"Paulo Nogueira ajudou a elevar o padrão de qualidade do jornalismo da internet brasileira", afirma Paulo Moreira Leite, articulista do 247; colega de redação de Paulo Nogueira na redação de Veja, no final da década de 1970, PML fala de uma geração chamada a fazer jornalismo em redações que espelhavam a ditadura "nos métodos autoritários, preferências personalistas e vaidades exacerbadas. Lutava-se por cargos e dinheiro. Muito raramente, muito sutilmente, quase nunca, por ideias. Sempre, para agradar ao patrão"; lembrando que Paulo Nogueira era um profissional "maduro e bem sucedido" quando criou o Diário do Centro do Mundo, PML observa que "em vez de seguir a rota convencional de se transformar em consultor ou marqueteiro improvisado, ele preferiu a luta na internet e criou a oportunidade de fazer História"
Conheci Paulo Nogueira, fundador do Diário do Centro do Mundo, veículo que tem um papel fundamental na resistência democrática em nossa época, quando nós dois trabalhávamos na redação da VEJA, no final dos anos 1970. Estávamos separados por uma baia, entre a editoria de Economia, onde ele trabalhava, e de Brasil, onde eu escrevia. Tivemos vidas profissionais paralelas e diferentes nos anos seguintes. Voltamos a nos encontrar em 2009, quando, na Editora Globo, ele me convidou para dirigir a sucursal de Brasília da revista Época.
Essa proximidade, que nunca chegou a intimidade, me permite escrever sobre Paulo Nogueira com certo distanciamento. A partir da década de 1980-1990, ele ocupou postos de direção no grupo grupo Abril, onde ajudou a criar e consolidar publicações importantes daquela que já foi a maior editora abaixo do Rio Grande.
Nós dois fomos formados no mundo de acomodação, sem liberdade e sem pluralismo nascido no Brasil após o golpe de 64, situação que espelhava um país sem democracia, sem conflito de ideias, com métodos autoritários, preferencias personalistas e vaidades exacerbadas. Lutava-se por cargos e dinheiro. Muito raramente, muito sutilmente, quase nunca, por ideias. Sempre, para agradar ao patrão.
O máximo que se pretendia era produzir revistas tecnicamente bem feitas, que permitissem faturamentos gigantescos, que encheram o bolso de acionistas e executivos, mas que tiveram um papel descartável e até nulo para o desenvolvimento da cultura do país e a formação da cidadania.
Títulos tradicionais e relevantes, de espírito combativo, como a Última Hora, o Correio da Manhã, foram massacrados até perder toda chance de sobrevivência econômica. Publicações mais frágeis, por isso chamadas alternativas -- como Movimento, Versus, Ex, Opinião, Pasquim -- eram combatidas desde o nascedouro, com métodos complementares de perseguição, onde a permanente censura prévia combinava-se com ações de sufoco produzidas pela Receita Federal. Nos anos mais duros, eram alvo de atentados a bomba em bancas de jornal.
Paulo Nogueira deve lembrado e festejado pelo Diário do Centro do Mundo, referência do jornalismo brasileiro deste século. Numa situação erradamente apontada por antigos com colegas como etapa decadente da vida profissional, viveu ali seu melhor momento. Mostrou o que o bom jornalismo pode fazer.
Colocou o conhecimento e a técnica adquiridos nos anos anteriores a serviço das causas inadiáveis no Brasil de nossa época, como o combate a desigualdade, a luta pelo desenvolvimento e a consolidação de um regime de liberdades publicas. Unia a formação de mestre com conhecimento profundo do ofício com a coragem desassombrada do jovem repórter que não se acovarda diante do impacto corrosivo de uma notícia. Sua presença a frente do DCM ajudou a elevar o padrão de qualidade do jornalismo que se faz na internet brasileira -- seja pelo cuidado com a informação, a clareza na edição e as preocupações com a forma, seja como texto, seja como design.
Maduro e bem sucedido, Paulo Nogueira poderia ter seguido a rota convencional da maioria de profissionais em sua condição, ora como consultor, ora como marqueteiro improvisado. Também poderia ter aproveitado para descansar. Preferiu a luta na internet e criou a própria oportunidade de fazer História.
Numa trajetória exemplar de uma geração crescida sob uma ditadura, fez bom uso da conquista da liberdade.
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