Cada autor procura resumir em poucas palavras o
que define como qualidade. Algumas definições estão mais voltadas para as
necessidades do cliente e outras no enfoque gerencial da empresa. Abaixo são
apresentadas algumas definições segundo seus autores.
Para
Deming (1990), “qualidade é tudo aquilo que melhora do ponto de vista do
cliente”. O consumidor é o elo mais importante da linha de produção e, mediante
a isso, o produto deve atender às expectativas do cliente.
Para
Feigenbaum (1994), “qualidade é a correção dos problemas e de suas causas ao
longo de toda série de fatores relacionados com marketing, projetos,
engenharia, produção e manutenção, que exercem influência sobre a satisfação do
usuário". A qualidade deve representar a integração de todas as atividades
da empresa, referindo-se ao ciclo industrial como uma seqüência de atividades
necessária para trazer os produtos do conceito ao mercado.
Juran
(1992) procura definir qualidade por meio de dois significados: “A qualidade
consiste nas características do produto que vão ao encontro das necessidades
dos clientes e dessa forma proporcionam a satisfação em relação ao produto”; “A
qualidade é a ausência de falhas”.
Ambas
as definições demonstram que sua visão de qualidade está relacionada ao grau de
satisfação do cliente em relação ao produto. A satisfação acontece quando o produto
tem performance acima da esperada e a insatisfação quando existem deficiências
no produto ou serviço.
Para
Campos (2004), “qualidade é atender de forma confiável, acessível e segura às
necessidades do consumidor”. Como se pode observar, a definição de qualidade
dele apresenta a mesma linha de pensamento de William E. Deming e J. M. Juran,
uma vez que grande parte de sua experiência foi adquirida com visitas a
empresas japonesas que utilizam as ideias daqueles autores (CAMPOS, 2004).
Ishikawa
(1993) acredita que “qualidade é desenvolver, projetar, produzir e
comercializar um produto que é mais econômico, mais útil e sempre satisfatório
para o consumidor”. O conceito de Kaoru Ishikawa além de focar a satisfação do
cliente com o produto agrega o conceito de melhoria contínua da qualidade, ou
seja, a busca contínua de uma situação melhor que a anterior.
Garvin
(2002) define qualidade por intermédio de cinco abordagens: transcendente,
baseada no produto, baseada no usuário, baseada na produção e baseada no valor.
A tabela 1 apresenta uma descrição de cada uma destas abordagens:
Tabela 1 - As cinco abordagens de qualidade segundo Garvin
(2002).
Abordagem
|
Descrição
|
Transcendental
|
Qualidade é um atributo
permanente de um bem, que só é reconhecido pelo uso ao longo de seu tempo.
Não há como definí-la precisamente, não é mensurável e apenas sabe-se que ela
existe.
|
Baseada no Produto
|
Qualidade é uma
variável precisa e mensurável. É o nível de características de qualidade
desejáveis ou indesejáveis que o produto incorpora.
|
Baseada no Usuário
|
Centra-se no usuário como avaliador das características de
qualidade de um produto. Se suas necessidades são plenamente atendidas pelo
produto, supõe-se que ele tenha qualidade. Cabe nesta abordagem a definição
de Juran de “adequação ao uso”.
|
Baseada na Fabricação
|
É o ponto de vista do fabricante do produto. Os esforços devem
se concentrar para que sejam elaborados produtos em completa conformidade com
as especificações de projeto. Uma não conformidade detectada representa
ausência de qualidade e, assim sendo, cria-se condições para quantificá-la e
controlá-la.
|
Baseada no Valor
|
Enfoca a Qualidade em termos de preços e custos. Um produto de
qualidade é aquele que apresenta, para o consumidor, desempenho a um custo
aceitável. Para a própria empresa, vale a relação: conformidade a um custo
igualmente aceitável.
|
Além
das definições apresentadas acima, torna-se interessante apresentar a definição
da American Society for Quality (ASQ, 2010), uma das mais respeitadas
organizações sobre o
assunto: “Qualidade é um termo subjetivo em que
cada pessoa pode ter sua própria definição. No aspecto técnico, essa definição
assume dois significados: características do produto ou serviço capaz de
satisfazer as necessidades explícitas e implícitas do cliente; e um produto ou
serviço livre de deficiências”.
Pode-se
observar que a maioria dos autores define qualidade como satisfação do cliente,
adequando-se ao momento histórico em que disseminaram seus conceitos sobre
qualidade. William E. Deming, J.M. Juran, Armand V. Feigembaum e Kaoru Ishikawa
têm suas definições relacionadas às ideias da década de 60, quando o conceito
de qualidade agregava a adequação ao uso. Vicente Campos Falconi o faz na mesma
linha de pensamento, já que foi influenciado pelas ideias de William E. Deming
e J.M. Juran. Por outro lado, as definições de David A. Garvin e da American
Society for Quality conseguem uma maior abrangência. A primeira por
estabelecer diversas abordagens e com isso focar a importância da qualidade sob
diferentes aspectos e a segunda por agregar a ideia de satisfazer as
necessidades latentes do cliente.
2.3. AS IDEIAS DE WILLIAM E. DEMING
Os
trabalhos de William E. Deming começaram a ser divulgados no Japão na década de
50 e apresentaram um grande enfoque estatístico, principalmente quando
analisavam os problemas de variabilidade e suas causas. Segundo Deming (1990),
todo processo está sujeito a uma variabilidade e é a redução dela que permite
uma melhor produtividade e conseqüente alcance da qualidade. Esta
variabilidade, inevitável ao processo, pode ser resultante de causas comuns
(inerentes ao processo) ou de causas especiais (devido a variáveis que não
apresentam comportamento como esperado).
Deming
(1990) acredita que o Controle Estatístico de Processo (CEP) e o ciclo PDCA
(também chamado ciclo de melhoria contínua) devem ser aprendidos por todos, uma
vez que esta ferramenta e este método são de extrema importância na busca pela
qualidade. O ciclo de melhoria contínua foi inicialmente proposto por Walter A.
