“Irresponsável”. Vinda do presidente da Sociedade Rural Brasileira, esta foi a condenação mais forte à espetaculosa Operação que, ao generalizar acusações sobre adulterações cometidas por algus frigoríficos, levou os principais importadores da carne brasileira a suspender compras e até a embargar conteiners já desembarcados, como fez a China. Não partiu do governo, que está tentando apagar o incêndio mas não ousa dizer o que precisa ser dito: a Polícia Federal, com seu hábito de generalizar, espetacularizar e buscar sempre os holofotes da mídia, atentou contra o interesse nacional. Já sabemos, por exemplo, que a PF falou em adição de papelão a embutidos, quando na verdade o que se discutia, na conversa grampeada, era formatos de embalagem. Já sabemos que o uso de ácido ascórbico em carnes conservadas, como linguiças e salsichas, é normal, dentro de doses corretas. Tal como foi dito, pareceu uma trapaça dos frigoríficos. E nem se trata de produto cancerígeno. Em excesso, o ácido ascórbico pode prejudicar os rins, mas não é carcinogênico. Em nenhum país do mundo, as irregularidades apuradas ou investigadas teriam sido lançadas ao vento miditático sem a presença de técnicos do Ministério da Agricultura, que teriam posto pingos nos is e feito avaliações técnicas preliminares. Da forma como foi feito, quem olhou de fora viu um país ateando fogo às vestes.
Só com a queda de ações dos principais frigoríficos o prejuizo já foi de mai de R$ 7 bilhões. Se houver embargo às exportações brasileiras, “vai ser um desastre”, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. O desastre, se vier, afetará a balança de pagamentos, o nível de divisas e o de emprego. Milhares de empregos serão perdidos se houver uma quebradeira no setor, o exemplo das milhares de vagas já fechadas pelas construtoras atingidas pela Lava Jato. Um trabalho de muitos anos foi jogado fora e terá que ser refeito, com muito esforço, pelos produtores, o Ministério da Agricultura e o Itamaraty.
Deve haver um jeito de combater a corrupção sem desestruturar setores estratégicos da economia. Por outro lado, nunca se viu a PF fazer uma operação em setores controlados pelo capital estrangeiro, e que atuam sob fiscalização frouxa. Por exemplo, que tal fiscalizar as mineradoras estrangeiras que atuam nos garimpos de ouro e diamante? Ninguém sabe ao certo quanto retiram do subsolo brasileiro, e pagam os pagam os impostos segundo o que declaram ter extraído.
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