Fotógrafo passa mal após inalar gás de pimenta em protesto perto do Maracanã
Chefe da Polícia Civil evita comentar ação do Batalhão de Choque
Christina Nascimento
Rio - O fotógrafo Luiz Roberto Lima, que trabalha
nas agências Globo e Estado, passou mal após inalar gás de pimenta
usado pela polícia na manifestação da tarde deste domingo, na Radial
Oeste, na Zona Norte.
Após quase cair no chão com o efeito da fumaça do gás lacrimogêneo e de
pimenta, o profissional foi socorrido por um bombeiro militar, que
também tinha sido atingido, mas que, mesmo com os olhos ardendo e
lacrimejando, retirou o jovem do local de conflito e deu os primeiros
socorros.
Luiz Roberto Lima passou mal após inalar gás de pimenta
Foto: Christina Nascimento / Agência O Dia
NEGOCIAÇÃO NO PARQUE
Manifestantes saíram com as mãos para o alto, encurralados. Fotógrafo ficou ferido
Encurralados pelo Choque, estudantes buscaram refúgio perto do Museu
Nacional, na Quinta. Muitos jornalistas e visitantes pediram aos
policias que não entrassem no parque, o que não impediu que eles
jogassem as bombas.
O grupo só deixou o local após um ‘acordo’ de que
não fariam mais protesto com o fechamento de vias. Por volta de 18h, os
jovens, que até então só estavam armados com gritos de ordem, se
‘renderam’, saindo com as mãos para cima. Uma cena bem estranha.
Os manifestantes disseram que tentaram seguir a determinação dos agentes
de segurança e encaminharam ofício sexta-feira para o 4º BPM (São
Cristóvão) informando sobre o ato. Além disso, não chegaram em frente ao
Maracanã. por orientação da polícia. Entre os feridos no protesto está o
fotógrafo Luiz Roberto Lima, que trabalha nas agências Globo e Estado.
Ele passou mal ao inalar gás lacrimogêneo.
Vídeo: Mais tumulto e confusão na Radial Oeste
Na 18ª DP (Praça da Bandeira), para
onde foram levados sete jovens detidos, a chefe da Polícia Civil, Martha
Rocha, conversou com cerca de 500 manifestantes que fizeram um ato em
frente à delegacia.
Ela ouviu as reclamações da truculência
da Polícia Militar, mas não quis comentar o assunto, porque não se
trata da instituição dela. De lá, o grupo partiu para a 20ª DP (Vila
Isabel), onde uma garota foi levada por desacato.
Polícia entra em confronto com manifestantes na Quinta
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Violência policial marca dia de protesto no Maracanã
Até pessoas que não estavam na manifestação foram atingidas na Radial Oeste e Quinta da Boa Vista
Christina Nascimento
, Luisa Bustamante
, Luiz Almeida
e Ricardo Schott
Rio - A Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, e o
entorno do Maracanã pareciam cenários de uma guerra durante a
manifestação de estudantes contra o aumento do custo de vida, neste
domingo. Numa ação em que mostrou despreparo, o Batalhão de Choque usou
balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo e de pimenta contra o
grupo de cerca de duas mil pessoas que protestava de forma pacífica.
Sobrou até para quem estava só passando por perto. A Polícia Militar, no
entanto, negou que tenha havido excesso e afirmou que vai repetir a
tática quando obstruírem vias (no caso de ontem, as que davam acesso ao
estádio foram bloqueadas).
Vídeo: Bombas e gás contra os manifestantes
O grupo repetia gritos de guerra como ‘Sem violência’ e ‘Choque, eu te
amo’. “Isto aqui é uma manifestação pacífica, então vamos combinar: quem
tem pavio curto fica atrás. Quem tem paciência vai na frente. Sem
violência, sem palavrão e sem máscaras. Ninguém precisa esconder o
rosto”, orientou o estudante de direito Adolfo Vieira Tavares, 28 anos.
Muitos pais amarraram camisetas nos rostos das crianças para que elas
não respirassem a fumaça das bombas lançadas na Quinta, onde parte dos
manifestantes se aglomerou fugindo do Choque. Famílias que faziam
piquenique saíram correndo. O portão do parque chegou a fechar.
“Só queria passar o domingo com meu filho. Estou chocada. Ele começou a
chorar com o barulho dos tiros e com a ardência na garganta da fumaça”,
contou a secretaria Maria José Silveira, 28. A confusão acabou com a
festa de aniversário da filha de 9 anos da psicóloga Kelly Campos, 42:
“As crianças estão assustadas. Não tem clima mais”.
Polícia entra em confronto com manifestantes na Quinta
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
A ação da polícia não poupou nem quem tentava embarcar na Estação de São
Cristóvão, onde o metrô fechou depois da confusão. O militar Artur
Bandeira e a namorada, Rayanne Oliveira, foram surpreendidos com bombas
nos acesso às plataformas. Hoje haverá manifestação às 17h na
Cinelândia.
Torcedores que iam ao jogo atingidos
A primeira ação da polícia começou cerca de 20 minutos antes das
seleções do México e da Itália entrarem em campo. Foi em frente ao
Viaduto Oduvaldo Cozzi, onde os manifestantes se agrupavam. No momento
da confusão, torcedores que chegavam ao estádio acabaram também
atingidos pelas bombas lançadas pelo Batalhão de Choque.
