RIO - O ano letivo em boa parte das universidades
públicas começa nesta
ou na próxima segunda-feira. Para milhares de jovens
que se preparam
para ingressar no ensino superior, a maior expectativa
é com relação
ao trote. A jovem R. passou por isso há sete anos.
A vida nova em uma
cidade diferente e a busca por uma autonomia fascinavam
a adolescente,
na época com 18 anos. Logo após o primeiro encontro
de calouros
e veteranos, a nova turma foi convidada para uma
festa, fora da
tradicional universidade católica de São Paulo.
As bebidas
alcoólicas transitavam de mão em mão.
Um veterano, ligado ao
grupo que coordenava os trotes, não deixava o
copo de R.
vazio. Alcoolizada, esta foi a última lembrança
da jovem antes
de acordar, sozinha, em um terreno baldio.
públicas começa nesta
ou na próxima segunda-feira. Para milhares de jovens
que se preparam
para ingressar no ensino superior, a maior expectativa
é com relação
ao trote. A jovem R. passou por isso há sete anos.
A vida nova em uma
cidade diferente e a busca por uma autonomia fascinavam
a adolescente,
na época com 18 anos. Logo após o primeiro encontro
de calouros
e veteranos, a nova turma foi convidada para uma
festa, fora da
tradicional universidade católica de São Paulo.
As bebidas
alcoólicas transitavam de mão em mão.
Um veterano, ligado ao
grupo que coordenava os trotes, não deixava o
copo de R.
vazio. Alcoolizada, esta foi a última lembrança
da jovem antes
de acordar, sozinha, em um terreno baldio.
— Já tinha tido um episódio parecido com o meu. Mesmo grupo,
mesma estratégia. Só soube depois. O que mais me angustiou foi que
falaram que a culpa também era minha porque eu tinha bebido.
Fui violentada, mas saí com fama de piranha — afirma a jovem,
que prefere não ter sua identidade exposta.
mesma estratégia. Só soube depois. O que mais me angustiou foi que
falaram que a culpa também era minha porque eu tinha bebido.
Fui violentada, mas saí com fama de piranha — afirma a jovem,
que prefere não ter sua identidade exposta.
No dia seguinte, a jovem resolveu ir para a faculdade, mas se
recusou a se aproximar do veterano com quem esteve na noite
anterior. A negação fez com que o trote fosse mais pesado.
Um balde com urina, cola e outras substâncias foi jogado em
cima da adolescente. Depois disso, ela abandonou a faculdade.
recusou a se aproximar do veterano com quem esteve na noite
anterior. A negação fez com que o trote fosse mais pesado.
Um balde com urina, cola e outras substâncias foi jogado em
cima da adolescente. Depois disso, ela abandonou a faculdade.
Episódios como esses continuam se repetindo. No início de
fevereiro, uma caloura teve sua perna queimada com ácido
durante trote na Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI)
e um outro aluno foi ferido no olho. Ele corre o risco de ficar cego.
A repercussão do caso fez com que a faculdade propusesse aos
vereadores de Adamantina (SP) a criação de uma lei para proibir
o trote na cidade. Também neste ano, no Mato Grosso do Sul,
vários alunos novos, menores de idade, foram levados a um posto
de saúde após ingerirem alta quantidade de álcool e entrarem em coma.
fevereiro, uma caloura teve sua perna queimada com ácido
durante trote na Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI)
e um outro aluno foi ferido no olho. Ele corre o risco de ficar cego.
A repercussão do caso fez com que a faculdade propusesse aos
vereadores de Adamantina (SP) a criação de uma lei para proibir
o trote na cidade. Também neste ano, no Mato Grosso do Sul,
vários alunos novos, menores de idade, foram levados a um posto
de saúde após ingerirem alta quantidade de álcool e entrarem em coma.
Em São Paulo, os deputados estaduais elaboraram um CPI para
investigar uma série de episódios, em diversas instituições no estado.
investigar uma série de episódios, em diversas instituições no estado.
— Nem quando trabalhei na Comissão da Verdade tive tanto problema
como estou tendo nesta CPI. Os universitários acusados
levam advogados
de escritórios caríssimos, que fazem de tudo para seus clientes não prestarem
esclarecimentos — afirma o deputado Adriano Diogo, que preside a CPI.
como estou tendo nesta CPI. Os universitários acusados
levam advogados
de escritórios caríssimos, que fazem de tudo para seus clientes não prestarem
esclarecimentos — afirma o deputado Adriano Diogo, que preside a CPI.
O relatório da comissão apontará um esquema de sedução, assédio e violência.
— Existe um circuito universitário que envolve muito dinheiro.
São boates, ex-alunos das faculdades e as chamadas Atléticas
que criam, juntos, um calendário de festas e atividades nessas cidades
universitárias. É nesse esquema que brutalidades acontecem.
