Por Emir Sader
O
pais saiu dividido das eleições, em que o mais significativo – e quase
decisivo – foi o fato de que a oposição conseguiu captar uma parte
importante do voto popular, beneficiário dos programas sociais do
governo. Além disso, pela primeira vez um presidente foi eleito no
Brasil com a oposição de praticamente a totalidade do grande
empresariado, isto é, numa sociedade capitalista, o capital se choca com
a oposição majoritária da população, que seguiu preferindo o modelo de
desenvolvimento econômico com distribuição de renda.
O
governo só fez a leitura das condições de desequilíbrio das contas
publicas que ele herdava do seu próprio primeiro mandato, resultado do
erro de ter promovido isenções e subsídios sem ter cobrado contrapartida
das grandes empresas que as recebiam. Não levou em conta que o objetivo
principal da esquerda é conquistar de volta o popular.
Além
de que a virada da situação internacional também contribuiu para a
extensão da estagnação econômica do primeiro mandato, que o próprio
governo transformou em recessão, com seu infeliz ajuste fiscal, que fez
recair sobre os trabalhadores e não sobre os responsáveis pelos
desequilíbrios, o ônus da crise.
A
direita se aproveitou de um governo enfraquecido de apoio popular, que
puxou o próprio tapete sob os seus próprios pés, com o ajuste e alienou
o apoio dos que o haviam reeleito, na busca infrutífera de apoio do
mercado. O governo acabou sem um e sem outro, quase que suspenso no ar,
isolado social e politicamente.
A
divisão do pais se tornou fratura, conforme a direita – mídia,
partidos, grande empresariado, setores do Judiciário e da Policia
Federal – promoveram uma política de ódio ao governo, ao Lula e ao PT, e
arrastaram setores significativos da classe media e da burguesia nessa
campanha. Note-se que os setores populares que votaram pelo candidato da
direita não se deixaram arrastar nesse ódio. Embora não apoiem o
governo, não encontram nas lideranças de direita seu dirigentes.
As
propostas de saída da crise por parte da oposição são todas
conservadoras. Algumas apenas aprofundam o equivocado e ineficiente
ajuste fiscal do governo, apontando de maneira mais direta com vingança
dura contra os setores populares beneficiários das políticas do governo.
Se aprofundaria a fratura social e política no pais, com perspectivas
de instabilidades muito maiores que as atuais, com enfrentamentos
abertos de classe.
Não
somente não haveria retomada do crescimento econômico, porque o
aprofundamento do ajuste intensificaria a recessão, como a fratura
social seria ainda mais profunda e a democracia seria profundamente
afetada, porque a direita, sem legitimidade popular, usaria a repressão
contra os movimentos populares e qualquer forma de reivindicação que
afetasse sua política de exclusão social e de reconcentração de renda.
Nessa
condições, a única política que pode reunificar o pais é a de retomada
do desenvolvimento com distribuição de renda, que gozaria de amplo apoio
popular e poderia incorporar os empresários interessados na expansão
produtiva da economia e até mesmo setores do capital financeiro, que se
disponham a ajudar a financiar o crescimento econômico mediante créditos
para o investimento, para o consumo e para a pesquisa.
A
única liderança com credibilidade com o povo e com dialogo com o
empresariado é a do Lula, como ele ja demonstrou nos seus dois mandatos
de governo, que representaram o momento mais feliz e virtuoso de
crescimento e combate às desigualdades que tivemos até aqui na nossa
historia. Sua capacidade de agregação faz dele o único líder politico
capaz de recompor a unidade do pais em torno de um projeto de futuro, de
progresso, de reunificação social e política.
Por
isso a direita, que não se interessa que o pais avance nessa direção,
tenta projetar uma imagem negativa, odiosa, do Lula, tenta
criminaliza-lo, tira-lo da vida política. Exatamente porque conhece esse
formidável potencial do Lula, que ao reaparecer aos olhos da grande
massa da população depois da frustrada tentativa de detê-lo, ressurge
como a esperança de que o Brasil volte a ser um pais que progride, gera
empregos, se projeta de forma extraordinária no mundo, recomponha o
dialogo no debate politico, reconquista o apoio popular de que só o Lula
pode deter. Só Lula pode reunificar o Brasil, condição da saída
democrática da crise atual
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