A revelação de que o maior empreiteiro do País, Marcelo Odebrecht, acertou um repasse de R$ 50 milhões, parcialmente pago em Cingapura, com o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), como contrapartida por investimentos da Cemig e de Furnas numa usina do rio Madeira, noticiada na Folha de S.Paulo deste domingo, ainda que de forma discreta, não mereceu uma linha sequer do Globo, do Estado de S. Paulo ou do Valor Econômico; das duas, uma: ou os editores dos jornalões não leem a Folha, ou os barões da mídia fecharam um acordo para, mais uma vez, blindar o político tucano, que é alvo do maior número de pedidos de inquéritos da "lista de Janot"; em suas redes sociais, Aécio também não se manifestou
O que aconteceria, em qualquer lugar do mundo, se um jornal noticiasse que a maior empreiteira do País acertou o pagamento de uma propina de nada menos que R$ 50 milhões ao presidente de um partido político? Os concorrentes que levaram o furo de reportagem ou correriam atrás do prejuízo ou, no mínimo, repercutiriam a história.
No Brasil, no entanto, não é assim que operam os jornais. No domingo, a Folha de S. Paulo noticiou que Marcelo Odebrecht delatou um repasse de R$ 50 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), como contrapartida pela entrada da Cemig e de Furnas numa usina do rio Madeira (leia mais aqui). No entanto, como essa notícia contradiz o roteiro inicial da Lava Jato, que aponta o ex-presidente Lula como o grande culpado por todos os males do País, a própria Folha escondeu o tema em sua primeira página e nenhum dos jornalões achou que deveria repercutir o caso.
Tal conduta tem sido rotineira. Foi assim com os R$ 23 milhões de José Serra na Suíça, os R$ 500 mil de Aloysio Nunes entregues em hotéis paulistas, os R$ 11 milhões acertados no Palácio do Jaburu num jantar com Michel Temer e os R$ 4 milhões entregues a Eliseu Padilha, que continua ministro, com a missão de limitar ao extremo as aposentadorias dos brasileiros.
Como os principais jornais do País são sócios do golpe parlamentar de 2016, que teve Aécio Neves como um de seus grandes incentivadores e protagonistas, a ordem parece ser a lei do silêncio. Ao menos, enquanto isso for inevitável. Mas como Aécio é também o político com maior número de pedidos de inquéritos da "lista de Janot", é possível que ele volte a aparecer, pontualmente, no noticiário. Afinal, que importância têm R$ 50 milhões?
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