3.10.2016

Fiocruz no enfrentamento da Emergência Sanitária



Por Claudia Lima (CCS)
Para uma plateia atenta e participativa, o presidente Paulo Gadelha fez uma apresentação, na semana passada (25/2), sobre as ações da Fiocruz no enfrentamento da Emergência Sanitária de Importância Nacional decretada em função da disseminação do vírus zika e sua associação com a microcefalia e outras síndromes neurológicas. O encontro lotou o auditório térreo da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e se estendeu das 10h às 13h30. Participaram da mesa os vice-presidentes de Pesquisa e Laboratórios de Referência, Rodrigo Stabili, e de Ensino, Informação e Comunicação, Nísia Trindade.

Depois de uma contextualização histórica de quadros de emergência em saúde pública ocorridos no país, como a epidemia de meningite nos anos 1970, Gadelha falou sobre a dimensão da crise atual e do papel da Fundação. “Esse é um momento tanto de respostas que precisamos dar à sociedade, quanto de reflexão muito forte interna sobre as características da nossa atuação”, afirmou, ressaltando o aprendizado do processo.

“Para as instituições, em um quadro como esse o melhor aflora - a capacidade de resposta, expertise, atuação conjunta e reafirmação dos compromissos sociais -, como também muitas características que demonstram dificuldades de atuação, seja porque nossos processos operativos não são os ideais, seja porque a nossa capacidade de compartilhar informações e atuar conjuntamente não são as mais azeitadas, seja porque as questões ligadas ao processo de financiamento não se colocam de uma maneira adequada”, avaliou.

Pesquisa e desenvolvimento - O presidente falou do papel privilegiado da Fiocruz para tomar decisões no quadro atual, dada a diversidade de atividades que desenvolve e enumerou as diversas ações em pesquisa e desenvolvimento tecnológico: a descoberta feita pelo Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) que constatou a presença vírus zika no líquido amniótico; a pesquisa desenvolvida pelo Instituto Carlos Chagas (ICC-Fiocruz Paraná), em parceria com a PUC-PR, que confirmou que o vírus zika é capaz de atravessar a barreira placentária; a pesquisa do Laboratório de Biologia do IOC que detectou a presença do vírus em saliva e urina; e o desenvolvimento do multi-teste molecular para diagnóstico simultâneo de dengue, zika e chikungunya.

Os estudos de coorte multicêntrico, a colaboração da Fiocruz com estados e municípios na estruturação da atenção à saúde no plano local e a atuação de assistência, na atenção integral às crianças portadoras de microcefalias e outras malformações relacionadas ao vírus zika, foram outras das atuações descritas. O presidente tratou detalhadamente dos estudos de controle vetorial em curso: o Projeto Eliminar a dengue: desafio Brasil, com uso da bactéria Wolbachia; do uso do mosquito Aedes Aegypti como unidade dispersora de larvicida; e do desenvolvimento do biolarvicida Dengue Tech, por Farmanguinhos.

Há vários projetos em desenvolvimento, que seguem novas fases, como o escalonamento da experiência com a bactéria Wolbachia; os estudos de caso controle; a formatação de biorrepositório; e ações na área de vigilância e competência vetorial, vacina e diagnóstico sorológico. Paulo Gadelha falou sobre a importância da mobilização social e da experiência da constituição de comitês populares para o controle do Aedes, projeto em desenvolvimento pelo Instituto de Pesquisa René Rachou (Fiocruz/Minas) para três mil escolas, e das ações do programa de Controle da dengue em Manguinhos.

Informação e comunicação - O papel central da informação e comunicação no quadro de Emergência Sanitária também foi destacado durante a apresentação. Veículos como a Radis, a Agência Fiocruz de Notícias, o Portal Fiocruz, o site Rede Dengue, o Canal Saúde e as ações de revisão sistemática da produção científica sobre o tema e a assinatura acordo internacional para compartilhamento de dados de pesquisa sobre zika formam tema da apresentação.

Paulo Gadelha destacou que a Fiocruz assinou documento conjunto de várias instituições – entre as quais Wellcome Trust, Instituto Pasteur, Academy of Medical Sciences e Bill and Melinda Gates Foundation. “O manifesto é no sentido de que toda a informação científica consolidada e fundamentada tem que ser o mais rapidamente disseminada para o conjunto da comunidade científica, para os gestores de saúde pública e para a população”, afirmou. “Muitas vezes os periódicos acabam não aceitando publicações porque foi divulgada anteriormente. Em situações de crise, é inaceitável a informação ficar retida porque o produtor do conhecimento fica aguardando a publicação”, explicou.

Entre os compromissos do manifesto, está o de trabalhar em parceria para garantir que a resposta global a situações de emergência de saúde pública possam se basear nos melhores dados e evidências de pesquisa disponíveis. Assim, os periódicos signatários se comprometem a tornar o acesso livre para todo o conteúdo relativo ao vírus zika e que quaisquer dados ou pré-impressões divulgadas antes da submissão de qualquer artigo não sejam empecilho para sua publicação posterior em periódicos. O documento está de acordo com a consultoria especializada sobre compartilhamento de dados realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano passado.

A importância das ações em parceria com instituições nacionais e internacionais também foi tratada durante o encontro. Estiveram presentes ao debate os ex-presidentes da Fundação Luiz Fernando Ferreira e Paulo Buss; o vereador Paulo Pinheiro (PSOL/RJ); pesquisadores, estudantes, gestores e diretores de várias unidades.
Clique aqui e confira a apresentação.

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