Shewhart e era conhecido como “Ciclo de Shewhart” ou “PDSA”, iniciais das
palavras em inglês plan, do, study e action, respectivamente. Na
década de 50, William E. Deming divulgou o ciclo PDSA como PDCA, onde
substituía a palavra study pela palavra check, tornando esta nova definição
conhecida como “Ciclo de Deming”e espalhando-a por todo o mundo (DEMING, 1990).
A Figura 2 apresenta o Ciclo de Deming ou Ciclo PDCA.
Figura 2. - Ciclo de Deming ou Ciclo PDCA
O
Ciclo PDCA é composto por quatro fases, apresentadas na seqüência.
a)
Planejamento
(P do inglês plan): estabelecimento das metas e os métodos para
atingí-las;
b)
Execução (D
do inglês do): execução das tarefas exatamente como previstas no plano
inicial;
c)
Verificação
(C do inglês check): comparação do resultado alcançado com a meta
planejada; e
d)
Ação (A do
inglês action): atuação no sentido de adequar permanentemente o processo
à realidade.
Deming
(1990) afirma que a qualidade começa com a alta administração e é uma atividade
estratégica. Como forma simplificada de expressar suas ideias sobre qualidade,
ele propõe 14 pontos para a melhoria da
qualidade, onde enfatiza a necessidade de métodos estatísticos de controle,
participação, educação e melhoria contínua. Estão a seguir listados:
- Estabelecer a
constância de propósitos para a melhoria dos bens e serviços. A alta administração deve demonstrar constantemente seu
comprometimento com os objetivos e metas da organização, gerando um
propósito maior. Este deve incluir também os acionistas, clientes,
fornecedores, funcionários, a comunidade e a sociedade em torno da
Filosofia Empresarial. A Filosofia Empresarial é um documento
constantemente em mudança que requer a colaboração de todos para o seu
alcance. As organizações devem desenvolver uma visão de futuro e planejar
a manutenção e o crescimento do negócio fixando metas de longo prazo. Para
isso, devem ser alocados recursos para pesquisa, treinamento e educação
permanente para atingir os objetivos propostos. A inovação é promovida
para assegurar que os produtos e serviços não se tornem obsoletos. Essa
filosofia deverá ser divulgada a todos que fazem parte da organização.
- Adotar a nova
filosofia. A alta administração e toda a força de
trabalho devem adotar a nova filosofia. As organizações devem procurar a
melhoria contínua e não aceitar não-conformidades. A prioridade número um
é a satisfação do cliente, porque clientes insatisfeitos não irão adquirir
bens e serviços não-conformes. A organização deve concentrar-se na
prevenção dos defeitos mais do que na detecção dos defeitos. Melhorando os
processos a qualidade e a produtividade melhorarão como uma consequência
natural desse esforço. Todos na organização devem estar envolvidos nessa
jornada de qualidade e mudança de sua atitude perante a qualidade. Os
fornecedores devem ser auxiliados para aumentar a sua qualidade, sendo
solicitadas evidências estatísticas de conformidade de seus fornecimentos
e dividindo informações relativas às expectativas dos clientes. A alta
administração deve conscientizar-se de suas responsabilidades e assumir a
liderança no processo de transformação proposto pela nova filosofia.
- Compreender o
propósito da inspeção. A alta administração deve compreender que o propósito da
inspeção é a melhoria do processo e a redução de seus custos, introduzindo
a qualidade no produto desde o seu primeiro estágio. Para a maior parte
das organizações, a inspeção é onerosa e não-confiável. Por isso, quando
apropriado, deve ser substituída pela melhoria contínua através do uso de
técnicas estatísticas. Assim, devem ser feitas tentativas para reduzir e
depois eliminar a aceitação de amostragem. Inspeção em massa é gerenciar
as falhas e defeitos e prevenção é gerenciar pelo sucesso.
- Parar de avaliar
as transações com base somente no preço. A alta administração deve parar de avaliar as transações baseadas
na proposta de preço mais baixo porque o preço não tem significado sem
qualidade. O objetivo é ter fornecedores únicos para cada item, e assim
desenvolver com eles, a longo prazo, um relacionamento de lealdade e
confiança e por meio disso fornecer bens e serviços melhores. Os
compradores devem ser treinados em negociação e controles estatísticos e
exigir o mesmo dos fornecedores. Eles devem rastrear os materiais durante
todo o ciclo de vida do produto a fim de examinar como as expectativas dos
clientes são afetadas e dar um feedback aos fornecedores com
relação à qualidade do que foi comprado deles.
- Melhorar
continuamente os produtos e serviços. A alta administração deve ter mais responsabilidade pelos
problemas detectando ativamente e corrigindo-os para que a qualidade e a
produtividade sejam permanentemente e continuamente melhoradas e os custos
sejam reduzidos. O foco é prevenir os problemas antes que eles aconteçam.
É esperada e admitida uma variação, mas deve haver um empenho contínuo
para sua redução utilizando ferramentas estatísticas. As responsabilidades
são designadas a equipes para remover as causas dos problemas e
continuamente melhorar o processo.
- Instituir o
treinamento. Toda a força de trabalho deve ser orientada
na filosofia da organização e ser comprometida com a melhoria contínua. A
alta administração deve alocar recursos para treiná-la para desempenhar
suas funções da melhor maneira possível. Todos devem ser treinados em
métodos estatísticos e estes métodos devem ser utilizados para monitorar a
necessidade de treinamento posterior.
- Adotar e instituir
a liderança. Melhorar as lideranças é responsabilidade da
alta administração. Ela deve dar treinamento para os líderes em métodos
estatísticos e nestes 14 pontos. Assim a nova filosofia pode ser
implementada. Em vez de focar em uma atmosfera negativa, apontando erros,
os líderes poderão criar uma atmosfera positiva onde o orgulho naquilo que
fazem possa ser desenvolvido. Toda comunicação deve ser clara desde a alta
administração, passando pelos líderes até os funcionários operacionais.
