9.24.2018

Ao PSDB, só resta se curvar à democracia





Talvez muita gente não saiba, mas em 1978, na sua primeira disputa por um mandato eletivo, o já consagrado sociólogo e então candidato a senador pelo MDB Fernando Henrique Cardoso recebeu o apoio de Luiz Inácio da Silva, já naquela época o principal líder sindical do País.
"Preferi remar contra a maré e apoiar o homem que eu achava ser o melhor dos candidatos", justificou o sindicalista, que veio a acrescentar Lula no nome original quatro anos depois. FHC recebeu apoio de vários outros líderes da esquerda, numa conformação de forças contra a ditadura militar, e conseguiu ser eleito para o Senado.
11 anos depois, em 11 de dezembro de 1989, o então líder do PSDB no Senado e principal interlocutor do partido, Fernando Henrique Cardoso, subiu no palanque de Lula contra Fernando Collor de Mello no segundo turno das eleições presidenciais. O comício na praça Charles Miller, no Pacaembu, em São Paulo, contou também com a presença do senador tucano Mario Covas e do governador de Pernambuco, Miguel Arraes.
PSDB estava claramente dividido, apoiou Lula apontando as divergências programáticas. FHC também não escondia seu ressentimento pelo fato de Lula e o PT não terem o apoiado nas eleições para a prefeitura de São Paulo em 1985, quando FHC perdeu para Jânio Quadros depois de ter sentado na cadeira de prefeito antes do pleito. Há quem diga que o apoio de FHC a Lula foi proforma, ajudando Lula a perder para Collor.
De lá para cá, como sabemos, FHC ganhou de Lula duas vezes, em 1994 e 1998, e o PSDB perdeu quatros vezes para o PT, com duas para Lula, em 2002 e 2006, e duas para Dilma Rousseff, em 2010 e 2014.
Como também sabemos, o PSDB, sob o comando intelectual de FHC, liderou um golpe parlamentar que retirou Dilma do poder sem comprovação de crime de responsabilidade, e tutelou ideologicamente o governo de Michel Temer para todo tipo de atrocidade contra o País, com retirada de direitos, entrega do pré-sal, explosão do desemprego e a mais severa crise econômica da história. Além disso, com apoio da mídia e de parte do Judiciário, atuaram para condenar e prender Lula, o maior presidente popular do País, que desde abril recebe os maiores intelectuais e líderes internacionais em sua cela na Polícia Federal em Curitiba.
FHC e os tucanos também flertaram com o fascismo, que saiu do controle do partido e resultou no fortalecimento de Jair Bolsonaro e seus asseclas que espumam ódio à democracia, defendem a tortura e o assassinato de oponentes políticos, além do completo despreparo para conduzir os rumos do País.
Para surpresa geral de FHC, o golpe deu tudo errado. O senador Aécio Neves foi carbonizado pela história, sendo hoje candidato a deputado federal, fracassaram todas as tentativas do establishment de criar um candidato outsider (Luciano Huck, Joaquim Barbosa), e o nome do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, protagoniza o maior vexame eleitoral da história tucana. Em seu próprio reduto, São Paulo, Alckmin não é competitivo e o seu candidato a governador, João Doria, o ex-prefake, enfrenta um sério risco de perder para Paulo Skaf.
Sob este cenário de terra arrasada para o PSDB, e com ameaça do fascismo assustando cada vez mais os avanços civilizatórios conquistados pelo Brasil, Fernando Henrique Cardoso envia sinais, ainda contraditórios, de que a única saída para o partido que ajudou a fundar e que tinha como programa a luta contra a ditadura e os valores da Social Democracia, é se ajoelhar novamente perante a Democracia e lutar de novo contra a ditadura, representada por Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão.
A única saída disponível na história para FHC e o PSDB é repetir 1989 e declarar novamente apoio a Lula, que, violentamente impedido de disputar, está representado por Fernando Haddad. Não há outra porta para a redenção tucana que não a defesa da democracia.

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