Luis Nassif
Para entender o comportamento dos atuais presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do senado, Renan Calheiros, há que se considerar a Lava Jato.
Ambos representam duas faces complementares do que de pior a política brasileira produziu. Desde os tempos de PC Farias, Cunha se meteu em um sem-número de aventuras polêmicas e, na Câmara, se consagrou como representante de altos (e nem sempre transparentes) interesses econômicos.
Seu estilo é se aproximar dos centros de poder e negociar. Nos tempos de presidente da Telerj, negociou com a Globo assegurando espaço para o cabeamento da Globo Cabo; prometeu Lista Telefônica para a Editora Abril; tentou enfiar na Telerj os equipamentos da NEC, controlada pelos Marinhos.
Ajudou a Associação dos Juízes Federais (Ajufe) do Rio, intermediando seus interesses junto ao governador Sérgio Cabral. Montou lobby em favor de empresas com interesses na Lei dos Portos. E, segundo acusações do Ministério Público Federal, valeu-se de uma companheira de bancada para aprovar medidas que pressionavam uma empresa que se recusava a pagar propinas.
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Já Renan pertence à estirpe nordestina de José Sarney. Batalha por colocar apaniguados em estatais e outros cargos públicos. Mas, até a Lava Jato, cumpria um papel estabilizador, quase de avalista do presidencialismo de coalizão.
Ambos – ele e Sarney – tiveram papel relevante na manutenção da governabilidade de sucessivos presidentes, ao preço do aparelhamento amplo da máquina pública.
Parte desse aparelhamento se deu na Petrobras, como constatou a Lava Jato.
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O desespero com a operação, o receio concreto de ser preso, levou Renan a abdicar da cautela e embarcar na aventura doida com Cunha, interferindo em todos os quadrantes do poder público com uma sucessão inédita de iniciativas parlamentares.
Perdeu a linha e a única legitimação para suas estripulias políticas: o bom senso na manutenção da governabilidade.
Sua tentativa de submeter a indicação de todos os diretores de estatais ao Senado soa hipócrita, quando se sabe ser ele o pivô da maioria das articulações do PMDB na máquina pública.
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Essa pro atividade elétrica de ambos visa despertar uma série de interesses em grupos de influência, de maneira a ganhar cacife para se contrapor às investigações do MPF.
É por aí que se entende a tentativa de desmanchar o precário federalismo brasileiro, conquistando apoio de governadores e prefeitos para uma redivisão à galega do bolo tributário.
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A essa dupla se soma o protagonismo sem limites do Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). A maneira como interfere nas decisões coletivas do STF, sua desfaçatez em se pronunciar politicamente, o desrespeito a todos os poderes, torna-o o terceiro ângulo desse triângulo das Bermudas que gerou o vácuo institucional brasileiro.
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Os exageros começam a produzir reações, inclusive de setores aliados incomodados com essa marcha da insensatez.
Mas caberá ao MPF e aos Ministros do STF dar um basta nesse caos institucional, nessa falta de modos republicanos, na selvageria política que ameaça levar o país de roldão.
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