Relacionamentos com namoradas em jogos virtuais estão substituindo os casos reais para muitos japoneses; cineasta tenta entender o assunto
Em um documentário da BBC intitulado No Sex Please, We're Japanese (Sem
sexo, por favor, somos japoneses, em tradução literal), a cineasta
Anita Rani investiga um fenômeno que ameaça diminuir até um terço a
população japonesa nos próximos 50 anos. Uma das explicações seria o
súbito desinteresse dos homens por sexo. As informações são do Daily
Mail.
Na cidade de Tóquio, com uma população de 35 milhões de
pessoas, apenas 250 mil bebês nascem por ano. É um número
proporcionalmente pequeno se comparado a Londres, com 135 mil
nascimentos por ano para uma população de 8 milhões.
Segundo a cineasta, muitos japoneses abriram mão de uma
vida sexualmente ativa para terem relacionamentos virtuais - são os
chamados otakus. Eles namoram mulheres de jogos interativos.
Um dos entrevistados, Yugai, de 39 anos, tem uma
namorada no game Love +, da Nintendo. "Gosto demais das garotas desse
jogo", disse, afirmando que tenta não ter pensamentos sexuais sobre ela,
já que sabe que é uma relação platônica. Perguntado se ele gostaria de
ter uma namorada de verdade, ele diz que sim, mas que está
emocionalmente envolvido com Ne-ne. A personagem, por sua vez, diz
coisas como "você realmente quer conversar a essa hora da noite?" ou
"Porque eu gosto de você, sempre vou querer estar com você" e "vamos
à praia, sonhar e nos divertir".
Yugai, que diz ter 17 anos no jogo, diz que é mais fácil
ter um namoro virtual porque não precisa pensar em casamento. "Com
namoradas de verdade, é preciso pensar em casar uma hora, por isso penso
duas vezes antes de sair com uma mulher '3D'."
Um dos entrevistados que não é otaku afirma que o
comportamento é compreensível, já que muitas vezes o virtual supera as
expectativas do real. "Conheço muitos homens japoneses que preferem esse
tipo de jogo, que às vezes até contêm pornografia, a uma experiência
com o sexo oposto que possa ser complicada", disse.
"Os homens não desenvolveram uma autonomia ou um senso
de individualismo e há uma geração de mulheres que querem mais. Querem
ter suas próprias vidas e querem homens que também sejam independentes",
completou.
As mulheres, por sua vez, não ficam surpresas. Das
entrevistadas pelo documentário, uma disse "eles têm medo do contato com
gente de verdade".
Em uma pesquisa recente de uma companhia de seguros,
descobriu-se que um terço dos homens japoneses abaixo dos 40 anos nunca
teve uma namorada. Mas as mulheres não ficam atrás, pois em outra
pesquisa notou-se que 45% das mulheres entre 18 e 24 anos não estavam
interessadas em contato sexual.
Ai Aoyama, conselheira sexual, afirma que algumas
pessoas não conseguem se relacionar fisicamente com outra, do mesmo sexo
ou do sexo oposto. "Eles desviam se encosto neles", disse.
Para a cineasta, incentivar a imigração é um bom começo
para resolver o problema, porque seria um estímulo para as japonesas
serem mais livres e trabalharem após o casamento, o que hoje ainda é um
tabu no Japão. "Todos no país sabem do problema, e há muita discussão
sobre o assunto."
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