famosa dupla mãe dominadora + pai fraco). Essa hipótese também não se sustenta. Se fosse verdade, todos os filhos dessa família seriam homossexuais, o que não é verdade. Ou também nunca haveria um homossexual numa família “normal” (o que quer que seja essa normalidade!). Ou os filhos de homossexuais assumidos seriam necessariamente gays, por falta de exemplos de “comportamento sexual normal”. Ou ainda, em algumas culturas haveria mais ou menos homossexuais (ou nenhum, como quer o atual presidente do Irã!). Nada disso é verdade – sempre houve gays, em todo tempo e lugar. Se na Bíblia há proibição ao homossexualismo é porque já havia homossexualismo naquele tempo, não?
A conclusão é que não se sabe se alguém já nasce (hipótese natural) ou se torna (hipótese cultural) homossexual, nem porquê. O mais provável é que a homossexualidade seja resultado de predisposição genética, mais influência do meio, mais uma grande variedade de fatores aleatórios, mais sabe lá Deus o quê…
Então, se não temos certeza quanto às causas, como imputar a responsabilidade a alguém? Menos ainda aos pais. Vc pode se culpar de muitas coisas, mas não de ter “provocado” a homossexualidade do seu filho.
O fato é que ninguém “escolhe” ser homossexual – assim como não “escolhe” ser heterossexual (ou qualquer outra coisa entre uma ponta e outra!). A escolha pressupõe liberdade entre alternativas igualmente aceitáveis, o que não é absolutamente o caso quando se trata de sexualidade. Ou vc escolheria ser gay se quisesse?
Para quê vc quer ter certeza de que seu filho é gay?
Se for achando que tem cura ou que vai conseguir algum outro resultado alternativo, lamento desapontá-lo… As únicas escolhas que se pode fazer em relação à homossexualidade são aceitá-la ou renegá-la; conseguir com que um homossexual deixe de sê-lo é impossível!
Se vc escolher negar a sexualidade do seu filho, saiba que isso não produzirá nenhuma mudança na sua sexualidade. Ele poderá esconder, envergonhar-se, culpar-se, até mesmo casar-se, mas é bastante pouco provável que deixará de continuar sendo homossexual.

Agora, se escolher aceitar, por mais duro que seja para vc, talvez seja o caminho para ajudar seu filho ou filha a ser uma pessoa mais plena, em paz com sua sexualidade e com maiores possibilidades de ser uma pessoa feliz.
A questão religiosa
Pode ser também que como pai ou mãe você esteja vivendo um dilema de natureza religiosa quanto à sexualidade do seu filho. “É contra a vontade de Deus”, diz o padre. “É coisa do demônio”, diz o pastor. “É contra a natureza”, dizem os mais “esclarecidos”.
Aqui a questão fica mais difícil porque envolve questões de fé, que transcendem à lógica de uma discussão racional. Mas diante de tudo que já discutimos até aqui, já deve ter ficado claro que ninguém é homossexual por escolha própria, ou por falta de vergonha, ou por falta de oração, ou por influência dos amigos ou de Satanás. “É por que é, sabe lá Deus porquê!”, podemos dizer. Se só Deus sabe o porquê, não temos nós o direito de interferir nos seus desígnios.
O que seu filho vai esperar é saber de que lado você está: se do lado dele, apoiando sua situação, ou do lado da religião, que pode estar errada, como já esteve muitas vezes no passado. Basta lembrar quanta gente foi morta impiedosamente durante os 500 anos que durou a Inquisição. Ou em todas as pessoas mortas em todas as guerras religiosas que alegam estupidamente o nome de Deus em vão.
O difícil caminho da felicidade
Talvez nada do escrito acima se aplique ao seu caso. Vc pouco está preocupado com o que seu filho/a faz da vida sexual dele, apenas “se preocupa” com o seu futuro. Isto é, gostaria que ele tivesse uma família “normal”, uma profissão decente (o que evidentemente exclui ser cabelereiro, maquiador e que tais) e o respeito da sociedade. E acha, ainda que inconscientemente, que os homossexuais não podem ter uma vida digna e plena.
Essa vida digna é a mesma que vc desejaria para um filho heterossexual, certo? Mas será que o simples fato de ele ser heterossexual vai lhe garantir automaticamente essa vida digna? As evidências apontam que vai depender dele (e só dele) construir uma família, uma carreira e o respeito social.
Por que com seu filho gay seria diferente? O fato de alguém ser gay ou lésbica não lhe negará automaticamente o direito à felicidade e à dignidade. Ele também terá de construí-la, arduamente, a cada dia da sua vida. Como você o fez (e sabe que não é fácil), como todos têm que fazer. Na busca da sua felicidade, a homossexualidade não será nem impecilho, nem vantagem, apenas um dado a mais no cenário da sua vida.
***
Leia mais:
Por Edgard Almeida

Um comentário:

Anônimo disse...

Este texto está bem escrito e, o melhor, não é tendencioso. Parabéns, vc informa, apresenta as situações, e deixa para o leitor refletir.Parabéns por ser equilibrado, não ser preconceituoso, e apresentar os dados friamente. Ser gay ou nãos ser não é o problema.O problema é ainda vivermos numa sociedade que discrimina, que massacra com seus preconceitos, que não enxerga a pessoa como uma alma, vê apenas o exterior, e classifica, e pune...