7.05.2015

Gregos votam contra exigências de credores por empréstimo

O ex-primeiro-ministro e líder da Nova Democracia, Antonis Samaras, renunciou neste domingo a presidência do principal partido de oposição na Grécia após a derrota do 'sim' no referendo realizado hoje. "Hoje renuncio a liderança da Nova Democracia e pedi ao Evangelos Meimarakis que assuma provisoriamente a presidência", assinalou Samaras, cedendo o cargo ao ex-presidente do parlamento e atual deputado.
Com 87% dos votos apurados, os gregos decidiram rejeitar as propostas feitas pelos credores internacionais em referendo realizado neste domingo no país. De acordo com o último balanço divulgado pelas autoridades, o "não" vence a consulta popular com 61,44% dos votos contra 38,56% do "sim".




Os gregos decidiram neste domingo (5), em referendo, não aceitar as condições dos credores do país em troca de ajuda financeira, dando o primeiro passo para o que pode culminar na saída do país da zona do euro. As medidas exigidas pelos parceiros europeus incluíam aumento de impostos e cortes nas aposentadorias. Com 90% dos votos apurados, o "não" tinha 61,44% dos votos.
Segundo as agências de notícias, a votação ocorreu sem incidentes. A estimativa é que 65% dos eleitores tenha comparecido à votação.
Gregos assistem pronunciamento do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, após vitória do não (Foto: Reuters)Pronunciamento do primeiro-ministro grego, Alexis
Tsipras, após vitória do não (Foto: Reuters)
"O referendo de hoje não teve ganhadores nem vencedores. É uma grande vitória em si mesma", disse o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, após a confirmação do resultado. "Mesmo nas circunstâncias mais difíceis, a democracia não pode sofrer chantagem", afirmou, falando indiretamente sobre as condições impostas pelos europeus.
"Quero agradecer cada um e todos vocês. Independentemente de como tenham votado, hoje nós somos um", disse Tsipras. "O mandato que vocês me deram não pede uma ruptura com a Europa, mas me dá mais força para negociar (...) Os gregos fizeram uma escolha corajosa. Sua resposta vai alterar o diálogo existente com a Europa".
Segundo o primeiro-ministro, a prioridade imediata é restabelecer o sistema bancário – cujas agências estão fechadas há uma semana por falta de liquidez – e a estabilidade econômica do país. Ele também afirmou que irá pedir uma reunião de líderes políticos para a manhã de segunda-feira, além de reiniciar as negociações para tentar chegar a um acordo com os credores internacionais e destacou que a prioridade é a reabertura dos bancos.
Após o a vitória do "Não", a Comissão Europeia anunciou que respeita o resultado do referendo na Grécia e indicou que seu presidente, Jean-Claude Juncker, consultará na segunda-feira altos dirigentes de instituições europeias.
Nesta segunda, Juncker terá uma teleconferência com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk; com o dirigente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e com o diretor do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, informou a Comissão em um comunicado. Juncker discursará, também na segunda, ante o Parlamento Europeu, reunido em sessão plenária em Estrasburgo (leste da França).
Europa reage
A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, definiram neste domingo, em conversa por telefone, que os líderes da zona do euro deverão se reunir na terça-feira para discutir a situação da Gréciax, depois que o país rejeitou, em referendo, os termos do resgate do país.
De acordo com o Palácio do Eliseu, sede do governo da França, Hollande vai receber já na tarde de segunda-feira a primeira-ministra alemã para discutir o resultado do referendo. No comunicado, a presidência francesa aponta que o encontro marca a "cooperação permanente entre França e Alemanha para contribuir com uma solução duradoura para a Grécia".
