Para Miguel do Rosário, o objetivo é fazer "uma dobradinha.
Alexandre de Moraes 'controla' a Lava Jato no Supremo, e Sergio Moro
'controla' em Curitiba. Centra-se fogo no PT, prende-se Lula e ponto
final"; para ele, "a docilidade quase servil de Moro diante do
ex-presidente FHC, por ocasião de seu depoimento em defesa de Lula,
mostra que o PSDB, de maneira geral, não corre mais grandes riscos na
Lava Jato"; "Quem manda é o STF, que por sua vez obedece à Globo, que é
um braço do imperialismo americano no Brasil", diz ele
Por Miguel do Rosário, do Cafezinho
O título é irônico porque eu acho muito biruta essa gritaria toda sobre "acabar com a Lava Jato".
A Lava Jato personalizou-se. Virou um indivíduo, com opiniões políticas, com mau humor. Frequentemente, ela se porta como uma donzela desamparada, sequestrada pelos vilões do Senado e do governo.
"Ah, querem acabar com a Lava Jato!"
Até mesmo os parlamentares de esquerda se comovem, esquecendo que a donzela, num momento anterior, era o próprio dragão servindo de guarda costas para o impeachment e, logo em seguida, para a demolição do Estado. Então se juntam ao coro dos macacos de auditório, também querendo tirar uma casquinha da aprovação da Lava Jato junto a este setor da sociedade que Hannah Arendt chamava, muito apropriadamente, de "ralé", e que a gente tem chamado aqui, mais modernamente, de zumbis midiáticos.
"Temer quer acabar com a Lava Jato!", gritam os parlamentares do PT, achando-se muito perspicazes.
A militância de esquerda, que também é muito esperta, diz que o golpe foi dado para "acabar com a Lava Jato".
A militância de direita, que vive uma fase bem malandra, sorri e se cala: ela jamais escondeu o seu desejo mais ardente, o de que a Lava Jato prenda Lula. O resto, não lhe interessa.
A tara para prender o Lula não significa apenas tirá-lo das eleições de 2018. Há um objetivo maior, mais velho que o mundo, de enterrar o sonho de liberdade e democracia que Lula representa.
Foi assim com Oliver Cromwell, o "rei do povo", que as elites britânicas odiavam tanto que mandaram desenterrar seu corpo, decapitá-lo e jogá-los aos abutres, de maneira a humilhar para sempre todos aqueles que ousaram acreditar nele.
Em seu depoimento a Sergio Moro, Eduardo Cunha acusou o presidente Michel Temer. Moro acorreu, furiosamente, em socorro do presidente. Escreveu um texto de mais de 100 páginas, onde não disfarça sua indignação com a tentativa de Cunha de fazer "insinuações" contra o presidente.
É comovente.
Sergio Moro também quer "acabar com a Lava Jato"?
Ora, é natural. Ele está cansado. Quer prender Lula de uma vez e ir morar nos Estados Unidos com sua esposa. Quem pode lhe condenar por isso? O Brasil está um caos! O próprio Moro admitiu, em palestra na Columbia (bancada por empresário brasileiro), que a Lava Jato produziu instabilidade, mas que, no futuro, ela ajudará o país a ficar mais competitivo. Ele não explicou como a destruição de indústrias e a medievalização dos processos penais podem tornar um país mais "competitivo".
O procurador Carlos Lima, um dos coordenadores da Lava Jato no MPF de Curitiba, disse que ficou aliviado com a opinião de Alexandre de Moraes, de defender a prisão em segunda instância, uma das mil e uma bizarrices jurídicas que o STF aprovou, para agradar a... Lava Jato.
A afirmação de Lima foi um aval da Lava Jato à nomeação de Alexandre de Moraes. Tudo bem, podem indicar Alexandre de Moraes para o STF.
O Conselho Nacional dos Procuradores Gerais (CNPG), uma das inúmeras maçonarias golpistas do MPF, divulgou nota, dois dias atrás, em que também apoia a indicação de Moraes para o STF.
