Rio
- “Por que não vai no jatinho do Lula?” A pergunta foi ouvida pelo
ex-ministro Ciro Gomes, do PDT, nesta sexta-feira no voo entre Fortaleza
e o Rio. “Foi a primeira vez que isso aconteceu”, diz Ciro, que na
madrugada de quarta-feira protagonizou um bate-boca, com direito a
empurrões e gritos, com militantes anti-Dilma Rousseff na capital
cearense. Conhecido pelo gênio explosivo e sem papas na língua, o
ex-ministro do governo Lula aciona sua metralhadora giratória: diz que o
vice Michel Temer é “chefe da facção”, e que Eduardo Cunha “encheu a
mão de dinheiro sujo roubando no governo Lula e um pedaço no governo
Dilma”. Afirma que a formada entre o PMDB e o PSDB para aprovar o
impeachment da presidente é um “sindicato de ladrões”. Pré-candidato à
presidência em 2018.
O DIA: A nomeação do ex-presidente Lula vai ajudar a presidente Dilma a se safar do impeachment?
Ciro:
Esse é o maior erro da história da República, desde que eu milito na
luta política há 30 anos. O Lula não é réu de coisa nenhuma e o fato de
ele ser ministro não impede, não inibe a franquia que a Justiça tem de
investigar. Isto dito, repito: esta é a pior ideia que eu já vi na minha
existência na vida pública.
Por que?
Porque ainda que
não seja, parecerá um constrangimento absolutamente gravoso ao Supremo
Tribunal Federal. Ainda que não seja, parecerá que o Lula estava
querendo fugir de um juiz ‘severo’ (entre aspas, frisa Ciro) para
presumindo impunidade se abrigar na jurisdição do Supremo. Tudo isso foi
agravado pelas gravações divulgadas. E o Supremo tem se comportado
muito bem, salvo um ou outro ministro. Não vamos esquecer que o Tribunal
prendeu a cúpula do PT inteira.Mas o Lula agora foi nomeado ministro
Ele vem para fazer o que no governo? Dizer que a presidente não tem autoridade? Ele vinha fazendo isso há muito tempo. Eu já tinha censurado isso publicamente muitas vezes. Agora, ele vem para o governo como interventor? O que restou da autoridade da presidente da República?
A ideia é que o Lula negocie com o Congresso, em especial o PMDB, a derrubada do impeachment da presidente na Câmara
Esse
é o erro ancestral, um erro orgânico (aliança com o PMDB). O vice
Michel Temer já se recusou a receber o Lula. Diz que só recebe ele no
gabinete. Quem está comandando o impeachment na Câmara? Quem impôs essa
velocidade frenética ao processo? Quem tem influência central sobre o
presidente e o relator da comissão de impeachment? É o PMDB; é o Eduardo
Cunha. Não dá para fazer discurso de seriedade, de moralidade, de
decência, como a Dilma tinha direito de fazer até essa nomeação do Lula,
assentado na esculhambação, na repartição fisiológica. Ou o Lula não
sabia que o Eduardo Cunha roubava em Furnas? Sabia. Eu disse. Por que o
Eduardo Cunha vira presidente da Câmara? Porque encheu a mão de dinheiro
sujo roubando no governo Lula e um pedaço no governo Dilma com a
vice-presidência da Caixa. Rouba R$ 1 bilhão, bota 300 mil no bolso e
divide o resto com os colegas . E aí dá as cartas.
O Aécio também roubou em Furnas?
Não tenho elemento, nenhuma prova.
Na sua avaliação o processo de impeachment vai andar mais rápido agora com o Lula na Casa Civil?
Antes
não havia consenso contra ou a favor do impeachment. Esse consenso
ainda não existe, mas agora deu muitos passos acelerados para o
consenso. O que eu tenho a ver com os problemas do Lula? O que eu tenho a
ver se o Lula resolveu virar ‘nouveau riche’ e se dá às franquias da
burguesia num sítio e num tríplex? O que eu tenho a ver com isso? Ele
tem o direito de ser respeitado como inocente. O juiz errou quando fez
condução coercitiva dele para depor. Esse vazamento todo das gravações é
uma violência fascista, todo fora do Direito. Mas o que eu, Ciro Gomes,
tenho a ver com a vocação do Lula para virar Deus? Não tenho nada a ver
com isso. A nomeação do Lula agravou o problema dramaticamente. Nós
estamos na iminência de uma cleptocracia (estado governado por ladrões)
se instalar no Brasil.
O senhor foi ministro do governo Lula e
agora, com o retorno dele ao Palácio do Planalto, seu nome voltou a ser
cogitado para ser ministro da Educação. A presidente Dilma ou alguém do
Planalto o convidou para entrar no governo?
Todas
as sondagens que recebi, se foram verdadeiras ou não, não posso
afirmar, eu respondi categoricamente: isso é o maior erro que se cometeu
na história moderna brasileira. Em nenhuma hipótese, eu participo de um
governo que tem como o vice-presidente um chefe de facção, como Michel
Temer, aliado íntimo do Eduardo Cunha. Em nenhuma hipótese, eu
participaria desse governo.
O senhor está no PDT um partido que, em sua maioria, é contra o impeachment da presidente Dilma
Acho
que o impeachment é um golpe e ele agora ganhou muito mais qualidade
protocolar, formal, fica muito mais fácil esconder que ele é um golpe de
um grupo de cleptocratas, um sindicato dos ladrões.Quem é desse sindicato de ladrões?
O sindicato de ladrões agora é uma coalizão PMDB/PSDB, acertada em jantares em Brasília. Com detalhes de como vão repartir o governo, como o Michel Temer tem que assumir anunciando que não é candidato à reeleição. Como vão desarmar a bomba da Lava Jato, porque começou a sair do controle. Porque os políticos começaram a ver que pode sobrar para o lado deles. Isso é o que tá apalavrado, num jantar em Brasília, pelos cleptocratas do Brasil.
O senhor será candidato à presidência em 2018?
Não sei se eu vou ser candidato. Mas não me interessa servir um país que, para você ser presidente, tem que fazer o que o Lula fez: vender a alma, beijar a cruz, se cercar de bandidos. Não quero. Se for para ser candidato, vai ser com um conjunto de princípios. Neste momento, ainda estou gravemente aborrecido com o que eu estou assistindo acontecer. Ainda estou convencido que o impeachment é uma tragédia contra a democracia brasileira. A corrupção tem que ser intransigentemente combatida. Quem quer que seja, tem que dar satisfações à lei e à Justiça. Quero que se exploda quem meteu a mão na cumbuca. Agora, é o Michel Temer que vai moralizar o país? É o Eduardo Cunha que vai moralizar o país? O PMDB tem sete ministros no governo da Dilma. A melhor coisa que a gente tem é ter eleito o Picciani (Leonardo Picciani, líder do PMDB)? Eu não tô nessa turma. Eu sou obrigado a ficar desse lado, mas não me confundo. Não dá para ficar nessa turma. Não vou para uma reunião que planeja uma ação contra o impeachment com esse tipo de gente. Não tem a menor chance.
Por que?
Porque quem se mistura com porcos, farelo come.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda pode cassar a chapa Dilma/Temer
Se o TSE cassar a chapa, tem eleições gerais. E aí vem alguém. Acho que eles estavam com medo da Marina. Por isso, resolveram restaurar a tese do impeachment. Não estão vendo que é um golpe no país?
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