Como ensinou Abrahm Lincoln, o presidente dos Estados Unidos que foi a guerra civil para abolir a escravatura, "pode-se enganar a todos por algum tempo. Pode-se enganar alguns por todo tempo. Mas não se pode enganar a todos por todo o tempo."
Numa eventual candidatura em 2018, Lula possuía 29% das preferências em junho. Agora está com 34%, contra 15% para Aécio Neves, o segundo colocado.
Para 42% dos brasileiros, Lula continua o melhor presidente da História.
Mesmo lembrando que faltam 23 meses para o pleito de 2018, e que muitas mudanças políticas podem ocorrer até lá, não deixa de ser uma novidade notável.
Em maio, logo após a Câmara votar o afastamento de Dilma, o DataFolha apontava Marina Silva, com 21% de intenções de voto, em primeiro lugar para 2018. (Hoje ela se encontra em 3º, com 11%).
Em março, quando Sérgio Moro autorizou a divulgação ilegal de seus diálogos com Dilma, destinada a impedir sua posse na Casa Civil, a rejeição a Lula chegou a 57%.
Não custa lembrar que historicamente, os novos números são até modestos para um político com a estatura única de Lula. Em 2010, quando liderou a campanha pela eleição de Dilma, sua aprovação chegou a bater em 87%, um recorde entre os recordes.
Os números de hoje estão longe dessa realidade, o que é bastante compreensível. A situação do país mudou. Do ponto de vista da maioria dos próprios eleitores de Lula, já vinha apresentando mudanças negativas em 2014 e especialmente em 2015, no ajuste que inaugurou o segundo mandato de Dilma.
Se a reeleição foi um combate palmo a palmo, urna a urna, a derrota nas eleições municipais foi a pior na história do Partido dos Trabalhadores.
Os 34% de Lula representam uma recuperação importante – mas não podem esconder uma conjuntura difícil, com vários desafios que terão de ser encarados e respondidos.
A pesquisa traz uma questão principal, contudo. Lembra que desde 2011, quando deixou o Planalto, Lula nunca foi desbancado na posição de melhor presidente da História na visão dos brasileiros. Isso significa que a força das conquistas obtidas durante seu governo – mesmo parciais, limitadas, sujeitas a vários tipos de crítica – segue muito superior ao erros e, particularmente, ao poder massacrante de adversários que administram o pensamento único da mídia grande.
Esta persistência explica apoio cúmplice de adversários e concorrentes a perseguição da Lava Jato. No caso mais notório, o campeão de engavetamentos na Lava Jato Aécio Neves já se revelou o mais aplicado discípulo da jurisprudência patrocinada pelo coronel-ministro Jarbas Passarinho na noite do AI-5, ao mandar “às favas os escrúpulos de consciência”. O mesmo se pode observar diante do silêncio obsequioso do PSDB paulista diante da tragédia da linha 4 do metrô, ilustrada por farta documentação sobre pagamento de propinas, inclusive para um membro do Ministério Público que atuava na apuração de responsabilidades que envolvem a morte de 7 cidadãos inocentes.
Incapazes de enfrentar Lula num combate decente e honesto nas urnas, permitindo que o eleitor faça sua opção de acordo com os ritos da democracia, os autoproclamados concorrentes de 2018 já não hesitam em trilhar o jogo sujo dos atalhos antidemocráticos, com ajuda de Sérgio Moro, para chegar ao Planalto.
A constrangedora fraqueza confirma uma nova realidade, porém. O juiz da Lava Jato pode ser um grande destruidor de adversários. Possui imensos índices de aprovação. Mas se é competente para fortalecer a própria musculatura nas pesquisas, sua atuação não beneficia candidatos alternativos, traço que pode dar espaço para soluções menos convencionais em 2018.
O laboratório das eleições municipais apontou para experiências exóticas. Disputado num quadro de esfacelamento de partidos políticos, desgaste de candidatos e rejeição da população, reforçou um ambiente de criminalização de políticos e rejeição de partidos. Em São Paulo, o vitorioso nas eleições para prefeito, principal troféu do ano, é João Berlusconi Dória Junior. No Rio, assiste-se a uma disputa ente a Igreja Universal e o PSOL no altar da TV Globo.
Neste ambiente, as grandes verdades reveladas pela Vox são duas, uma conjuntural e a outra, estrutural. Divulgada num momento de tensão política, provocada pela possibilidade de Sérgio Moro decretar sua prisão a qualquer momento, mesmo sem o menor fundamento jurídico, a pesquisa confirma a posição única de Lula na preservação da democracia brasileira.
Mesmo caçado, continua o político capaz de combinar aquilo que foi com aquilo que pode vir a ser e, dessa forma, assegurar o reconhecimento das instituições que integram todo regime democrático. Enquanto os adversários desabam, Lula é uma opção que faz sentido para 34% dos brasileiros, uma soma superior ao trio de adversários Aécio-Marina-Bolsonaro.
Essa condição faz dele o principal personagem da resistência democrática contra permanentes iniciativas que apontam para um estado de exceção. Mais do que um caso pessoal, seu destino é uma linha divisória.
Não há dúvida de que a nova pesquisa irá injetar ânimo na imensa parcela de aliados e admiradores de Lula, até aqui em posição de perplexidade diante das ameaças contra Lula. A pesquisa mostra que há espaço para protestar e reagir.
O reconhecimento do caráter positivo da herança deixada por Lula, também é revelador de um dado essencial da vida política. Ela mostra o fiasco popular do governo Michel Temer.
O sonho dos aprendizes de feiticeiro do Planalto de Temer era arruinar um modelo de crescimento includente, destruir avanços obtidos a partir de 2003 e, ao mesmo tempo, transferir o desgaste para Lula e Dilma.
Confirmando a noção de que a mentira tem pernas curtas em política, os mesmos números que mostram a recuperação de Lula confirmam o inferno de Temer e a rejeição a seus projetos. Pode ser até difícil saber a origem dos bons números de Lula e dizer o que é fruto de seus próprios méritos, o que é fruto do abismo Temer.
Mas é fácil perceber que Lula é o rosto da resistência necessária a tragédia visível do governo empossado através de um golpe parlamentar – e é por isso que cresce aos olhos dos brasileiros.
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