- Afastar o medo,
criar confiança e um clima para a inovação. A alta administração deve encorajar uma comunicação aberta e
efetiva, bem como o trabalho em equipe. O medo é causado por um sentimento
geral de ser impotente para controlar aspectos importantes da vida de cada
um, pessoal ou profissionalmente. Isto é causado pela ausência de
segurança no trabalho, avaliação de desempenho, ignorância dos objetivos
da organização, lideranças fracas e desconhecimento do próprio trabalho.
Afastar o medo do local de trabalho envolve administrar para o sucesso. A
alta administração pode iniciar proporcionando aos funcionários o
treinamento adequado, boa supervisão e ferramentas apropriadas para
executarem suas tarefas. Quando as pessoas são tratadas com dignidade, o
medo pode ser eliminado e elas trabalharão para o bem comum da
organização. Neste clima, elas estarão mais abertas para fornecer ideias
inovadoras para as melhorias.
- Otimizar o
trabalho das equipes, áreas e da própria alta administração. A alta administração deve otimizar os esforços de suas equipes
para alcançar as metas e propósitos da organização. Existem internamente
barreiras entre níveis da administração, entre departamentos, dentro dos
departamentos e entre grupos. Externamente as barreiras existem entre a
organização e seus clientes e fornecedores. Estas barreiras existem devido
à comunicação deficiente, ignorância da filosofia da organização,
competição, medo, e rancores pessoais. Para romper esta barreira a alta
administração necessita de uma perspectiva de longo prazo. As atitudes
precisam ser modificadas, os canais de comunicação devem ser abertos e
equipes de projetos organizadas para a implementação do treinamento de
toda a força de trabalho.
- Eliminar slogans,
exortações para a força de trabalho. Slogans
e exortações que pedem por um aumento de produtividade sem fornecer
métodos específicos de melhoria podem dificultar uma organização. Eles não
fazem nada mas expressam os desejos da alta administração; eles não
produzem um bem ou serviço melhor porque os funcionários estão limitados
pelo sistema. Metas alcançáveis e que estejam comprometidas com o sucesso
a longo prazo da organização devem ser estabelecidas. Melhorias no
processo não podem ser realizadas a menos que as ferramentas e métodos
estejam disponíveis.
- Eliminar metas
numéricas para a força de trabalho. Em vez
de metas numéricas somente, a alta administração deve aprender e instituir
métodos para a melhoria contínua. Focar metas e padrões de trabalho em
qualidade em vez de quantidade. Assim desencorajará a execução apenas para
a obtenção de metas numéricas. As metas numéricas devem ser substituídas
por métodos estatísticos de controle de processos. A alta administração
deve fornecer e implementar uma estratégia para o aprendizado e a melhoria
contínua e trabalhar com a força de trabalho para refletir essas novas
políticas. A alta administração deve aprender a capacidade dos processos e
como melhorá-los. Objetivos internos estabelecidos pela alta
administração, sem um método, são burlescos. Administrar por objetivos
numéricos é um esforço de administrar sem conhecimento do que fazer.
- Remover as
barreiras ao orgulho pelo trabalho. A
perda de orgulho do trabalho existe em todas as organizações. Alguns
fatores contribuem para esta ocorrência, dentre eles: a força de trabalho
não sabe como está relacionada com a missão da empresa; é responsabilizada
por problemas do sistema de gestão; projetos inadequados levam à produção
de “lixo”; são estabelecidos treinamentos inadequados; existência de uma
liderança fraca e punitiva; e são fornecidos recursos inadequados ou
ineficazes para a realização das tarefas. Restaurar o orgulho exigirá da
alta administração um compromisso de longo prazo. Quando os funcionários
têm orgulho do seu trabalho, eles irão crescer na mais completa dimensão
de sua função. A alta administração deve fornecer à força de trabalho a
descrição de seus cargos operacionais, fornecer os recursos adequados e
enfatizar a compreensão dos funcionários do seu papel dentro do processo.
Para restaurar o orgulho, todos na organização trabalharão para o bem
comum.
- Estimular a
formação e o auto-aprimoramento de todos. O que uma organização necessita são pessoas que cresçam através
da educação e do treinamento. A alta administração deve assumir um
compromisso de longo prazo para educar e treinar as pessoas. A filosofia
da organização e os 14 pontos devem ser os fundamentos do programa de
treinamento. Todos devem ser treinados novamente quando os requisitos da
organização mudam para satisfazer as mudanças do ambiente.
- Agir para
concretizar a transformação. A alta
administração precisa aceitar a responsabilidade primordial de melhorar
continuamente os processos, produtos e serviços da organização. Ela deve
criar uma equipe para implantar a filosofia. Uma mudança cultural é
necessária a partir da atitude anterior de “negociar como sempre se fez”.
A organização deve estar comprometida, envolvida e acessível se a alta administração
quiser ter sucesso na implantação da nova filosofia.
Como
um dos principais problemas da indústria moderna, Deming (1990) cita a busca
por resultados imediatos por meio de soluções aparentemente “prontas”. Segundo
Moreno & Gitlow (1999), que realizaram uma comparação entre os conceitos
presentes no livro A República de
Platão[1]
e os conceitos de Deming, buscar soluções imediatas é como sujeitar uma
pessoa que sempre viveu na escuridão à uma grande luminosidade. No início ela
até poderia se deslumbrar, mas o excesso de luz poderia torná-la novamente
cega. A cura estaria associada ao fornecimento de pequenas doses ao longo do
tempo.
Outros
pontos destacados pelo autor que podem representar prejuízos à qualidade são a
tentação de que todo problema pode ser resolvido com automação, a mescla de
diversas abordagens na implementação de um programa de qualidade e o não
comprometimento de toda a empresa. Sem a dedicação e participação de todos,
dificilmente se alcançará o sucesso empresarial.
