28 fev 2016
15h25
A cor amarela do caroço do pequi, de onde a polpa cremosa é raspada,
indica que o fruto é rico em betacarotenos, agentes antioxidantes
capazes de combater radicais livres, prevenindo o envelhecimento
precoce. O cheiro adocicado mostra que o alimento é rico em frutose, o
açúcar bom das frutas. “Além disso, o óleo do pequi é chamado Ômega 9 e
combate o colesterol ruim no sangue. Tem funções boas para o aparelho
cardiovascular”, explica o biólogo César Grisólia, pesquisador da
Universidade de Brasília (UnB), que estuda o fruto há 18 anos. Os
benefícios do fruto são tantos que o pesquisador – com a contribuição de
alunos da graduação e da pós-graduação da UnB – desenvolveu técnicas
para transformar a polpa em cápsulas gelatinosas que conservam os
nutrientes e devem ser ingeridas diariamente.
Grisólia chama de “fantástico” o conteúdo nutricional do pequi. Típico
do cerrado, ocorre com maior frequência nos estados de Minas Gerais,
Goiás, São Paulo, Bahia e no Distrito Federal. É um alimento tradicional
na culinária mineira e goiana, mas divide opiniões pelo cheiro e gosto
fortes, o que também dificulta que seja ingerido diariamente. “Na polpa
do pequi, 33% são fibras e sais minerais e os outros 66% são óleo. Por
isso, a digestão dele é difícil”, explica o biólogo.
“A gente fez o pequi em cápsulas para disponibilizá-lo o ano inteiro,
porque o pequi só é encontrado em feiras entre novembro e fevereiro. E
as pessoas podem tomar pequi todos os dias, sem ficar com esse
desconforto de ficar com o estômago pesado”, acrescentou. Segundo
Grisólia, a cápsula não tem o gosto forte, próprio do pequi.
Propriedades
Pesquisas mostram que o pequi tem propriedades anti-inflamatória e é
especialmente funcional para pacientes de lupus e diabetes, além de
ajudar no combate à pressão alta e ser indicado para atletas.
“Trabalhamos com atletas maratonistas, corredores de longas distâncias.
Esses corredores passam por um estresse físico muito grande. O pequi
inibe a formação de radicais livre nessas pessoas.”
A recomendação são duas cápsulas por dia, sem contraindicação. O
produto foi registrado na Agência de Vigilância Sanitária como
nutracêutico, ou seja, uma substância de origem natural que melhora as
funções orgânicas, como a renal e a cardíaca.
Burocracia
O pesquisador disse estar satisfeito pelas cápsulas de pequi chegarem
aos consumidores após anos de estudo sobre o fruto. “É dificílimo levar a
pesquisa ao mercado. A burocracia é pesada, mata a gente”, destacou.
Grisólia argumentou que as leis atuais que regem as parcerias das
universidades públicas com a iniciativa privada ainda desvalorizam os
cientistas, apesar dos avanços trazidos pelos Marco Legal de Ciência,
Tecnologia e Inovação – conjunto de regras que tem como uma das metas
transformar o conhecimento desenvolvido nas universidades até o setor
produtivo.
O pesquisador defende que o país precisa incentivar mais o
desenvolvimento de patentes nacionais e, para isso, precisa valorizar os
pesquisadores. “No processo, todo mundo ganha, mas o criador
intelectual é o que menos ganha. Isso desmotiva quem faz ciência nas
universidades públicas do Brasil. A regra tem que mudar.”
Segundo o acordo firmado entre a UnB e a Farmacotécnica RTK, a empresa
vai comercializar as cápsulas a partir de 14 de abril e pagar 2% de
royalties para a UnB. “Nós não vendemos, nós licenciamos os direitos de
uso. Foi uma transferência de nossos direitos de uso para a empresa”,
explicou o cientista.
Desse valor, dois terços vão para a universidade e um terço vai para o
pesquisador. “Desse um terço que vem para mim, vou dividir com meus
alunos que contribuíram com o estudo”, disse Grisólia. “A patente fui eu
que desenvolvi com alunos, mas, pelas regras, a patente é minha e da
UnB juntos”, acrescentou.
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