*Por Mariana Scarfoni Peixoto
As malformações congênitas estão entre os problemas médicos de prevenção e cura mais difíceis. Trata-se de uma complicação que ocorre durante o desenvolvimento do bebê no útero, gerando anomalias funcionais ou estruturais no recém-nascido. São decorrentes de uma série de causas, que variam desde herança genética e doenças preexistentes ou contraídas pela mãe nos primeiros meses de gravidez, até a exposição a substâncias químicas. Entre
elas está o consumo de analgésicos opioides, como codeína, oxicodona e
hidrocodona, que, segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças
(CDC) dos EUA, pode aumentar em duas vezes o risco de algumas raras
malformações congênitas. Inclusive, em 2011, a instituição emitiu um
alerta sobre os riscos causados pelo consumo de opioides antes ou no
início da gestação.
Os
opioides são substâncias naturais que podem ser encontradas em plantas
ou produzidas pelo organismo humano. Estes últimos, denominados
“opioides endógenos”, são produzidos e distribuídos por todo o Sistema
Nervoso Central (SNC) a fim de modular a dor e controlar o sistema
cardiovascular. Contudo, os opioides sintéticos e semissintéticos é que
são os destaques clínicos devido especialmente ao seu alto potencial
analgésico. São indicados, normalmente, para pacientes pós-cirúrgicos e,
em casos extremos, para gestantes com crise de pedras nos rins, por
exemplo.
No
Brasil, os analgésicos opioides são medicamentos amplamente consumidos,
comercializados somente sob prescrição médica, controlados pela
Portaria n° 344, de 12 de maio de 1998 da ANVISA, além de possuir
indicação bastante restrita para gestantes, sendo prescritos apenas em
casos de extrema urgência, como citado anteriormente, o que reduz a
probabilidade da malformação congênita.
Entretanto,
a maior preocupação apontada pelos médicos para as gestantes é o
consumo de anti-inflamatórios indiscriminadamente, uma vez que estes são
vendidos sem prescrição médica. Os anti-inflamatórios usados de forma
incorreta durante a gestação podem aumentar o risco de malformação
cardíaca fetal em qualquer estágio da gravidez, ao contrário dos
opioides, que apresentam probabilidade de malformação apenas no início
da gravidez, durante a formação dos órgãos e tecidos do feto.
A
automedicação contribui para milhares de mortes por ano, de acordo com
dado de 2006 da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas
(ABIFARMA), o qual aponta cerca de 20 mil mortes por ano causadas pela
automedicação. Já em 2012, o Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) relatou cerca de 86 mil casos
registrados de intoxicação causados pelo uso indiscriminado de
medicamentos.
Dose,
período de gestação, tempo de uso e interação com outras substâncias
são alguns dos fatores que podem desencadear danos à saúde do bebê. As
malformações atingem, todo ano, mais de dez mil crianças, sendo que a
maioria delas morrem no primeiro ano de vida e as demais são submetidas a
cirurgias ou tratamentos vitalícios. Por isso, o alerta para as
gestantes, que devem redobrar a atenção durante este período.
*Mariana
Scarfoni Peixoto é farmacêutica e especialista em assuntos
regulatórios. Atua como analista de assuntos regulatórios na empresa
Intertox, referência nacional no segmento de segurança química, gestão
ambiental e tecnologia da informação.
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