2.4. A ABORDAGEM DE J.
M. JURAN
Para
Juran (1991), a qualidade está associada ao conceito de satisfação. As
características do produto que atendem às necessidades do cliente fornecem a
satisfação e esta é fator decisivo para a comercialização do mesmo. Kee-Hung
(2003) apóia as ideias de J. M. Juran ressaltando que “a sobrevivência num
mercado altamente competitivo depende da atenção dada ao cliente e da oferta de
produtos e serviços de qualidade que superem as expectativas deles”.
Por
outro lado, como conseqüência das deficiências do produto, tem-se a
insatisfação do cliente. Os clientes externos expressam essa insatisfação na
forma de reclamações, devoluções e queixas. Se a resposta a esta insatisfação é
inadequada, ou se a extensão da insatisfação é muito grande, o cliente externo
pode parar de comprar o produto. Essas reações por parte do cliente atingem a
empresa pela combinação de vários fatores, como a diminuição nas vendas,
aumento dos custos, baixa produtividade, etc.
As
deficiências do produto também podem atingir os clientes internos, ou seja, os
departamentos da própria empresa. Eles expressam sua insatisfação na forma de
reclamações internas. Se a resposta não for adequada ou se o nível de
insatisfação for muito alto pode-se ter como conseqüências a deterioração da
cooperação entre os departamentos, acusações mútuas, moral baixo, etc. Tais
conseqüências contribuem para diminuir vendas e devem ser evitadas ao máximo
(JURAN, 1992).
Assim,
para Juran (1991), há duas dimensões no conceito de qualidade: uma externa, que
considera as necessidades do consumidor e outra interna, relacionada com os
departamentos da empresa. Tendo em vista estas duas dimensões, Juran (1991)
propõe a qualidade como adequação ao uso e é por isso que qualquer programa de
implementação de qualidade deve começar pelo entendimento de quem é o cliente,
onde o produto será usado e como será usado.
Uma
vez levantada as necessidades do cliente, o passo seguinte no planejamento da
qualidade corresponde a “tradução” das informações levantadas com os clientes
internos e externos para a chamada voz da engenharia, ou seja, como adequar
processos e produtos para satisfazer os clientes. É nesta hora que a visão da
empresa como um processo composto de vários estágios, cada um fazendo o papel
de consumidor e fornecedor, mostra suas vantagens. A integração de todas as
etapas até o cliente final permite um processo de melhoria contínua na
satisfação das necessidades do consumidor (JURAN, 1992).
Juran
(1992) ressalta que, apesar de ser um processo de melhoria contínua, qualquer
melhoria sempre precisa demonstrar sua necessidade. Somente após provar essa
necessidade é que se deve estabelecer infra-estruturas, estabelecer equipes,
prover recursos, diagnosticar causas, etc. Os projetos de melhoria podem ser analisados
utilizando o Princípio de Pareto, que permite dividir um problema grande em um
número grande de problemas menores, priorizar os problemas a serem atacados e
estabelecer os planos de ação.
Os
projetos de melhorias também podem ser analisados pelo chamado custo de má
qualidade, ou seja, o custo gerado por desperdícios no sistema produtivo. Por
isso, Juran (1992) acredita que a administração das empresas deve estar apta a
traduzir a linguagem dos problemas para a do dinheiro e vice-versa. Torna-se necessário
então um sistema de classificação de custos, dividindo-os em custos de falhas
internas e externas, custo de avaliação ou inspeção e custos de prevenção.
O
gerenciamento da qualidade para J.M. Juran pode ser realizado por três
processos que se interrelacionam e são conhecidos como Trilogia de Juran
(JURAN, 1992). Estes três processos são o planejamento, o controle e o
aperfeiçoamento da qualidade e seu interrelacionamento pode ser visualizado por
meio de um gráfico com o tempo na abscissa e o custo da má qualidade (ou
quantidade de itens defeituosos) na ordenada, como apresentado na Figura 3 e
detalhado a seguir.
Figura 3 - Redução do número de itens defeituosos por meio da
Trilogia Juran (JURAN, 1992)
Tudo começa com o
planejamento da qualidade (primeiro processo da Trilogia de Juran), cujo
propósito é de fornecer aos meios de produção a capacidade de fazer produtos
que atendam às necessidades dos clientes. Uma vez determinado o planejamento,
os planos são entregues às equipes de produção, cuja responsabilidade é
confeccionar o produto. À medida que a confecção do produto é realizada, as
equipes de produção passam a observar que o processo apresenta deficiências:
vinte por cento dos esforços da produção são desperdiçados porque há
necessidade de retrabalho devido às deficiências de qualidade. Esse desperdício
torna-se crônico, já que o processo foi projetado desta maneira.
Como
possuem suas responsabilidades usuais, as equipes de produção não podem se
livrar do desperdício crônico. Assim, para que as coisas não se tornem ainda
piores, fazem um controle da qualidade (segundo processo da Trilogia de Juran),
ou seja, combatem problemas que causam picos esporádicos e elevam a porcentagem
de desperdícios.
Por
fim, a Figura 3 mostra que em um determinado momento o desperdício crônico foi
reduzido a um nível muito abaixo daquele originalmente planejado. Este ganho
foi conseguido por meio do aperfeiçoamento da qualidade (terceiro processo da
Trilogia de Juran). O que ocorreu, na realidade, foi a percepção de que o
desperdício crônico se caracterizava como uma oportunidade de melhoria do
processo.
