Morte da modelo Raquel Santos, após se submeter supostamente a um procedimento estético, acendeu o alerta vermelho: até que ponto vale tudo para ficar linda?
Rio
- Cerrcada ainda de mistério, a morte da modelo Raquel Santos, de 28
anos, na última segunda-feira, após se submeter supostamente a um
procedimento estético considerado simples, acendeu o alerta vermelho:
até que ponto vale tudo para ficar linda? Para Chris Moreno, de 35 anos,
que se prepara para viver uma guerreira grega no abre-alas da União da
Ilha, o risco pode ser alto demais. Musa pelo terceiro ano consecutivo
da escola, ela lembra da loucura que fez ano passado, ao desfilar 20
dias após se submeter a uma cirurgia para implante de silicone nos seios
— o indicado seria esperar 45 dias.
Em busca de menor preço, paciente pode arriscar a própria vida, diz médico
“Toda mulher quer chegar bonita, com tudo em cima,
na Sapucaí. Eu fui para a Avenida ainda em recuperação. Te dá dor, a
fantasia é muito pesada e acaba te machucando. Tem que dar o tempo certo
para o corpo se recuperar, não pode fazer nenhum esforço”, conta ela,
que trabalha como enfermeira e conhece bem os riscos. Chris diz que não
teve complicação, mas não aconselha a estripulia a ninguém.
Especialistas em Cirurgia Plástica e Dermatologia ouvidos pelo O DIA concordam.
O período após qualquer intervenção estética — desde a cirúrgica, como
implantes de silicone ou lipoaspiração (os preferidos pelas brasileiras)
às menos invasivas, como preenchimento com toxina botulínica (o popular
botox) ou com ácido hialurônico (o mesmo supostamente usado por Raquel)
—, deve ser respeitado para evitar complicações. Mas o fundamental é,
antes de recorrer a estes procedimentos, verificar a segurança e a
habilitação do profissional. O médico Wagner Moraes, que atendeu Raquel,
ex-Gata da Hora, do MEIA HORA, é angiologista e não tem o título de
especialista concedido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
com aval do Cremerj.
Já psicólogos e psiquiatras
advertem: a preocupação excessiva com a aparência pode ser patológica.
“Não é vaidade demais, é transtorno, tem que ver como doença”, diz a
psicóloga Maria Cristina Ramos Britto. Segundo ela, o fato de usar
anabolizante e fumar quatro maços de cigarro por dia pode ter
contribuído para que Raquel tivesse uma reação alérgica, possivelmente.
“Mas e antes? Ela já tinha feito várias intervenções. Pessoas como ela
não se conformam. A patologia só foi aumentando, a insatisfação não
desaparece”, explica ela, especialista em transtornos alimentares, de
obesidade e de imagem. Segundo ela, o transtorno dismórfico corporal,
dismorfofobia ou síndrome de Quasímodo se apresenta quando há uma
alteração da própria imagem — a pessoa se enxerga gorda quando está
extremamente magra, por exemplo. Geralmente, isso está associado a outro
transtorno de personalidade, bipolar ou borderline.
“Às vezes não é só pressão da mídia, a pessoa já
tem predisposição para desenvolver isso ou teve infância muito
complicada. Pais também contribuem, dando excessiva importância ao
corpo, ao aspecto estético”, explica ela, que recomenda, nestes casos,
terapia cognitivo comportamental. Para o o psiquiatra Rodrigo Pessanha,
primeiro é preciso fazer um diagnóstico correto. “A pessoa pode ter
vários tipos de transtornos psiquiátricos. Até mesmo medicamentos podem
ser usados para ajudar a retomar percepção de si própria, mais coerente
com a realidade”.
Luciana de Abreu, dermatologista da
Clínica Dr. André Braz, em Ipanema, diz que no fim do ano e começo do
verão aumenta a procura por preenchimentos para corrigir rugas,
olheiras, “ruga da marionete” (alto da boca), bigode chinês (o
procedimento a que Raquel teria se submetido), bochecha caída, bem como
preenchimento de lábios e tratamentos para clarear manchas, reduzir
gordura localizada, celulite e estria. Tudo isso usando ácido
hialurônico, o mesmo teria sido aplicado em Raquel.
