HERTONESCOBAR
Lista
produzida pela empresa Thomson Reuters tem 3.126 nomes, baseada na
publicação de trabalhos de alto impacto. O que isso significa (ou não)
para a ciência brasileira?
O
Instituto Broad de pesquisa genômica, nos EUA, tem uma das produções
científicas de maior impacto no mundo: Foto: Len Rubenstein/Broad
Institute
Quatro
pesquisadores brasileiros estão entre os 3 mil cientistas “mais
influentes” do mundo, segundo um levantamento feito pela empresa Thomson Reuters. São eles, em ordem alfabética:
Ado Jorio de Vasconcelos,
físico de Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); que “trabalha
com pesquisa e desenvolvimento de instrumentação científica para o
estudo de nanoestruturas para aplicação em novos materiais e
biomedicina” — Currículo Lattes/CNPq
Adriano Nunes-Nesi,
agrônomo da Universidade Federal de Viçosa (UFV); que “atua
principalmente nos seguintes temas: metabolismo de carboidratos e
interações entre o metabolismo mitocondrial e outras vias metabólicas em
plantas” — Currículo Lattes/CNPq
Alvaro Avezum,
diretor da Divisão de Pesquisa do Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia, em São Paulo, que participa de vários testes
clínicos internacionais de drogas e terapias — Currículo Researchgate
Paulo Artaxo,
físico da Universidade de São Paulo (USP); que “trabalha com física
aplicada a problemas ambientais, atuando principalmente nas questões de
mudanças climáticas globais, meio ambiente na Amazônia, física de
aerossóis atmosféricos e poluição do ar urbana” — Currículo Lattes/CNPq
É a terceira vez que a Thomson Reuters publica esse relatório, intitulado As mentes científicas mais influentes do mundo, que pode ser pesquisado aqui: http://highlycited.com ( as versão anteriores são de 2001 e 2014). Um pdf do relatório, noticiado pela Agência Fapesp, pode ser baixado aqui: http://goo.gl/OI9H1C.
A
lista é baseada na quantidade de trabalhos “altamente citados”
publicados por cada pesquisador entre 2003 e 2013, em 21 áreas do
conhecimento, chegando a um total del 3.126 nomes. Segundo a empresa,
portanto, estes são os pesquisadores com o maior número de estudos de
alto impacto publicados nesse período de 11 anos. Mas o relatório
apresenta os nomes apenas em ordem alfabética, sem revelar os números de
publicações ou citações associados a cada um deles individualmente.
Levantamentos
desse tipo são interessantes e costumam ter bastante repercussão —
assim como os rankings de universidades —, mas precisam ser analisados
com uma boa dose de ressalvas (ou, como dizem os americanos, com uma
“pitada de sal”), para não se cometer injustiças. Como já escrevi num outro post cerca
de um ano atrás, é importante não confundir métricas com adjetivos:
“mais citados” não significa necessariamente “melhores”, “mais
produtivos” nem “mais influentes”.
Quando
falo em não cometer injustiças, me refiro tanto àqueles que estão na
lista quando aos que ficaram fora dela. Acho sempre temeroso produzir
rankings baseados em métricas isoladas — neste caso, o número de
trabalhos “altamente citados”. Sem querer, com isso, desmerecer os
quatro brasileiros: O fato de eles figurarem nessa lista mostra,
certamente, que são pesquisadores de alto nível, produzindo ciência de
alto impacto, em colaboração com pesquisadores estrangeiros. Mas seria
uma injustiça concluir, com base nisso, que são os quatro cientistas
brasileiros “mais influentes do mundo”.
Especialmente
para o grande público, pode-se passar a impressão de que o Brasil só
tem uma meia-dúzia de cientistas capazes de produzir ciência de
relevância internacional; o que não é verdade. A ciência brasileira é
limitada em muitos aspectos e tem muito o que melhorar, sem sombra de
dúvida, mas uma coisa que não nos falta são bons cientistas. Faltam,
sim, condições institucionais, orçamentárias e regulatórias adequadas
para eles trabalharem, ousarem e ganharem espaço no cenário
internacional.
Participação colaborativa
É
preciso levar em conta que o levantamento da Thomson Reuters não faz
distinção entre autores e co-autores, o que significa que muitos desses 3
mil pesquisadores podem figurar na lista por atuarem como colaboradores
de grandes projetos internacionais, não necessariamente por terem tido
alguma ideia ou iniciativa própria revolucionária. São coadjuvantes, não
protagonistas.
Ainda
assim, não há como negar que 4 pesquisadores entre 3.126 (0,001%) é
muito pouco para um país do tamanho do Brasil, que tem pretensões de se
colocar como uma potência científica internacional. Por mais míope que
seja a métrica de elaboração, é fato que deveríamos ter mais nomes nesse
lista — reflexo de uma das principais limitações qualitativas da nossa
ciência, que é a falta deinternacionalização.
Se as condições não são ideais para desenvolver tantos projetos
revolucionários por aqui, deveríamos pelo menos estar colaborando com
mais projetos revolucionários de outros países.
(OBS:
O levantamento da Thomson Reuters leva em conta a nacionalidade da
instituição onde o pesquisador trabalha, não a nacionalidade da pessoa.
Portanto, é possível que haja outros pesquisadores brasileiros na lista,
associados a instituições estrangeiras.)
O
relatório da Thomson Reuters retrata claramente a supremacia global da
ciência norte-americana. O país com a maior produção de trabalhos
científicos altamente citados são os Estados Unidos; e quatro das cinco
instituições mais produtivas nesse quesito são americanas, lideradas
pela Universidade da Califórnia.
Além
da lista de 3.126 pesquisadores “mais influentes” do mundo entre
2003-2013, o relatório faz também um ranking dos 19 cientistas que mais
“bombaram” no cenário global nos últimos dois anos (2013-2014). Nesse
caso, quem lidera a lista de “hot scientists”, com 25 “hot papers” é a
geneticista americana Stacey Gabriel,
do Instituto Broad, um centro de pesquisas genômicas das universidades
MIT e Harvard — onde, aliás, trabalham outros cinco figurantes da lista.
Como diretora de Plataformas Genômicas da instituição, ela está
envolvida na coordenação de vários projetos de grande escala e alto
impacto para a biomedicina mundial, como o HapMap, 1000 Genomes e Cancer
Genome Atlas.
As informações e opiniões expressas neste blog são de responsabilidade única do autor.
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