2.5. A CONTRIBUIÇÃO DE
ARMAND V. FEIGENBAUM
“Qualidade
é, em sua essência, um meio para gerenciar a organização através de uma
abordagem sistêmica, com o envolvimento de todas as funções do processo e que
permita a satisfação integral do consumidor” (FEIGENBAUM, 1994). É sob essa
linha de pensamento que esse autor propõe a integração das atividades da
empresa, referindo-se ao ciclo industrial como uma seqüência de atividades
necessárias para trazer os produtos do conceito para o mercado e buscar a
satisfação do cliente. Neste ciclo, está incluso marketing, projeto,
engenharia, compras, manufatura, inspeção, embalagem, expedição, instalações e
serviços, estando a qualidade presente em todos estes estágios.
Referenciando-se
ao paradigma custo versus qualidade, Feigenbaum (1994) acredita que eles são
uma soma e não uma diferença com se pensava no passado. A qualidade traz
reduções nas perdas operacionais, melhorias para a satisfação do cliente e nos
custos de serviços, aumentando, desta maneira, o lucro da empresa.
A
qualidade de produtos e serviços é influenciada diretamente por nove fatores
fundamentais que se tornaram conhecidos como os 9M’s de Feigenbaum (1994) (Do
inglês markets, money, management, men, motivation, materials, machine and
mechanization, modern information methods e mounting product
requirements). Em cada área, a empresa se encontra atualmente sujeita a um
grande número de condições que influenciam a produção de uma maneira nunca
antes vista. Estes noves fatores estão detalhados abaixo:
a)
Mercados (Markets):
Os mercados estão cada vez mais amplos em escopo e cada vez mais especializados
no que concerne a mercadorias e produtos oferecidos. Em uma série de setores,
eles deixaram de ser regionais para se tornarem internacionais e até mesmo
globais. Isso exige da empresa uma alta flexibilidade, capaz de direcionar
rapidamente sua atuação.
b)
Dinheiro (Money):
A necessidade de automação e mecanização conduz grande parte das empresas a
custos significativos na compra de novos equipamentos e no desenvolvimento de
novos processos. Espera-se que tal investimento seja compensado por um aumento
na produtividade e que gere um lucro maior que o anterior. Isso faz aumentar a
atenção de gerentes sobre a área de custo de qualidade, fazendo com que o fator
“dinheiro” torne-se um dos pontos críticos na busca pela qualidade.
c)
Gerenciamento
(Management): Cada vez mais se exige a participação de todos os
departamentos da empresa na busca pela qualidade e conquista do cliente. Ao
contrário do que ocorria no passado, onde só o engenheiro e o supervisor eram
responsáveis pela qualidade do produto, hoje a qualidade deve ser preocupação
de todos os departamentos, como engenharia, marketing, produção, vendas, etc.
Isso aumentou a responsabilidade da alta gerência em vista da maior dificuldade
de alocar as responsabilidades apropriadas a cada área. Esta nova maneira de
gerenciamento abriu espaço para o Lean Manufacturing e para a Total Productive
Maintenance.
d)
Homens (Men):
Na atual era do conhecimento, onde o capital intelectual se tornou parte do
patrimônio das empresas, a busca por profissionais altamente qualificados e
flexíveis tem sido diferencial na conquista da qualidade. O gerenciamento de
recursos humanos passou a ser um dos pontos-chave para o sucesso de qualquer
programa de implementação da qualidade.
e)
Motivação (Motivation):
A maior complexidade para se conseguir colocar um bom produto no mercado
aumentou a importância de cada funcionário com relação à qualidade. Essa
motivação deve ir além da remuneração monetária. Deve-se procurar métodos que
permitam ao funcionário possuir orgulho de seu trabalho e sentir sua
importância na constituição da empresa como um todo.
f)
Materiais (Materials):
A produção e as exigências da qualidade fizeram com que nas últimas décadas a
utilização de novos materiais crescesse muito. Como resultado, as
especificações dos materiais tornaram-se muito exigentes e sua diversidade
cresceu muito com a utilização de novas ligas e novos materiais.
g)
Máquinas e
Mecanização (Machines and Mechanization): Ao longo dos anos, os
equipamentos utilizados foram tornando-se mais complexos e mais dependentes da
qualidade do material que o alimenta. Quanto mais as companhias se mecanizam e
se automatizam com o propósito de alcançar a redução de custos, mais importante
se torna sua manutenção, fator diretamente ligado à qualidade do produto.
h)
Métodos
Modernos de Informação (Modern Information Methods): Com a utilização de
computadores, a geração e análise de informações se tornaram muito mais rápidas
e eficientes. Conseqüentemente, a gerência da empresa tem acesso a informações
mais úteis, acuradas e oportunas sobre as quais pode fundamentar as decisões
que guiam o futuro da empresa.
i)
Exigências
na Montagem do Produto (Mounting Product Requirements): Os projetos de
engenharia tornam-se cada vez mais complexos e como conseqüência pequenas
coisas, antes ignoradas, passam a apresentar grande importância potencial. Como
exemplos de tal exigência na área de montagem, pode-se citar isoladores de
vibração em máquinas de comando numérico, ajuste de temperatura em ambientes
que exijam a utilização de instrumentos de precisão, etc.
Armand
V. Feigembaum foi o primeiro teórico da Qualidade a introduzir as ideias de
Sistema de Qualidade denominado Total Quality Control (TQC). O TQC
analisa empresa como um todo por meio de uma visão sistêmica, tendo como
objetivo a satisfação do cliente. A abrangência e a essência desse sistema
permitem às gerências tratar com firmeza e confiança a qualidade em seus
produtos e serviços e, com isso, conseguir estabilidade e crescimento dos
lucros (FEIGEMBAUM, 1994).
2.6. VISÃO DE KAORU
ISHIKAWA
Kaoru
Ishikawa foi fortemente influenciado pelas ideias de William E. Deming e J. M.
Juran apresentadas em algumas palestras no Japão. Seus conceitos baseiam-se
principalmente nas ideias de rápida percepção e satisfação do mercado,
adequação ao uso dos produtos e baixa variabilidade. O grande diferencial das
ideias de Ishikawa reside no entendimento profundo da cultura japonesa, na
preocupação com o coletivo e na atuação da alta gerência. Estes foram fatores
essenciais na adaptação do TQC para o modelo japonês entre 1954 e 1967
(BONIFÁCIO, 2000).