A Associação de Magistrados do Brasil, que vem operando intensamente em prol do golpe, também soltou notinha de apoio a Moraes no STF.
Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP), outra maçonaria, também quer Moraes como revisor da Lava Jato no Supremo.
Ou seja, todos aqueles que sustentaram a Lava Jato, incluindo aí procuradores da própria operação, apoiam Moraes no STF, mesmo sabendo que o ministro é um filiado ao PSDB, um escudeiro fiel do presidente Temer que vai para lá com a missão de... "acabar com a Lava Jato"?
Que confusão!
Isso prova uma teoria minha, que me parece um tanto óbvia: na verdade, quem quer "acabar com a Lava Jato" é a própria Lava Jato. Para subsidiar o golpe, ela teve que reunir um material enorme em suas mãos, quase tudo de forma truculenta, ilegal, espionando até mesmo advogados dos réus, torturando executivos, quebrando grandes empresas estratégicas. Com esse material, ela pôde fazer o que quiser, prender, indiciar, ameaçar, quem ela achasse fosse conveniente para a agenda política do momento.
Por exemplo, é muito bom para o golpe que o governador Pezão esteja na lona, cassado, com pé na cadeia. Há uns anos, jamais passaria pela cabeça de Pezão privatizar a Cedae. Hoje, o que ele pode fazer? Se ele quisesse agradar a maioria da população e dos servidores, e fincasse o pé contra o crime de vender a estatal de água e esgoto do estado do Rio, uma das melhores e mais eficientes do país, a Lava Jato, com apoio da Globo, claro, trataria de tirá-lo do páreo, levando-o a passar uma temporada em Bangu III.
A missão de Alexandre de Moraes no STF não é evidentemente "acabar com a Lava Jato". Ele nunca seria tão ingrato à operação que levou Michel Temer, Jucá, Moreira Franco e Sarney, o PSDB, de volta ao núcleo duro do poder.
Moraes quer apenas dar-lhe o retoque final, que é tirar dos procuradores de Curitiba o constrangimento de indiciarem ou pedirem medidas mais violentas contra o PSDB.
Alguém poderia se perguntar: não é justamente isso que significa "acabar com a Lava Jato"?
A donzela sorri maliciosa, já um pouco cansada de seu papel de frágil, e talvez irritada com a quantidade de idiotas que ficam repetindo esse clichê sobre "acabar com a Lava Jato".
Ela sabe muito bem o que está acontecendo. É uma dobradinha. Alexandre de Moraes "controla" a Lava Jato no Supremo, e Sergio Moro "controla" em Curitiba. Centra-se fogo no PT, prende-se Lula e ponto final.
O jogo carreta uma série de tensões e riscos. Há muitos cordeiros gordos do próprio golpe que podem ser sacrificados, como foi Eduardo Cunha, como pode vir a ser Renan, e que poderiam botar a boca no trombone. É um risco calculado, porque alguns deles podem trazer ruídos à narrativa. Não se pode correr o risco de acordar as pessoas e fazê-las tomar consciência de que se tornaram combustível da Matrix: milhões de pessoas presas em casulos, como no filme, sonhando com o "fim da corrupção", enquanto o sistema usa a sua energia humana para transformar o país num cenário devastado, sem vida, sem esperança, sem alegria. Não! Isso não pode acontecer! As pessoas precisam continuar presas à Matrix.
Em caso de necessidade extrema, a Lava Jato pode até prender um Aécio. Ou soltar mais umas bombas contra Serra. Mas isso seria tão constrangedor! Felizmente, as últimas movimentações, em especial a nomeação de Moraes para o STF, já deixaram claro que o país caminha para um grande "acordão".
A docilidade quase servil de Moro diante do ex-presidente FHC, por ocasião de seu depoimento em defesa de Lula, mostra que o PSDB, de maneira geral, não corre mais grandes riscos na Lava Jato.
Ufa!