Mas o vice-primeiro-ministro alemão, Sigmar Gabriel, disse que, com o resultado, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, "derrubou as últimas pontes sobre as quais a Europa e Grécia poderiam ter se movido em direção a um acordo".
Efeitos
Pouco após o resultado final ter se desenhado, o líder da oposição grega e ex-primeiro-ministroAntoni Samaras renunciou à presidência do partido Nova Democracia. "Nosso partido precisa de um novo começo. Estou renunciando da liderança da Nova Democracia", afirmou Samaras em pronunciamento na televisão local.
O euro recuava neste domingo ante o dólar, enquanto o "não" se encaminhava para uma vitória no referendo. Às 18h30 GMT (15h30 de Brasília), um euro valia US$ 1,0963, em baixa de 1,58% com relação ao fechamento na noite de sexta-feira, nas negociações eletrônicas que antecipam a abertura dos mercados asiáticos.
Partidários do 'não' comemoram resultado do referendo na praça Syntagma, em Atenas (Foto: Yannis Behrakis/Reuters)Partidários do 'não' comemoram resultado do referendo na praça Syntagma, em Atenas (Foto: Yannis Behrakis/Reuters)Comemoração
Ainda antes do resultado final, os partidários do "não" já festejavam na praça Syntagma, em Atenas. Ainda durante a apuração, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, falou à população e afirmou que a vitória do "não" é um "sim" à democracia na Europa.
Milhares de partidários do "Não" lotaram a praça Syntagma, no centro de Atenas, para comemorar a vitória no referendo celebrado este domingo na Grécia. Cerca de  5 mil manifestantes, segundo a polícia, exibiam bandeiras gregas e cartazes com a palavra OXI (Não), repetindo palavras de ordem contra a austeridade.
"Não por uma pátria livre" e "Não pelo futuro, por nossos filhos", diziam alguns dos cartazes levados pelos manifestantes de um partido de extrema-esquerda, EPAM (Frente Unidos Popula).
Também havia festejos perto da Universidade, onde se concentrava cerca de mil militantes do Syriza. Ao redor da praça Syntagma os manifestantes gritavam "Oxi, oxi", alguns cantavam e outros dançavam.
Partidários do 'não' comemoram resultado do referendo na praça Syntagma, em Atenas (Foto: Marko Djurica/Reuters)Partidários do 'não' comemoram resultado do referendo na praça Syntagma, em Atenas (Foto: Marko Djurica/Reuters)
Pouco depois do final da votação, o porta-voz do governo grego, Gavriil Sakellaridis afirmou que o governo quer retomar as negociações com os credores imediatamente. "As negociações que vamos começar devem ser concluídas muito rapidamente, mesmo em 48 horas", afirmou. O governo acredita que a vitória do "não" dá mais força à Grécia nas negociações, permitindo condições mais favoráveis ao país.
Com a vitória do "não", a consultoria norte-americana Teneo estima que a probilidade da Grécia deixar o euro subiu para 75%.
Com os bancos correndo o risco de ficar sem dinheiro já na segunda-feira, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, deve se reunir ainda neste domingo com os banqueiros do país. O governo também informou que vai pedir uma ajuda emergencial ao Banco Central Europeu para garantir a liquidez das insttuições. Sem esses recursos, o governo grego pode ser obrigado a voltar a emitir dracmas – a moeda anterior ao euro.
"Amanhã (segunda-feira) o conselho do BCE se reúne. Há argumentos válidos a favor de um maior financiamento através do ELA (a ajuda emergencial)", disse Sakellaridis em entrevista à emissora "ANT1", mostrando confiança de que os representantes da instituição mostrarão compreensão para encontrar uma solução viável para a crise do país.
Votos são contados em Atenas neste domingo (Foto: Stefanos Rapanis/Reuters)Votos são contados em Atenas neste domingo (Foto: Stefanos Rapanis/Reuters)