Assim
como William E. Deming e J. M Juran, Kaoru Ishikawa ressalta freqüentemente que
qualidade é um “remédio de longo prazo” e não uma cura instantânea
(ISHIKAWA,1993). De maneira resumida, as ideias sobre qualidade de Kaoru
Ishikawa podem ser apresentadas em seis princípios:
- A qualidade deve estar acima de tudo, pois dela depende a
sobrevivência de uma empresa. Respeitada esta prioridade, a redução de
custos e aumento dos lucros virá naturalmente.
- A empresa deve estar orientada para o consumidor e não para o
produtor. A empresa deve estar preparada para pensar como o consumidor e a
partir disso determinar sua exigência e insatisfações.
- No dia-a-dia das empresas, o próximo processo sempre deve ser
visto com seu cliente. Procure definir claramente quais são os clientes e
os fornecedores de cada processo. Trabalhe para eliminação de barreiras
entre os departamentos.
- As decisões devem sempre ser tomadas baseadas em fatos ou dados.
Procure utilizar métodos estatísticos para a descrição dos fatos ocorridos
no processo.
- A filosofia gerencial deve estar sempre baseada no respeito ao
ser humano. Realize programas participativos, estabeleça Ciclos de
Controle da Qualidade (CCQ) e transmita confiança para que as pessoas
sintam estabilidade em seu emprego.
- Faça uma gestão funcional e interfuncional.
Kaoru
Ishikawa também foi o responsável pela redefinição do ciclo PDCA de William E.
Deming que, baseado em seis etapas, cuja procedência foi o desmembramento das
etapas originais, ficou conhecido como Círculo de Controle (ISHIKAWA, 1993). As
seis etapas estão abaixo listadas e o Círculo de Controle representado na
Figura 4.
Etapas do Círculo de Controle:
- Determinar objetivos e metas
- Determinar métodos para alcançar os
objetivos
- Engajar-se em educação e treinamento
- Por em prática o trabalho
- Verificar os efeitos da prática
- Agir apropriadamente
Figura 4 - Círculo de Controle (ISHIKAWA, 1993)
Além
de suas ideias sobre qualidade e do Círculo de Controle, Kaoru Ishikawa também
se destacou pela elaboração de uma ferramenta de qualidade de baixa complexidade
e grande utilização em quase todas as empresas. Essa ferramenta, conhecida como
Diagrama de Causa-e-Efeito, Diagrama de Ishikawa ou Diagrama Espinha de Peixe
permite identificar, explorar e ressaltar as causas de um problema,
representando a relação entre o efeito (resultado) e suas possíveis causas.
Essas causas são estratificadas nas categorias materiais (materials), máquinas (machinery),
medidas (management), mão-de-obra (manpower) e métodos (methods), conforme apresentado na Figura
5.
Figura 5. Diagrama de Causa-e-Efeito (ISHIKAWA, 1993)
Sendo
assim, observa-se que Kaoru Ishikawa destacou-se principalmente por conhecer
bem a cultura de seu povo e utilizá-la como alicerce no desenvolvimento de suas
ideias. Apesar de alguns de seus conceitos terem sido influenciados pelas
ideias de William E. Deming e J.M. Juran, Kaoru Ishikawa se destacou por
analisar fatores culturais (consequentemente comportamentais) e utilizá-los
como pontos favoráveis na implantação de programas de qualidade no Japão (CRÓSTA,
2000).
2.7. A IMPORTÂNCIA DOS
RECURSOS HUMANOS NA QUALIDADE
Segundo
Langbert (2000), as pessoas se tornaram o maior patrimônio de uma empresa e a
importância dos Recursos Humanos na busca pela qualidade se faz cada vez mais
presente. Num mundo marcado pela competitividade, não se pode falar em sucesso
sem que se tenham pessoas dedicadas e competentes nas principais áreas de cada
empresa.
A
importância dos Recursos Humanos começou a ser percebida quando as empresas
japonesas começaram a se tornar altamente competitivas (alta qualidade e baixos
custos). O TQC, na cultura oriental, sempre difundiu o desenvolvimento de um
clima que conduza a emoção pela realização do trabalho. O trabalho deixa de ser
apenas uma tarefa e passa a significar muito na vida do funcionário (BONIFÀCIO,
2000).
Maslow
(1970) ressalta que esta emoção pelo trabalho só pode ser atingida se algumas
necessidades básicas são satisfeitas simultaneamente. Quando se está num estado
ainda muito primitivo de ter suas necessidades básicas atingidas, o ser humano
dará maior importância às necessidades fisiológicas do que as outras e assim
por diante. As necessidades básicas do homem, segundo Maslow, são apresentadas
na Figura 6
Figura 6 - Necessidades básicas do ser humano segundo Maslow
(1970)
Todo
trabalho em uma empresa deve proporcionar o crescimento do ser humano.
Crescimento do ser humano significa cada vez mais utilizar a mente, e não
somente a força braçal. Também significa evoluir para um trabalho onde se deve
escrever, falar, ordenar, mostrar, instruir ao invés de somente mover, copiar,
seguir, obedecer, entre outros pontos.
Alguns
autores costumam mostrar a importância do capital intelectual nas empresas
dividindo-as em três segmentos (Equipamentos e Materiais, Procedimentos e Ser
Humano) e
assim Campos (2004) a faz pelas denominações Hardware,
Software e Humanware. Para que uma empresa se torne competitiva, é
necessário crescimento nestes três setores. A melhoria em Hardware ocorrerá
com a compra de novos equipamentos e materiais que possibilitem melhor
qualidade, em Software por meio de pessoas que desenvolvam procedimentos
mais eficientes e em Humanware pelo recrutamento, treinamento,
desenvolvimento de raciocínio crítico, etc. Considerando que somente o primeiro
segmento apresenta dependência monetária, os demais segmentos de uma empresa
estão ligados diretamente aos Recursos Humanos.