A mesma Lava Jato que se finge de donzela é, na verdade, uma moça muito esperta, que aprendeu a manipular um governo que, ela sabe e se orgulha disso, foi posto lá por ela mesma, por suas maquinações calculadas. Um vazamento aqui, outro ali, uma prisão aqui, uma manchete lá, tudo de acordo com uma agenda política muito bem pensada. A esquerda bota 200 mil pessoas na Paulista contra o golpe? A Lava Jato faz então uma prisão espetacular no dia seguinte bem cedinho, de preferência contra o PT, para que a imprensa seja "obrigada" a ignorar a manifestação e dar manchetes às últimas diatribes heroicas de Sergio Moro...
É muito útil deixar o governo apavorado. É a única maneira, sejamos francos!, de mantê-lo "na linha", ou seja, promovendo o saque do patrimônio público e o desmonte do Estado a uma velocidade recorde. Trata-se de um governo, afinal, puramente instrumental, que não tem interesse em se reeleger. Nizan Guanaes, publicitário paulista, resumiu o pensamento da elite golpista, durante encontro do presidente com empresários: "presidente, a popularidade é uma prisão! Aproveite que é impopular e faça as reformas certas".
É uma maneira de pensar interessante. Para que se importar com a opinião da população? A população não votou na candidata contra a qual Temer conspirou? Então, não confie na população, presidente! O povo que se dane! Confie apenas em nós, grandes empresários. Nós votamos no PSDB e sabemos o que é bom para o Brasil. Se os números do desemprego, do PIB, da educação, do desenvolvimento tecnológico, da infra-estrutura, não confirmam a nossa competência, isso não é problema nosso!
Enquanto isso, a Lava Jato olha-se no espelho, dá um sorriso de monalisa, e se prepara para fazer outra viagem à Nova York. Ela sabe que ninguém vai "acabar" com ela, porque ela já tomou conta de todo o judiciário. O juiz fluminense que condenou o almirante Oto, pioneiro da energia nuclear brasileira, a mais de 40 anos de prisão, não foi Sergio Moro. Foi um outro, um clone de Moro, um sujeito que antes, dizem, era até um juiz legal, democrático, mas que experimentou a mesma transformação alquímica que observamos em quase todos os ministros do Supremo. Não há juiz ou procurador, no Brasil do golpe, com coragem para enfrentar a avassaladora onda fascista que se instalou.
Num dos eventos contra o golpe, na Fundição Progresso, Rio, o diretor de teatro, Amir Haddad, comparou essa onda a um vírus poderoso, que vai contaminando as pessoas. De um dia para o outro, o sujeito começa se portar de maneira completamente diferente. Torna-se um violento, um reacionário, um instrumento da mídia. Um juiz humanista passa a distribuir condenações criminais de 40 anos, mesmo que o réu, como é o caso do almirante Oto, seja um octagenário.
O país vive um período profundamente convulsionado e autoritário, onde o poder de fato foi transferido para o judiciário e para a Globo. Isso causa uma instabilidade muito grande, porque – no que tange ao judiciário – instaura uma anarquia enorme, como vimos na tentativa de juízes de impedirem a posse de Moreira Franco. A morte trágica de Teori (oportuníssima, é importante sempre destacar) e a indicação de Moraes para o Supremo sinalizam uma reação do governo para trazer ordem à ditadura. Tudo bem o Brasil virar uma ditadura de juízes, mas então que seja uma ditadura com ordem e hierarquia!
Quem manda é o STF, que por sua vez obedece à Globo, que é um braço do imperialismo americano no Brasil.
Quando tudo isso ficar claro, então voltaremos ao equilíbrio, à ordem (embora sem progresso).
O maior desafio, naturalmente, será manter o povo no cabresto, através da repressão, do medo, da manipulação das notícias e dos processos judiciais.
