O
comerciante X. vive em Jardim Catarina desde que nasceu, há 39 anos.
Mas, há dez meses, mudou completamente os seus hábitos. Aquela conversa
com os vizinhos no portão e as brincadeiras com os filhos nas ruas do
bairro foram cortadas, desde que um grupo de traficantes passou a
dominar uma área até então tranquila. A presença dos criminosos é
nítida. Várias ruas estão fechadas por barricadas, para dificultar a
ação policial. Além disso, o número de assaltos na região explodiu.
Quem
passa pela Avenida Dr. Albino Imparato, se assusta com a quantidade de
ruas dominadas pelo poder paralelo. E a nova lei que impera na
localidade é a do completo silêncio:
— Passamos a viver em uma
rotina de medo e impunidade. Ligamos para a polícia, mas as coisas só
pioram. Estamos voltando a viver o mesmo caos da década de 90 —
desabafou o comerciante.
A ausência de policiais pelas ruas do
bairro também tem provocado uma explosão no número de assaltos. Segundo
dados do Instituto de Segurança Pública (ISP - RJ), o número de assaltos
na área da 74ª DP (Alcântara) saltou 42% no mês de agosto em relação ao
mesmo período do ano passado.
- Foto: Thiago Freitas / Agência O Globo Uma
moradora da Av. Santa Catarina, que também preferiu não se identificar
por medo de represálias, disse que tem vivido aterrorizada, depois que
passou a ver traficantes fortemente armados andando em frente à sua
casa:
— Já levaram a minha carteira duas vezes.
De acordo
com o comando do 7º BPM (São Gonçalo), operações são realizadas
constantemente no bairro. “O planejamento é voltado para a redução do
crime de roubo de rua, com prisões de marginais envolvidos na prática de
roubo”, respondeu, por meio de nota.
Com relação às barreiras em
vias públicas, o comando afirmou que tem buscado parcerias com outros
órgãos para remoção das barricadas. Ameaças gravadas nos muros do bairro Ameaças no muro na Rua Trinta e Nove Foto: Thiago Freitas/30.09.2014 / ExtraHá
dois anos, o EXTRA já havia denunciado a atuação do tráfico de drogas
no bairro. A reportagem mostrou diversas pichações com ameaças aos
moradores. As frases traziam mensagens do tipo: “Bem-vindo ao inferno”;
“Liga o alerta. O fuzil tá no óleo”; “Se vim apaizando (sic), vai ser
logo enquadrado”.
Na ocasião, os moradores da Rua Cristiano
Figueiras, trajeto por onde passam várias linhas de ônibus, também
reclamaram das inúmeras ruas tomadas por barricadas para impedir a
atuação da polícia. Depois da publicação, uma equipe do 7º BPM esteve na
comunidade e retirou as barricadas e apagou as pichações.
Inscrição em muro direcionada a moradores e policiais Foto: Thiago Freitas/30.09.2014 / ExtraDepoimento: ‘A insegurança aqui é um sentimento comum’
Um morador que pede anonimato conta como é a rotina de viver numa área sitiada pelo crime organizado:
“A
minha impressão é de completo abandono pelas autoridades. Não se vê
policiamento, nem blitz isolada ocorre mais. Os assaltos são constantes,
com pequenos furtos de celular, praticados por motoqueiros e assaltos
nos pontos de ônibus. Eu mesmo já tive meu celular roubado por dois
motoqueiros, há uns cinco meses. Estava voltando do trabalho e desci do
ônibus na Av. Albino Imparato. Quando entrei em uma rua paralela, fui
abordado por dois sujeitos em uma moto. Eles estavam armados com uma
pistola. Pediram apenas meu celular. Entreguei, e eles foram embora.
Eram 19h, e a rua estava movimentada. Fiquei muito revoltado e com uma
sensação gigantesca de impotência. Tenho vários conhecidos que também
sofreram o mesmo tipo de violência. Mulheres e crianças também não são
poupadas por esses marginais. A insegurança no Jardim Catarina é um
sentimento comum. A gente grita por socorro, mas as autoridades estão
surdas!”
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