Homem invade transmissão ao vivo com cartaz contra a Globo
Foto: Reprodução
Mansão que Globo não noticia é alvo da Lava Jato no esquema Mossack Fonseca
Documentos ligam obra ilegal em
área protegida, em Paraty, a empresas investigadas por operações
suspeitas. Será curioso assistir a William Bonner noticiando operação da
PF na mansão que a Globo não noticia
por Helena Sthephanowitz, para a RBA
publicado
12/02/2016 10:36,
última modificação
27/02/2016 12:51
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Segundo o DCM, tríplex foi erguido em área de preservação pertencente à União
Em atenção a pedido de retificação de João Roberto Marinho, que diz ser inverídica
a informação de que a mansão em Paraty e as empresas citadas nesta
matéria como sócias na casa não estão em nome de nenhum dos integrantes
da família Marinho e, portanto, declara não serem os proprietários, a
reportagem – publicada em 12 de fevereiro –, foi atualizada em 27 de
fevereiro, sem prejuízo das demais informações.
A mansão de praia construída ilegalmente em área de
preservação ambiental em Paraty foi noticiada pela Bloomberg em 2012
como sendo da família Marinho, dona da TV Globo. Não há registro na
Bloomberg até hoje de desmentido, mas agora João Roberto Marinho afirma
em nota enviada ao blog que não são os proprietários. Há notícias e
relatos de que a família Marinho é quem utiliza a casa, mas João Roberto
Marinho nada disse a esse respeito. O blog apurou que a mansão tem
documentos em nome de uma empresa que em sua cadeia societária
encontram-se offshores investigadas na Operação Lava Jato e na Operação Ararath, da Polícia Federal.
Segundo reportagem do Diário do Centro do Mundo ,
a mansão está em nome da empresa Agropecuária Veine, tendo como
sócio-administrador Celso de Campos. A Secretaria de Patrimônio da União
confirma a ocupação de três terrenos litorâneos da União por esta
empresa na área onde está a mansão, o maior deles na certidão abaixo.
Nos dados abertos da Receita Federal, a Agropecuária Veine tem como
endereço um apartamento residencial no Rio de Janeiro, em Copacabana, e
tem no quadro de sócios outra empresa: a Vaincre LLC, domiciliada no
exterior, cujo representante legal por procuração é Lucia Cortes
Rosemburge, ex-funcionária do INSS, aposentada em 2008, salvo homônimo.
A Vaincre LLC tem CNPJ registrado, mas chama atenção o endereço
incompleto no cadastro desde 2005, onde nem sequer informa a cidade,
estado e país. Também não tem telefone nem e-mail de contato. E não tem
informações sobre o quadro de sócios. Tudo isso dificulta entregar
notificações judiciais, autuações administrativas ou operações de busca e
apreensão, se necessárias.
Mas descobrimos que o endereço é de Las Vegas, no estado de Nevada, nos Estados Unidos.
O endereço da Vaincre LLC – 520, S7TH Street, Suite C, Las Vegas,
Nevada (EUA) – é exatamente o mesmo da Murray Holdings LLC, a empresa offshore
dona de um apartamento tríplex no Guarujá, no edifício em que o
ex-presidente Lula quis comprar apartamento e desistiu, levando a mídia
tradicional a produzir a onda de boatos de que ele seria dono. Os reais
proprietários do apartamento, que nada tem a ver com o ex-presidente,
foram alvo da 22ª fase da Operação Lava Jato, chamada de Triplo-X.
Além das duas empresas terem o mesmo endereço em Las Vegas, têm
o mesmo representante legal e o mesmo gestor. A Vaincre LLC da mansão
em Paraty e Murray Holdinds LLC do Guarujá tem como representante legal a
MF Corporate Service e tem como gestora a Camille Services SA, uma offshore no Panamá, cujo endereço é uma "P.O.box" (caixa postal) de número 0832-0886.
A Camille Services SA tem entre seus dirigentes Francis Perez,
Leticia Montoya e Katia Solano, nomes citados no escândalo de suposta
lavagem de US$ 100 milhões do ex-presidente da Nicarágua Arnoldo Alemán
(1997-2002) e da Fundação Voyager, sediada na Costa Rica.
A MF Corporate Service é uma empresa do Grupo Mossack Fonseca,
investigado nos Estados Unidos por suspeita de lavagem de dinheiro e no
Brasil, antes da Lava Jato, na Operação Ararath, cujas empresas
envolvidos estão no quadro abaixo, com o mesmo endereço, mesmo
representante legal e mesmo administrador usado no esquema da mansão.
Agora não há como o Ministério Público Federal e a Polícia Federal deixarem de investigar o uso de offshores
suspeitas em paraísos fiscais para adquirir esta mansão, no mesmo
esquema usado nas operação Triplo-X e Ararath, com o agravante de estar
edificada em terreno da União e de ter desmatado área bem maior do que a
lei permite.
Será curioso assistir como o apresentador William
Bonner noticiará uma operação da Polícia Federal na mansão em Paraty, já
que a TV Globo até hoje não deu nenhuma notícia da mansão apesar do
inegável interesse público em saber quem são os verdadeiros donos por
trás das empresas nos paraísos fiscais.
Há uma justiça poética nesta história. O Jornal Nacional e a revista Época fizeram
reportagens acusatórias e improcedentes, típicas de assassinato de
reputação, alimentando-se de boatos de que o ex-presidente Lula estaria
ocultando patrimônio. Isso ignorando documentos que já provavam serem
completamente falsas tais acusações.
Agora, quem pode estar ocultando patrimônio de fato é
alguém no caso da mansão. Afinal, por que montar uma complexa estrutura
societária, com empresas aparentemente de fachada, passando por
empresas em paraísos fiscais – que ocultam os verdadeiros donos?
No popular, podemos dizer que atiraram no
ex-presidente Lula e acertaram, sem querer, nos donos da mansão que a TV
Globo não noticia.
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