A presença constante do exército nas ruas, o recrudescimento da repressão policial às manifestações populares, a postura "blasé" do governo capixaba diante do caos no estado, as capas das revistas semanais, que continuam mirando no PT, as condenações exageradas, de mais de 40 anos de prisão, contra Cabral e Eike, obviamente para lhes forçar a delatar Lula, Dilma, o PT, etc, tudo isso prova que o golpe vai muito bem, obrigado.
12 de Fevereiro de 2017 às 15:19 // 247 no Telegram // 247 no Youtube
O título é irônico porque eu acho muito biruta essa gritaria toda sobre "acabar com a Lava Jato".
A Lava Jato personalizou-se. Virou um indivíduo, com opiniões políticas, com mau humor. Frequentemente, ela se porta como uma donzela desamparada, sequestrada pelos vilões do Senado e do governo.
"Ah, querem acabar com a Lava Jato!"
Até mesmo os parlamentares de esquerda se comovem, esquecendo que a donzela, num momento anterior, era o próprio dragão servindo de guarda costas para o impeachment e, logo em seguida, para a demolição do Estado. Então se juntam ao coro dos macacos de auditório, também querendo tirar uma casquinha da aprovação da Lava Jato junto a este setor da sociedade que Hannah Arendt chamava, muito apropriadamente, de "ralé", e que a gente tem chamado aqui, mais modernamente, de zumbis midiáticos.
"Temer quer acabar com a Lava Jato!", gritam os parlamentares do PT, achando-se muito perspicazes.
A militância de esquerda, que também é muito esperta, diz que o golpe foi dado para "acabar com a Lava Jato".
A militância de direita, que vive uma fase bem malandra, sorri e se cala: ela jamais escondeu o seu desejo mais ardente, o de que a Lava Jato prenda Lula. O resto, não lhe interessa.
A tara para prender o Lula não significa apenas tirá-lo das eleições de 2018. Há um objetivo maior, mais velho que o mundo, de enterrar o sonho de liberdade e democracia que Lula representa.
Foi assim com Oliver Cromwell, o "rei do povo", que as elites britânicas odiavam tanto que mandaram desenterrar seu corpo, decapitá-lo e jogá-los aos abutres, de maneira a humilhar para sempre todos aqueles que ousaram acreditar nele.
Em seu depoimento a Sergio Moro, Eduardo Cunha acusou o presidente Michel Temer. Moro acorreu, furiosamente, em socorro do presidente. Escreveu um texto de mais de 100 páginas, onde não disfarça sua indignação com a tentativa de Cunha de fazer "insinuações" contra o presidente.
É comovente.
Sergio Moro também quer "acabar com a Lava Jato"?
Ora, é natural. Ele está cansado. Quer prender Lula de uma vez e ir morar nos Estados Unidos com sua esposa. Quem pode lhe condenar por isso? O Brasil está um caos! O próprio Moro admitiu, em palestra na Columbia (bancada por empresário brasileiro), que a Lava Jato produziu instabilidade, mas que, no futuro, ela ajudará o país a ficar mais competitivo. Ele não explicou como a destruição de indústrias e a medievalização dos processos penais podem tornar um país mais "competitivo".
O procurador Carlos Lima, um dos coordenadores da Lava Jato no MPF de Curitiba, disse que ficou aliviado com a opinião de Alexandre de Moraes, de defender a prisão em segunda instância, uma das mil e uma bizarrices jurídicas que o STF aprovou, para agradar a... Lava Jato.
A afirmação de Lima foi um aval da Lava Jato à nomeação de Alexandre de Moraes. Tudo bem, podem indicar Alexandre de Moraes para o STF.
O Conselho Nacional dos Procuradores Gerais (CNPG), uma das inúmeras maçonarias golpistas do MPF, divulgou nota, dois dias atrás, em que também apoia a indicação de Moraes para o STF.
A Associação de Magistrados do Brasil, que vem operando intensamente em prol do golpe, também soltou notinha de apoio a Moraes no STF.
Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (CONAMP), outra maçonaria, também quer Moraes como revisor da Lava Jato no Supremo.