Polícia entra em confronto com manifestantes na Quinta
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
A estudante Erika Sampaio, 23 anos, que sofre de asma, ficou desmaiada
por alguns minutos. Ela foi socorrida por colegas, que a carregaram no
colo até um dos locais onde a fumaça das bombas estava mais fraca. O
grupo se dispersou, mas se reuniu novamente em frente à Quinta.
Não demorou meia hora para que a polícia voltasse a agredir os
manifestantes, que tentavam se rearticular. Da Quinta, grupo de 500
manifestantes foi levado para a 18 ª DP (Praça da Bandeira), onde sete
pessoas foram detidas para averiguação. No local, estava a chefe da
Polícia Civil, Martha Rocha, que conversou com os jovens rapidamente.
Ela não quis falar sobre a ação da Polícia Militar, mas fez questão de
atender o advogado do grupo detido.
Polícia entra em confronto com manifestantes na Quinta
Foto: Estefan Radovicz / Agência O Dia
Manifestantes pagos para isso’, diz Agnelo sobre ato contra Copa no DF
PM usou bombas de gás para conter protesto antes da abertura do evento. Conflito de sábado terminou com 19 presos e 10 adolescentes apreendidos.
Do G1 DF
O governador do Distrito Federal,
Agnelo Queiroz, afirmou nesta segunda-feira (17) que a atuação da
Polícia Militar na repressão dos protestos contra os gastos na Copa das
Confederações ocorrido pouco antes da abertura do evento, com a partida
entre Brasil e Japão neste sábado, ocorreu para “proteger o cidadão,
combater a legalidade”. Segundo ele, os agentes só agiram quando o grupo
tentou invadir o estádio. Ele afirmou que os manifestantes foram pagos
para realizar o ato. O grupo nega que tenha sido financiado e afirma que
houve truculência por parte da polícia.
“Ali tinha gente com objetivo de prejudicar essa festa, passar uma
imagem negativa. [...] Uma manifestação que não tinha uma bandeira, não
tinha uma proposta”, afirmou em entrevista ao Bom Dia DF. “Ali, durante
todo o percurso, a polícia apenas acompanhou, eles passaram por várias
áreas e barreiras que não poderiam ter passado. [...] A polícia
acompanhou e protegeu a entrada e por ali podia fazer a manifestação que
fosse. [...] Quando passou do limite, que ameaçava o evento [a polícia
agiu].”
Responsável pela organização do protesto ocorrido na sexta, Chico
Carneiro afirmou que os manifestantes dois dois eventos eram
voluntários. Ele também reforçou o caráter pacífico da ação e disse que
em nenhum momento houve intenção de entrar em confronto com a polícia.
Outras pessoas que estavam no local afirmaram que a reação da PM foi
desproporcional.
Uma estudante da Universidade de Brasília que ficou ferida durante a
ação disse que não havia necessidade do uso de gás lacrimogêneo nem de
tiros de borracha. A garota foi atingida de raspão na perna e também
recebeu spray de pimenta no rosto. Ela precisou ser atendida pelo Samu.
A Polícia Civil informou que investiga a relação entre os protestos
ocorridos na sexta e o de sábado, que fechou o Eixo Monumental com
queima de pneus. Duas pessoas foram presas na madrugada de sábado
suspeitas de tentar alterar semáforos e prejudicar o trânsito na
abertura do jogo.
Os manifestantes se reuniram por volta das 9h, na Rodoviária do Plano
Piloto. Um grupo de 800 pessoas, segundo a Polícia Militar, caminhou
pela via N1 do Eixo Monumental, e se aglomerou próximo ao Estádio
Nacional Mané Garrincha, onde aconteceu a partida.
No início da tarde, os manifestantes foram isolados pelos policiais.
Segundo o comandante da PM, Jooziel Freire, depois da ação da
corporação, boa parte daqueles que faziam o protesto foi embora. Por
volta das 14h20, alguns manifestantes tentaram invadir a área onde só
tinham acesso torcedores com ingresso, o que deu motivou um novo
conflito, segundo a PM.
“Nós dialogamos com os manifestantes até o limite, que era a entrada do
estádio, ali próximo ao raio X. Eles enfrentaram a tropa para entrar no
estádio. Nós fizemos o uso progressivo da força, primeiro com as motos,
depois a cavalaria, até o momento em que não houve mais negociação e a
tropa de choque entrou em ação”, afirmou Freire.
De acordo com o diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Xavier, os
manifestantes presos foram encaminhados à delegacia por desacato,
resistência, desobediência e lesão corporal. Um dos detidos vai
responder por dano a patrimônio público por ter lançado objetos contra
uma viatura da PM. Todos foram liberados depois de assinar termo
circunstanciado e passar pelo IML.
Ainda no sábado, o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar,
afirmou que a ação da polícia para conter os conflitos com manifestantes
“foi perfeita”. Segundo o GDF, 19 pessoas foram presas e 10 adolecentes
foram apreendidos. O governo informou que 39 pessoas foram atendidas
pelo Samu, três por ferimentos de balas de borracha, disparadas por PMs,
que também reagiram atirando gás lacrimogêneo.
Avelar disse que a atuação da segurança impediu que os torcedores
tivessem problemas e que, apesar dos protestos, não houve prejuízo ao
jogo. “Nunca na história do Distrito Federal se teve um evento tão
grandioso. O mundo inteiro estava nos vigiando. A Polícia Civil a
Polícia Militar foram postos à prova e se saíram extremamente bem. Por
causa da manifestação, [a polícia] poderia ter perdido o controle da
situação.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário