2.07.2016

Mulheres fazem campanha por 'pegação com respeito'

Uma rodinha de homens em volta de uma mulher, que só pode sair dali após beijar todos; uma "gravata" no pescoço e a moça só pode se desvencilhar depois de "pegar" o autor do golpe; um puxão de braço ou cabelo para "atrair" a foliã e roubar um beijo.

Atitudes como essas poderiam ser vistas como assédio ou abuso no dia a dia - mas são comuns no Carnaval.
Recentemente, porém, grupos de mulheres se uniram para combatê-las e promover uma festa com respeito ao "direito de escolha".
"Não é para acabar a pegação. É só para ter respeito", afirma Lia Marques, uma das criadoras da campanha Apito Contra o Assédio, que distribui apitos para mulheres nos blocos de São Luiz do Paraitinga, um dos maiores carnavais do Estado de São Paulo.
"Sou super a favor da pegação, desde que as duas pessoas envolvidas queiram. Se é uma coisa que te incomoda, é suficiente para caracterizar assédio", diz Renata Rodrigues, cofundadora do bloco Mulheres Rodadas, do Rio.
O instituto A Mulherada, que surgiu em 2001 em Salvador, o bloco Mulheres Rodadas, fundado no Rio de Janeiro em 2015, e a campanha Apito Contra o Assédio, lançada no início deste ano por três jovens em São Luiz do Paraitinga, são exemplos de grupos criados para defender os direitos da mulher.
Eles usam o carnaval para abordar questões como a violência doméstica e sexual, assédio e machismo.
A mudança de atitude das mulheres com relação ao Carnaval não tem ficado só nos blocos de rua.
No ano passado, uma propaganda de cerveja divulgada nesta época do ano incentivando pessoas a "deixar o não em casa" motivou críticas e foi retirada do mercado - em geral, as reclamações apontavam que a peça sugeria "apologia ao estupro".
Neste ano, em Salvador, uma nova música do cantor Bell, ex-Chiclete com Banana, precisou ser reescrita, porque a letra foi considerada racista e machista.
A canção "Cabelo de Chapinha" dizia no refrão: "Minha nega, vai lá no salão faz aquele corte que seu nego gosta de te ver (...) Ô mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha, mainha" e agora leva o nome de "Minha Deusa".
"Uma série de coisas antes normatizadas hoje estão sendo questionadas", afirma à BBC Brasil a cientista social e antropóloga Heloisa Buarque de Almeida, especialista em questões de gênero.
"O Carnaval como mito de diversão popular sempre jogou com imaginário de gênero, mas acho que ele naturalizava uma série de violências que passavam despercebidas."
Coadjuvantes
Em Salvador, por muito tempo, mulheres participaram como "coadjuvantes" do Carnaval: dançavam e desfilavam nos blocos, mas tinham pouco espaço para tocar.
"Começou há 15 anos com o objetivo de incluir as meninas na música de Salvador, nas bandas percussivas. Naquela época estourou a Timbalada, o Olodum, mas as meninas não podiam tocar. Os homens diziam que não era coisa de mulher", contou Mônica Kalile, presidente-fundadora do bloco A Mulherada, que surgiu no Carnaval e se transformou em instituto, estendendo o trabalho para além da festa.
A Mulherada começou com 100 percussionistas do sexo feminino, que comandaram a bateria do bloco. O trabalho continuou com aulas de percussão, dança afro e inclusão digital ao longo do ano, mas elas descobriram uma grande dificuldade no meio do caminho: manter as mulheres frequentando o instituto após o Carnaval.
Isso acontecia porque muitas sofriam pressão - e até violência - dos maridos e das famílias, que diziam que tocar era coisa de "mulher macho". Foi aí que surgiu a campanha "Tocar pode, bater não", realizada até hoje para conscientizar o público sobre violência doméstica.
"As meninas vinham e depois sumiam, e aí fomos investigar. Muitas das mulheres sofriam violência em casa dos maridos, ou eram lésbicas e sofriam preconceito da família", disse Mônica.
"Decidimos criar, em 2007, a campanha 'Tocar pode, bater não'. A partir daí A Mulherada se tornou referência em Salvador no combate à violência contra a mulher."
Recentemente, a própria Prefeitura de Salvador lançou ações para combater o assédio e a violência contra a mulher no Carnaval.
Agora, há observatórios espalhados pelos circuitos onde é possível denunciar assédio ou abuso, além de 120 observadores espalhados pelos blocos e um número de WhatsApp para denúncias. E A Mulherada cresceu e hoje tem 700 integrantes, entre alas, percussionistas e participantes do bloco. 
#Somostodasrodadas
No Rio, uma foto de um jovem segurando um cartaz "Não mereço mulher rodada" viralizou em dezembro de 2014 após ter sido publicada em um grupo no Facebook. O ato provocou revolta entre mulheres, que responderam com a hashtag #somostodasrodadas e fizeram nascer um bloco de Carnaval.
O bloco agrupou 3 mil pessoas na rua, entre mulheres "rodadas", homens, crianças e senhoras.
"A ideia era fazer uma brincadeira com o machismo, com o rótulo, que de maneiras mais ou menos graves limitam nosso cotidiano", disse Renata Rodrigues, que fundou o bloco junto com Debora Thome.
"E as militantes históricas do feminismo (desfilaram) com a gente, levaram cartazes. Repercutiu no mundo inteiro."
Neste ano, o bloco sairá às ruas do Rio na Quarta-Feira de Cinzas, e em defesa da campanha "Carnaval Sem Assédio", que surgiu nas redes sociais.
Apito contra o assédio
Lia Marques tem 25 anos e diz que nasceu pulando carnaval. Natural de São Luiz do Paraitinga (SP), cidade de carnaval tradicional à base de marchinhas, ela frequenta os blocos de rua desde cedo, mas ultimamente tem se incomodado cada vez mais com as "chegadas agressivas" dos homens na rua.
"Como no Carnaval era só família, com 11 anos saía sozinha na rua e era tranquilo. Em 2005 começou a vir mais gente. Em 2009 foi o estouro geral e você percebe que quanto mais gente, menos controle há. As pessoas acham que podem fazer tudo porque é Carnaval", contou.
Com outras duas amigas, ela decidiu distribuir apitos para as mulheres nos blocos da cidade, para que façam barulho quando se incomodarem com eventuais abordagens abusivas de homens.
Apito contra o assédio
Lia Marques tem 25 anos e diz que nasceu pulando carnaval. Natural de São Luiz do Paraitinga (SP), cidade de carnaval tradicional à base de marchinhas, ela frequenta os blocos de rua desde cedo, mas ultimamente tem se incomodado cada vez mais com as "chegadas agressivas" dos homens na rua.
"Como no Carnaval era só família, com 11 anos saía sozinha na rua e era tranquilo. Em 2005 começou a vir mais gente. Em 2009 foi o estouro geral e você percebe que quanto mais gente, menos controle há. As pessoas acham que podem fazer tudo porque é Carnaval", contou.
Com outras duas amigas, ela decidiu distribuir apitos para as mulheres nos blocos da cidade, para que façam barulho quando se incomodarem com eventuais abordagens abusivas de homens.

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