2.8. SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE
Segundo Slack (2007), melhorar a qualidade não é algo que
ocorre simplesmente fazendo com que todas as pessoas de uma organização “pensem
qualidade”. Muito frequentemente, as pessoas são impedidas de fazer melhorias
pelos sistemas e procedimentos das organizações. De fato, há uma crença de que
os operadores diretos podem apenas corrigir, no momento, 15% dos problemas de
qualidade; os outros 85% são responsabilidade da administração, porque decorrem
do “sistema” ou da falta de um.
De acordo com Dale (1994), um sistema de qualidade deve:
Definir e cobrir todas as facetas da operação de uma organização,
identificando e atendendo às necessidades e exigências de consumidores, design,
planejamento, compras, manufatura, embalagem, estocagem, entrega e serviço,
acompanhadas das atividades relevantes inerentes a essas funções. Lida com
organização, responsabilidades, procedimentos e processos. Em resumo, um
sistema de qualidade é boa prática gerencial.
O
SGQ pressupõe então uma estrutura organizacional, procedimentos, processos e recursos necessários
para implementar a gestão da qualidade, que dentro de uma organização deve incluir a política, o planejamento, o controle, a garantia e as
práticas de melhorias da qualidade.
2.8.1. Modelos de gestão
da qualidade
Segundo Cruz (apud CORNACHIONE JÚNIOR, 2001), um modelo de
gestão é entendido como um
conjunto de normas, princípios e conceitos que têm por finalidade orientar o processo
administrativo de uma organização, para que cumpra a missão para qual foi constituída. Existem vários modelos de gestão da qualidade. Entre estes,
destacam-se:
- Sistema
de Gestão da Qualidade das normas série ISO 9000: oficializado em 1987
pela ISO (International Organization for Standardization).
- Modelo
de Gestão Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ): instituído em 1992 no Brasil
pela Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade.
- Modelo
de Gestão Prêmio Deming da Qualidade: instituído pela União dos Cientistas
e Engenheiros Japoneses em 1951.
- Modelo
de Gestão do Prêmio Nacional da Qualidade Malcolm Baldrige: instituído nos
Estados Unidos em 1987.
Para o atendimento
desta proposta, as normas da série ISO 9000 serão utilizadas como base para o
desenvolvimento da metodologia de implantação de um SGQ em Farmácias
Magistrais. A ISO 9000 foi escolhida uma vez que se afirma mundialmente entre
as empresas como um eficaz modelo de referência, independente do porte ou do
tipo de negócio em que está sendo implementada. (ANHOLON, 2003)
2.8.2. A Família de Normas ISO 9000
A
série ISO 9000 forma um conjunto de padrões mundiais que estabelece exigências
para os sistemas de administração de qualidade das empresas. A cada ano, o
número de certificados ou registros da ISO 9000 emitidos no mundo cresce
rapidamente. A Tabela 2 apresenta uma pesquisa da própria ISO (2006) apud INMETRO
(2010) sobre o total de certificados emitidos por continente, até o final de
2006.
Tabela 2 - Total de certificados ISO 9000 emitidos por continente até
dezembro de 2006 segundo The ISO Survey (2006) apud INMETRO (2010)
Continente
|
Total de Certificados ISO 9000
|
AMÉRICA CENTRAL
|
1007
|
ÁFRICA
|
7879
|
ÁMERICA DO SUL
|
28341
|
AMÉRICA DO NORTE
|
61436
|
ÁSIA
|
363768
|
EUROPA
|
405235
|
OCEANIA
|
19590
|
Total
|
887256
|
A
primeira edição da norma foi publicada em 1987, passando por uma primeira
revisão em 1994. Segundo Maranhão (2001), a versão 1994 ainda não possuía o
caráter estrutural que o mercado requeria e esta deficiência motivou o Comitê
Técnico 176 da ISO (International Organization for Standardization) a
realizar um intenso e profundo trabalho de revisão da série ISO 9000 que
culminou com a publicação da versão 2000.
Além
da estrutura formal dos SGQ, que já existiam desde a primeira publicação, a ISO
9000 versão 2000 baseia-se em oito princípios de qualidade, fazendo com que,
além de suas vantagens estruturais, a norma se alinhe aos critérios de
excelência de prêmios como o Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ) e o Malcom
Baldrige National Quality Award (MBNQA) (MARANHÂO, 2001). Estes oito
princípios estão enumerados a seguir.
1)
Foco no
Cliente: As organizações dependem de seus clientes e, portanto, é recomendável
que atendam as necessidades atuais e futuras, os requisitos e procurem exceder
expectativas deles.
2)
Liderança:
Os líderes estabelecem a unidade de propósito e o rumo da organização. Convém
que criem e mantenham um ambiente interno no qual as pessoas possam se tornar
engajadas na obtenção dos objetivos da organização.
3)
Engajamento
das Pessoas: As pessoas, em todos os níveis, são a essência de uma organização.
O efetivo engajamento destas pessoas permite a utilização das suas habilidades
para o benefício da organização.
4)
Abordagem
de Processos: Um processo pode ser entendido com uma atividade de agregação de
valor, com entradas e saídas. Um desejado resultado é alcançado mais
eficientemente quando as atividades e recursos relacionados são gerenciados
como processos.
5)
Abordagem
Sistêmica para a Gestão: Um sistema pode ser entendido como um conjunto de
processos trabalhando harmonicamente para que um objetivo comum seja atingido.
Analisar a organização ou partes dela como um sistema auxiliará a busca por um
melhor desempenho.
6)
Melhoria
Contínua: Convém que a melhoria contínua do desempenho global da organização
seja um objetivo permanente. Deve-se ter em mente que a evolução das
necessidades do cliente exige da organização a busca de desempenho cada vez
melhor frente à intensa concorrência.