Ou seja, todos aqueles que sustentaram a Lava Jato, incluindo aí procuradores da própria operação, apoiam Moraes no STF, mesmo sabendo que o ministro é um filiado ao PSDB, um escudeiro fiel do presidente Temer que vai para lá com a missão de... "acabar com a Lava Jato"?
Que confusão!
Isso prova uma teoria minha, que me parece um tanto óbvia: na verdade, quem quer "acabar com a Lava Jato" é a própria Lava Jato. Para subsidiar o golpe, ela teve que reunir um material enorme em suas mãos, quase tudo de forma truculenta, ilegal, espionando até mesmo advogados dos réus, torturando executivos, quebrando grandes empresas estratégicas. Com esse material, ela pôde fazer o que quiser, prender, indiciar, ameaçar, quem ela achasse fosse conveniente para a agenda política do momento.
Por exemplo, é muito bom para o golpe que o governador Pezão esteja na lona, cassado, com pé na cadeia. Há uns anos, jamais passaria pela cabeça de Pezão privatizar a Cedae. Hoje, o que ele pode fazer? Se ele quisesse agradar a maioria da população e dos servidores, e fincasse o pé contra o crime de vender a estatal de água e esgoto do estado do Rio, uma das melhores e mais eficientes do país, a Lava Jato, com apoio da Globo, claro, trataria de tirá-lo do páreo, levando-o a passar uma temporada em Bangu III.
A missão de Alexandre de Moraes no STF não é evidentemente "acabar com a Lava Jato". Ele nunca seria tão ingrato à operação que levou Michel Temer, Jucá, Moreira Franco e Sarney, o PSDB, de volta ao núcleo duro do poder.
Moraes quer apenas dar-lhe o retoque final, que é tirar dos procuradores de Curitiba o constrangimento de indiciarem ou pedirem medidas mais violentas contra o PSDB.
Alguém poderia se perguntar: não é justamente isso que significa "acabar com a Lava Jato"?
A donzela sorri maliciosa, já um pouco cansada de seu papel de frágil, e talvez irritada com a quantidade de idiotas que ficam repetindo esse clichê sobre "acabar com a Lava Jato".
Ela sabe muito bem o que está acontecendo. É uma dobradinha. Alexandre de Moraes "controla" a Lava Jato no Supremo, e Sergio Moro "controla" em Curitiba. Centra-se fogo no PT, prende-se Lula e ponto final.
O jogo carreta uma série de tensões e riscos. Há muitos cordeiros gordos do próprio golpe que podem ser sacrificados, como foi Eduardo Cunha, como pode vir a ser Renan, e que poderiam botar a boca no trombone. É um risco calculado, porque alguns deles podem trazer ruídos à narrativa. Não se pode correr o risco de acordar as pessoas e fazê-las tomar consciência de que se tornaram combustível da Matrix: milhões de pessoas presas em casulos, como no filme, sonhando com o "fim da corrupção", enquanto o sistema usa a sua energia humana para transformar o país num cenário devastado, sem vida, sem esperança, sem alegria. Não! Isso não pode acontecer! As pessoas precisam continuar presas à Matrix.
Em caso de necessidade extrema, a Lava Jato pode até prender um Aécio. Ou soltar mais umas bombas contra Serra. Mas isso seria tão constrangedor! Felizmente, as últimas movimentações, em especial a nomeação de Moraes para o STF, já deixaram claro que o país caminha para um grande "acordão".
A docilidade quase servil de Moro diante do ex-presidente FHC, por ocasião de seu depoimento em defesa de Lula, mostra que o PSDB, de maneira geral, não corre mais grandes riscos na Lava Jato.
Ufa!
