28.02.2016
Em fortes doses e durante um período prolongado, esses medicamentos muito úteis aumentam o risco cardíaco. Não há perigo para as necessidades em curto prazo.
Os medicamentos anti-inflamatórios não esteroides ou AINES são amplamente prescritos para dores agudas ou em doenças reumáticas. Um dia ou outro, todos nós ingerimos um AINES, porque esta família de medicamentos muito vasta inclui a aspirina bem como o ibuprofeno (Advil), o diclofenaco (Voltaren), o naproxeno (Naprosyn) ou o celecoxib (Celebrex, da classe dos coxibs). Todas essas moléculas são particularmente eficazes.Mas, como qualquer medicamento, elas têm efeitos colaterais. O risco hemorrágico é conhecido há muito tempo. Mas, para a surpresa de todos, vários estudos têm revelado um risco cardiovascular para alguns pacientes tratados dessa forma. Há alguns anos, um coxib, o Vioxx, após debate extenso e polêmico, foi retirado do mercado causando reclamações, por causa da descoberta de um risco cardiovascular mais elevado em comparação com pessoas não tratadas.
Uso prolongado tem riscos
Foi a primeira vez que um risco cardíaco foi associado a um AINES.
Mas um estudo publicado na revista The Lancet revelou que o diclofenaco e o ibuprofeno têm os mesmos perigos quando ingeridos em doses elevadas por longos períodos. «O risco hemorrágico tem sido por muito tempo, a grande preocupação com os AINES. Há alguns anos, as hemorragias digestivas eram responsáveis por 14 mil a 20 mil internações por ano. Hoje, este risco é controlado com a prescrição de protetores gástricos. É o risco cardiovascular que está se tornando um problema», analisa o professor Bernard Begaud, farmacologista na Universidade de Bordeaux.
Para medir com precisão o risco cardíaco, pesquisadores da Universidade de Oxford conduziram uma meta-análise a partir de 639 ensaios terapêuticos. De acordo com seus cálculos, a ingestão de coxibs, de diclofenaco ou de ibuprofeno em dose máxima durante um ano, aumenta em 40 % o risco de acidentes cardiovasculares. Em outras palavras, para mil pacientes tratados durante um ano, observaram-se 3 acidentes cardiovasculares importantes, incluindo 1 resultando em morte, os coxibs e o diclofenaco tendo se revelado dos mais temíveis. Em uma população já conhecida por estar em risco cardiovascular, o número de acidentes observados para mil pacientes tratados passa então para 8.
Para dores leves, tomar diclofenaco ou ibuprofeno
Somente o naproxeno não apresenta nenhum risco adicional para os vasos sanguíneos. Mas essa molécula é conhecida por causar mais hemorragias que outros anti-inflamatórios. Um dado confirmado pela meta-análise dos pesquisadores de Oxford: todos os AINES aumentaram significativamente a taxa de complicações gastrointestinais, mas é menor sob coxibs e diclofenaco que sob naproxeno.
«Se os eventos hemorrágicos são mais frequentes, eles são muito menos graves que um infarto do miocárdio », salienta o professor Francis Berenbaum, vice-presidente da Sociedade francesa de reumatologia.
Sem pânico, no entanto. Se o risco existir, ele permanece fraco e apenas quanto a anti-inflamatórios administrados em doses máximas ao longo de longos períodos. «Quatro franceses em cada dez tiveram um AINES prescrito nos últimos dois anos, de acordo com resultados de um estudo que vamos publicar. Mas para dois terços deles, a quantidade prescrita neste período foi uma caixa. Apenas 3 % tiveram mais de quatro caixas prescritas ao longo de dois anos. As doses do estudo estão relacionadas a 2 - 3 % dos usuários de AINES ao longo de dois anos na França», relativiza o professor Nicholas Moore, diretor do departamento de farmacologia de Bordeaux.
Tomar diclofenaco ou ibuprofeno para aliviar dores banais e em períodos de poucos dias não provocará infarto. «Os AINES são medicamentos particularmente úteis para certas patologias. Por exemplo, eles são extraordinariamente eficazes em doses elevadas em períodos curtos para combater enxaquecas ou cólicas renais», explica o Prof. Bernard Bannwarth, professor de terapêutica no Hospital Universitário de Bordeaux. Eles também são particularmente indicados para pacientes sofrendo de reumatismo inflamatório crônico, tal como a espondilite. Mas neste caso, os prazos de utilização são prolongados e, para o especialista, é melhor optar por naproxeno associado a um protetor gástrico. «Não devemos negar a toxicidade destes medicamentos ou seu interesse. Mas devemos utilizá-los da melhor forma possível e na dosagem adequada», insiste o reumatologista.
Se o cuidado deve ser tomado com todos os anti-inflamatórios não esteróides, o diclofenaco merece uma atenção especial. Há alguns dias, a Agência Europeia do Medicamento (EMA) recomendou evitar sua prescrição para pessoas com patologia cardíaca ou circulatória, um histórico de infarto ou derrame. A prescrição, em casos de fatores de risco cardiovasculares: hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, tabagismo, deverá ser objeto de cuidados.
Por: Anne Prigent
– Le Figaro
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