7)
Abordagem
Factual para a Tomada de Decisões: Decisões eficientes são baseadas na análise
de dados e informações. Sem dados ou fatos tem-se uma apreciação subjetiva dos
resultados, diminuindo drasticamente o entendimento de um problema e a
probabilidade de solucioná-lo.
8)
Benefício
Mútuo nas Relações com os Fornecedores: Uma organização e seus fornecedores são
interdependentes. Uma relação de benefício mútuo aumenta a capacidade de ambos
em agregar valor.
As
quatro principais normas que compõem a Série ISO 9000 versão 2000 são
apresentadas na tabela 3.
Tabela 3 - A série de
normas ISO 9000 (MARANHÂO, 2001)
Número
|
Título
|
Finalidade
|
ISO 9000
|
Sistemas de Gestão da Qualidade – Fundamentos e
Vocabulário
|
Estabelecer os Fundamentos e Vocabulário
da Qualidade.
|
ISO 9001
|
Sistemas de Gestão da
Qualidade - Requisitos
|
Especificação dos Requisitos de Sistema
de Gestão da Qualidade para uma empresa produzir produtos conformes e obter
satisfação dos clientes e de outras partes interessadas.
|
ISO 9004
|
Sistemas de Gestão da Qualidade -
Diretrizes para a melhoria do desempenho
|
Prover guia para Sistema de Gestão da
Qualidade, incluindo melhorias contínuas, para a satisfação dos clientes e de
outras partes interessadas.
|
ISO 19011
|
Diretrizes para auditorias de Sistemas de
Gestão da Qualidade e Ambiental
|
Prover diretrizes e requisitos para
processos de auditorias de Sistema de Gestão de Qualidade e Sistema de Gestão
Ambiental.
|
A
norma ISO 9000 pode ser considerada o ponto de partida na implantação de um
SGQ, uma vez que apresenta os fundamentos e terminologias que serão utilizados
nas demais normas. Logo em seguida a empresa passa para a implantação da norma
ISO 9001, se o objetivo for uma situação contratual (certificação) ou para a
norma ISO 9004 se tem como escopo somente a melhoria do processo (situação
não-contratual). O ideal para as organizações que objetivam a certificação é a
implementação destas normas simultaneamente, uma vez que a norma ISO 9004
contempla os requisitos da norma ISO 9001. Ao final do processo de implantação,
a organização pode partir para a norma ISO 19011, que estabelece as diretrizes
para a auditoria de SGQ e Sistemas de Gestão Ambiental (SGA). A ISO 19011
também se caracteriza como uma norma não-contratual (MARANHÂO, 2001).
Sendo
a norma ISO 9001 a única de caráter contratual, torna-se interessante fazer uma
análise de suas seções. Tendo como método gerencial o ciclo PDCA, apresentado
no item 2.3, esta norma é composta por 9 seções, sendo que as seções 0, 1, 2 e
3 não possuem requisitos. Apresenta-se a seguir uma síntese de cada seção.
a)
Seção 0
(Introdução): Esta seção apresenta a série ISO 9000, estabelece a importância
da abordagem por processos, estabelece as normas ISO 9001 e ISO 9004 como um
par consistente, faz o alinhamento da norma ISO 9001 com a norma ISO 14001,
etc.
b)
Seção 1
(Objetivos): Nesta seção são traçadas as finalidades da norma ISO 9001 e a
generalidade dos requisitos (validade para qualquer organização).
c)
Seção 2
(Referências Normativas): Ela faz remissiva à norma ISO 9000.
d)
Seção 3
(Termos e Definições): Estabelece a terminologia contratual da cadeia produtiva
básica, isto é, as partes diretamente interessadas no negócio. Estabelece os
termos Fornecedor, Organização e Cliente para que se possa compreender o termo
Contrato (obrigações bilaterais entre Cliente e Organização e escopo de
aplicação dos requisitos do SGQ).
e)
Seção 4
(Sistema de Gestão da Qualidade): A seção 4 trata da estrutura do SGQ e de sua
documentação. A norma ISO 9001 estabelece como documentação obrigatória o
Manual da Qualidade e procedimentos que descrevam como ocorre o controle de
documentos, o controle de registro, o controle de produtos não conforme, as
auditorias da qualidade, as ações corretivas e a ações preventivas.
f)
Seção 5
(Responsabilidade da Direção): Define as responsabilidades da direção e
autoridades correlatas. Nesta seção, a norma exige que seja estabelecido e
demonstrado o compromisso da alta direção com o SGQ implantado, além de
estabelecer o foco no cliente, a disseminação da política da qualidade, a importância
da comunicação interna, as análises críticas sobre o SGQ, etc.
g)
Seção 6
(Gestão de Recursos): Ela trata do provimento dos recursos necessários para que
os objetivos da qualidade estabelecidos na seção 5 sejam alcançados. São
considerados três tipos de recursos: recursos humanos, infra-estrutura
(instalações, equipamentos, etc) e ambiente de trabalho (clima de
relacionamento interpessoal).
h)
Seção 7
(Realização do Produto): Trata da realização da atividade fim da organização,
isto é, dos processos operacionais de realização dos produtos ou provimento dos
serviços para os quais ela se estruturou nas seções 4, 5 e 6.
i)
Seção 8
(Medição, Análise e Melhoria): Trata da medição, da análise do produto
realizado e das melhorias contínuas do SGQ. Ela estabelece que a medição pode
ser feita sobre a satisfação dos clientes, produtos, processo e auditorias da
qualidade.
À
exceção da seção 4, as seções 5, 6, 7 e 8 da norma ISO 9001 foram estruturadas
para condicionar à gestão das organizações um ciclo lógico de melhorias
contínuas. Pela Figura 7, fica
clara a intenção da norma em estabelecer funções afins em cada seção, formando
blocos lógicos de gestão.
Figura 7 - Modelo de um sistema de gestão da qualidade baseado
em processo.
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