Para confirmar a política entreguista, no dia seguinte, sábado, a "Folha de S.Paulo" trouxe como manchete de capa a informação de que o governo decidiu adotar um pacote de medidas cuja intenção é atrair R$ 371,2 bilhões em investimentos ao longo de dez anos e, com isso, dar mais impulso à economia. Será? Sabem quais são as medidas? Entre elas, a liberação do FGTS para aquisição de imóveis de até R$ 1,5 milhão, o aumento da faixa de renda para R$ 9 mil mensais na aquisição do Minha Casa, Minha Vida, venda de terras a estrangeiros, entrega de bens às Teles para ampliar a banda larga e a diminuição do conteúdo nacional para as licitações de petróleo e gás, o que impulsionava nossa indústria.
Definitivamente, este governo está cego, surdo e mudo para os anseios dos brasileiros. Essas iniciativas não vão trazer desenvolvimento e prosperidade, pelo contrário, vão concentrar ainda mais a renda. Assim como fez com o corte dos gastos e o que pretende com a reforma da Previdência e as mudanças nas leis trabalhistas, o principal foco de quem tirou a Dilma é privilegiar os mais ricos e, de quebra, dar o Brasil de bandeja para os interesses internacionais.
Por coincidência, também falei da tribuna do Senado sobre o estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) intitulado "A Política de Conteúdo Local na Indústria de Petróleo e Gás Natural". Esse trabalho mostra a inquietação do setor privado nacional com a intenção do governo de reduzir o conteúdo nacional na produção de bens e serviços no país. Não somos apenas nós do PT ou da esquerda que estamos perplexos diante desse cenário.
Segundo a Fiesp, que apoiou o impeachment, a revisão dessa política está sendo efetuada em um momento inoportuno, pois, dependendo de sua nova configuração, pode agravar a recessão e o desemprego, especialmente nos setores fornecedores de bens e serviços para extração e desenvolvimento de petróleo e gás natural. É o que está acontecendo com o Polo Naval do Rio Grande do Sul citado por meu colega Paulo Paim.
Os entreguistas acham que o conteúdo nacional trava o desenvolvimento da indústria. Só para lembrar, o pré-sal foi viabilizado com alto índice de conteúdo nacional, representando 46% da produção de petróleo no País. Nessas jazidas, a marca de 1 milhão de barris de petróleo por dia foi atingida em dez anos, enquanto a Petrobras necessitou de 45 anos para atingir seu primeiro milhão em produção de petróleo fora do pré-sal. Então, como o conteúdo nacional trava a produção? Isso é uma mentira. Nossa indústria é perfeitamente capaz. O que está por trás desse argumento é o interesse de empresas que querem fornecer para a Petrobras, mas não querem montar estrutura aqui, dar empregos aqui, repassar tecnologia para setores importantes ao nosso desenvolvimento.
Infelizmente, o ataque à indústria nacional não para na desconstrução das políticas de conteúdo nacional. Há também, de forma igualmente preocupante, o esvaziamento inexplicável do BNDES, há décadas o carro-chefe no financiamento de investimentos no país. Recentemente o banco devolveu R$100 bilhões para o Tesouro Nacional para pagar juros da dívida. Eram R$100 bilhões que estavam aportados lá, que poderiam estar sendo usados para financiar a nossa indústria com juro mais barato. Mas o dinheiro serviu para atender ao capital financeiro.
Como se vê, falta escrúpulo a este governo. Além de destruir a indústria naval brasileira, que tem por trás uma pujante cadeia produtiva, e de restringir o financiamento produtivo, querem permitir ainda a venda de terras para estrangeiros, ferindo a nossa soberania, e entregar para as empresas de telecomunicações os bilionários bens da União. É um acinte!
Assim como é um acinte o que estão fazendo com a política habitacional. Eles estão tirando o FGTS para financiar as moradias mais baratas e dando para quem pode comprar imóvel de até R$1,5 milhão. Não é essa faixa de renda que vai impulsionar a economia e criar empregos. É preciso aumentar o número de beneficiados da Faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, que são os mais pobres e justamente os que ajudam a movimentar a economia, principalmente nas pequenas cidades. O presidente Lula fez isso após a crise de 2008/09.
Nós estamos assustados com tudo que está acontecendo. Não há outra saída. É preciso ir para as ruas e denunciar sem medo essa gente que deu o golpe para destruir as conquistas e direitos do povo brasileiro e fazer a vontade dos ricos e poderosos. O governo afrontou a Constituição com a desculpa de que traria esperança e dias melhores, mas desde o início vem dando exemplo de que não passa de um governo entreguista e que só se preocupa com o andar de cima.
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