“São
procedimentos que podem ser feitos no consultório. Isso exige
treinamento para conhecer a estrutura anatômica, a quantidade e a
viscosidade do produto que vai usar, além de acompanhar de perto o
paciente, para ver se haverá algum sinal diferente para que dê tempo de
intervir, caso necessário”, explica.
Preparo para os primeiros socorros
Acostumado a realizar preenchimentos com botox e ácido hialurônico, um profissional, que pediu para não se identificar, conta que complicações durante estes procedimentos são comuns em consultórios, mas geralmente não levam à morte. “Ninguém gosta de falar do que dá errado, mas aconteceu algo bem parecido com um colega. A paciente havia usado cocaína, ficou ansiosa, a frequência cardíaca subiu e ela teve uma parada respiratória. O colega chamou uma ambulância e a levou a uma emergência. É preciso ter preparo para dar suporte de primeiros socorros para uma eventualidade dessas”, contou.
Acostumado a realizar preenchimentos com botox e ácido hialurônico, um profissional, que pediu para não se identificar, conta que complicações durante estes procedimentos são comuns em consultórios, mas geralmente não levam à morte. “Ninguém gosta de falar do que dá errado, mas aconteceu algo bem parecido com um colega. A paciente havia usado cocaína, ficou ansiosa, a frequência cardíaca subiu e ela teve uma parada respiratória. O colega chamou uma ambulância e a levou a uma emergência. É preciso ter preparo para dar suporte de primeiros socorros para uma eventualidade dessas”, contou.
Segundo o
cirurgião plástico Renato Tatagiba, há procedimentos estéticos que podem
ser feitos em consultórios. Mas antes é preciso se informar e sempre
fazer cirurgias, como lipoaspiração, em centros cirúrgicos. “Uma pessoa
que atua na clandestinidade pode não usar materiais certos”, destaca.
Já
pequenas intervenções como hidrolipo e pálpebras, podem ser feitas em
consultórios de dermatologistas credenciados. “Quem faz à margem disso,
está correndo risco e também põe o paciente em risco”.
Em busca de menor preço, paciente pode arriscar a própria vida, diz médico
No
ano passado, por conta da crise, as brasileiras perderam para as
americanas o posto das que mais recorrem a cirurgias plásticas, mas
ainda se mantêm como campeãs quando a intervenção envolve o rosto ou o
corpo. “O movimento só aumenta”, diz Renato Tatagiba, há 20 anos na
atividade. Mas há que se pesar o risco e o benefício.
“Não
tem legislação que proíba, qualquer médico com CRM pode fazer qualquer
coisa, depois ele responde pelo que vai fazer. Em outros países não é
assim”, conta. Para Tatagiba, na procura por um procedimento mais
barato, de resultado rápido, muitas pessoas acabam atropelando o mais
importante, que é a segurança. “A mídia distorce. Facebook e Instagram
também, com promessa de resultados surreais. Vende-se um peixe que
muitas vezes não tem”, diz, referindo-se à suposta propaganda de
celebridades atendidas por Wagner Moraes, casado com Ângela Bismarck.
Biomédica
formada há quatro anos, Fernanda Guimarães, 26, já se submeteu a vários
procedimentos pelas mãos de colegas da clínica estética onde trabalha:
botox na testa, ultrassom e mesoterapia para gordura localizada. Aos 22,
fez lipoaspiração e em novembro, resolveu reduzir os seios e colocar
silicone. “Procurei um médico renomado, indicado por outras
profissionais. Foi tudo perfeito e em um mês, estava livre para tomar
sol e fazer atividade física”, conta.
Para ficar de bem com o
espelho, mulheres como Fernanda desembolsam algo em torno de R$ 13 mil a
R$ 14 mil, que podem ser parcelados. “Hoje me sinto mais bonita”,
garante. Perguntada se faria outros procedimentos mais invasivos,
titubeia. “Por ora estou satisfeita. Acho que tudo tem um limite, eu
consigo ver bem esse limite. Ela (Raquel) extrapolou, fugiu do limiar
humano”, diz, ao lembrar que a modelo teria usado anabolizante de
animal. A moça exibe boa forma em várias fotos no Instagram e diz que
não usa “nada que seja fora dos padrões”. Malha cinco vezes na semana,
com acompanhamento nutricional, e não usa medicação.
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