Urna é retirada após o fim da votação em Atenas (Foto: Marko Djurica/Reuters)Urna é retirada após o fim da votação em Atenas (Foto: Marko Djurica/Reuters)
A Grécia deve mais de R$ 1 trilhão e, na semana passada, não fez o pagamento de uma parcela de € 1,6 bilhão ao FMI, o que oficialmente bloqueou o acesso do país a mais fundos. O sistema bancário do país está à beira de um colapso e o governo impôs um regime de controle de capitais, que vai de retiradas bancárias ao envio de dinheiro para o exterior.
Protestos
Manifestantes tomaram conta de Atenas nos dias que antecederam a votação, mostrando o país dividido entre os que defendem as reformas impostas à Grécia e os que recusam as medidas. Houve tumultos e a polícia chegou a intervir com gás lacrimogêneo.
O que o referendo perguntou?
A consulta perguntou se os eleitores aceitam o acordo proposto pela Comissão Europeia, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 26 de junho. Dividido em duas partes, o acordo exige uma série de reformas para cortar gastos e aumentar a arrecadação. Os gregos tiveram que escolher entre duas respostas: não ou sim. Para os principais líderes europeus, a pergunta é outra: se a Grécia deve ou não ficar na zona do euro.
Referendo na Grécia (Foto: Arte/G1)
Quais são os termos do acordo?
Os credores pedem que os gregos cortem benefícios de aposentadorias e pensões e aumentem impostos para melhorar a saúde financeira do país. Os pontos centrais da proposta são a ampliação do imposto IVA e uma redução drástica no número de pessoas que podem optar por uma aposentadoria antecipada. Os credores também exigem ações para reduzir a evasão fiscal e acabar com a corrupção. Só assim vão liberar a ajuda de € 1,8 bilhão que Atenas precisa para pagar uma parcela de sua dívida com o FMI – e que venceu no dia 30 de junho.
O que pensa o governo grego?
O partido que ocupa o poder na Grécia não aceita as condições impostas no acordo, alegando que as medidas são "humilhantes", pouco eficazes e penalizam a população. Na sexta-feira, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, fez um pronunciamento na televisão apelando aos gregos para votar pelo "não", rejeitando o que chamou de "chantagem" e "ultimato" por parte dos credores.
Cédula de votação do referendo deste domingo (5) (Foto: Reprodução)Cédula de votação do referendo deste domingo (5)
(Foto: Reprodução)
O que acontece agora?
O porta-voz do governo da Grécia, Gavriil Sakellaridis, afirmou na quinta-feira que uma vitória do "não" permitirá voltar à mesa de negociações para conseguir um acordo em melhores condições. Mas se esse acordo não sair, a Grécia pode ser expulsa da zona do euro por calote. A saída do país da unidade monetária permitirá que a Grécia volte a controlar sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações. Mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.
A Grécia vai sair do euro?
Ninguém sabe ao certo. Não existe uma regra e até o vice-presidente do Banco Central Europeu, Vitor Constancio, disse em abril que não havia qualquer lei que determine a expulsão da zona do euro em caso de calote. O governo grego insiste que não está tentando abandonar a moeda e até insinuou que poderia iniciar processos legais caso os outros países da zona do euro tentem expulsar a Grécia. Se o Banco Central Europeu decidir bloquear completamente o crédito para Atenas, as autoridades gregas não teriam mais opção a não ser começar a imprimir sua própria moeda para tentar manter a economia funcionando.
O que diz o FMI?
O Fundo disse que considera a dívida da Grécia "insustentável". Em documento publicado após a Grécia deixar de pagar uma parcela de sua dívida, o FMI apontou que o país precisa de ao menos € 50 bilhões até 2018 para conseguir fechar as contas. Segundo o fundo, mesmo que a Grécia aprove o plano dos credores no referendo, o país precisará de uma nova ajuda nos próximos três anos. Do total, ao menos € 36 bilhões teriam de ser financiados com recursos europeus. Hoje, a dívida grega supera € 300 bilhões.
 O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, discursa pelo não no centro de Atenas, nesta sexta (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis)O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, discursa pelo não no centro de Atenas, nesta sexta (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis)

Manifestantes reúnem-se no centro de Atenas antes do referendo sobre o futuro da economia grega, nesta sexta-feira (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis)Manifestantes reúnem-se no centro de Atenas antes do referendo sobre o futuro da economia grega, nesta sexta-feira (3) (Foto: Reuters/Yannis Behrakis)
RESUMO DO CASO- A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
- Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
- Na última terça-feira (30), venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Então, o país entrou em "default" (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro.
- Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da zona do euro.
- Como a crise ficou mais grave, os bancos ficaram fechados nesta semana para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
- A Grécia depende de recursos da Europa para conseguir fazer o pagamento ao FMI. Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu na terça-feira.
O governo grego apresentou uma nova proposta de ajuda ao Eurogrupo, grupo que reúne ministros da União Europeia, fazendo concessões, mas rejeitando algumas das medidas de cortes mais duras.
- O primeiro-ministro grego convocou um referendo para domingo (5 de julho). Os gregos foram consultados se concordam com as condições europeias para o empréstimo, e decidiram pelo "não"
- A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
- Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.

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