A violência nunca começa com violência. Começa com a sedução
— diz Adriano Diogo.
São boates, ex-alunos das faculdades e as chamadas Atléticas
que criam, juntos, um calendário de festas e atividades nessas cidades
universitárias. É nesse esquema que brutalidades acontecem.
A violência nunca começa com violência. Começa com a sedução
— diz Adriano Diogo.
O estudante Luiz Fernando Alves prestou depoimento na CPI e
relatou uma série de violações:
relatou uma série de violações:
— Foram os piores dias da minha vida. Você era humilhado,
apanhava, ameaçado de morte. E por um povo que você nunca
imaginaria que faria isso. Era gente estudada, não era bandido.
Na festa você apanhava, mijavam em você, levava socos e chutes.
Saí cortado com vidro, com princípio de hipotermia, e desmaiei
pela faculdade. Sofri ameaça de morte para não denunciar.
apanhava, ameaçado de morte. E por um povo que você nunca
imaginaria que faria isso. Era gente estudada, não era bandido.
Na festa você apanhava, mijavam em você, levava socos e chutes.
Saí cortado com vidro, com princípio de hipotermia, e desmaiei
pela faculdade. Sofri ameaça de morte para não denunciar.
Trotes violentos não são novidade. Por causa das redes sociais,
no entanto, eles estão também mais visíveis.
no entanto, eles estão também mais visíveis.
— Com a internet, conseguimos ter a chance de identificar as violações.
O processo já chegou num estágio em que grupos de mulheres e de gays,
principais alvos em trotes agressivos, já montam pontos de apoio
on-line para dar suporte para quem foi agredido ou assediado
— afirma a pedagoga Maria do Rosário Cavalcanti, especializada
em ensino superior pela UnB.
O processo já chegou num estágio em que grupos de mulheres e de gays,
principais alvos em trotes agressivos, já montam pontos de apoio
on-line para dar suporte para quem foi agredido ou assediado
— afirma a pedagoga Maria do Rosário Cavalcanti, especializada
em ensino superior pela UnB.
Muitas universidades têm buscado novas estratégias para coibir
a violência. A USP, que teve uma série de casos em sua faculdade
de Medicina e está sendo investigada pela CPI, criou uma central
de telefone para calouros que queiram denunciar algum tipo de violência
A Unicamp também criou um ponto de atendimento com
o mesmo objetivo. No Rio, UFF e Uerj possuem ações de
acolhimento de novos estudantes.
a violência. A USP, que teve uma série de casos em sua faculdade
de Medicina e está sendo investigada pela CPI, criou uma central
de telefone para calouros que queiram denunciar algum tipo de violência
A Unicamp também criou um ponto de atendimento com
o mesmo objetivo. No Rio, UFF e Uerj possuem ações de
acolhimento de novos estudantes.
Os próprios alunos passaram a se mobilizar. Na Faculdade de
Medicina da USP, após denúncias de mulheres que acusavam
veteranos de estupro, foi formado o coletivo “Geni”. Neste ano,
alunas do curso de Comunicação da UFRJ montaram uma
página no Facebook cujo lema é “Mexeu com uma caloura,
mexeu com todas as veteranas”. Na PUC de Sorocaba, surgiu
o “Grupo de Apoio ao Primeiranista”, para ajudar no acolhimento
aos novos alunos.
Medicina da USP, após denúncias de mulheres que acusavam
veteranos de estupro, foi formado o coletivo “Geni”. Neste ano,
alunas do curso de Comunicação da UFRJ montaram uma
página no Facebook cujo lema é “Mexeu com uma caloura,
mexeu com todas as veteranas”. Na PUC de Sorocaba, surgiu
o “Grupo de Apoio ao Primeiranista”, para ajudar no acolhimento
aos novos alunos.
Há também situações em que o trote acontece, mas sem violência
ou constrangimento. Na semana passada, a Fundação Getúlio
Vargas (FGV), no Rio, deu início as suas aulas e as alunas Rana
Carvalho, de 19 anos, e Nina Calvente, de 18, dizem não
ter sentido constrangimento.
ou constrangimento. Na semana passada, a Fundação Getúlio
Vargas (FGV), no Rio, deu início as suas aulas e as alunas Rana
Carvalho, de 19 anos, e Nina Calvente, de 18, dizem não
ter sentido constrangimento.
— Perguntaram se podiam nos pintar, se teria problema manchar a
roupa, e se a gente queria participar das brincadeiras.
Topamos e foi divertido. — diz Rana.
POR RAPHAEL KAPA
roupa, e se a gente queria participar das brincadeiras.
Topamos e foi divertido. — diz Rana.
POR RAPHAEL KAPA
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