A mesma Lava Jato que se finge de donzela é, na verdade, uma moça muito esperta, que aprendeu a manipular um governo que, ela sabe e se orgulha disso, foi posto lá por ela mesma, por suas maquinações calculadas. Um vazamento aqui, outro ali, uma prisão aqui, uma manchete lá, tudo de acordo com uma agenda política muito bem pensada. A esquerda bota 200 mil pessoas na Paulista contra o golpe? A Lava Jato faz então uma prisão espetacular no dia seguinte bem cedinho, de preferência contra o PT, para que a imprensa seja "obrigada" a ignorar a manifestação e dar manchetes às últimas diatribes heroicas de Sergio Moro...
É muito útil deixar o governo apavorado. É a única maneira, sejamos francos!, de mantê-lo "na linha", ou seja, promovendo o saque do patrimônio público e o desmonte do Estado a uma velocidade recorde. Trata-se de um governo, afinal, puramente instrumental, que não tem interesse em se reeleger. Nizan Guanaes, publicitário paulista, resumiu o pensamento da elite golpista, durante encontro do presidente com empresários: "presidente, a popularidade é uma prisão! Aproveite que é impopular e faça as reformas certas".
É uma maneira de pensar interessante. Para que se importar com a opinião da população? A população não votou na candidata contra a qual Temer conspirou? Então, não confie na população, presidente! O povo que se dane! Confie apenas em nós, grandes empresários. Nós votamos no PSDB e sabemos o que é bom para o Brasil. Se os números do desemprego, do PIB, da educação, do desenvolvimento tecnológico, da infra-estrutura, não confirmam a nossa competência, isso não é problema nosso!
Enquanto isso, a Lava Jato olha-se no espelho, dá um sorriso de monalisa, e se prepara para fazer outra viagem à Nova York. Ela sabe que ninguém vai "acabar" com ela, porque ela já tomou conta de todo o judiciário. O juiz fluminense que condenou o almirante Oto, pioneiro da energia nuclear brasileira, a mais de 40 anos de prisão, não foi Sergio Moro. Foi um outro, um clone de Moro, um sujeito que antes, dizem, era até um juiz legal, democrático, mas que experimentou a mesma transformação alquímica que observamos em quase todos os ministros do Supremo. Não há juiz ou procurador, no Brasil do golpe, com coragem para enfrentar a avassaladora onda fascista que se instalou.
Num dos eventos contra o golpe, na Fundição Progresso, Rio, o diretor de teatro, Amir Haddad, comparou essa onda a um vírus poderoso, que vai contaminando as pessoas. De um dia para o outro, o sujeito começa se portar de maneira completamente diferente. Torna-se um violento, um reacionário, um instrumento da mídia. Um juiz humanista passa a distribuir condenações criminais de 40 anos, mesmo que o réu, como é o caso do almirante Oto, seja um octagenário.
O país vive um período profundamente convulsionado e autoritário, onde o poder de fato foi transferido para o judiciário e para a Globo. Isso causa uma instabilidade muito grande, porque – no que tange ao judiciário – instaura uma anarquia enorme, como vimos na tentativa de juízes de impedirem a posse de Moreira Franco. A morte trágica de Teori (oportuníssima, é importante sempre destacar) e a indicação de Moraes para o Supremo sinalizam uma reação do governo para trazer ordem à ditadura. Tudo bem o Brasil virar uma ditadura de juízes, mas então que seja uma ditadura com ordem e hierarquia!
Quem manda é o STF, que por sua vez obedece à Globo, que é um braço do imperialismo americano no Brasil.
Quando tudo isso ficar claro, então voltaremos ao equilíbrio, à ordem (embora sem progresso).
O maior desafio, naturalmente, será manter o povo no cabresto, através da repressão, do medo, da manipulação das notícias e dos processos judiciais.
A presença constante do exército nas ruas, o recrudescimento da repressão policial às manifestações populares, a postura "blasé" do governo capixaba diante do caos no estado, as capas das revistas semanais, que continuam mirando no PT, as condenações exageradas, de mais de 40 anos de prisão, contra Cabral e Eike, obviamente para lhes forçar a delatar Lula, Dilma, o PT, etc, tudo isso prova que o golpe vai muito bem, obrigado.
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