9.24.2018

Alvos de fake news, policiais que escoltaram Bolsonaro foram ameaçados

As notícias falsas contaram com a ajuda de autoridades ligadas ao próprio candidato para se disseminarem com rapidez

Alvos de fake news, policiais que escoltaram Bolsonaro foram ameaçados


Jair Bolsonaro acabara de ser internado quando se espalharam 
pelas redes sociais vídeos e fotos apontando pessoas como 
possíveis cúmplices de Adelio Bispo de Oliveira, autor da 
facada no abdômen do candidato à Presidência pelo PSL,
 no último dia 6, em Juiz de Fora (MG).
Uma junção de duas imagens apontava que um homem de
 barba, vestido de preto e com óculos escuros próximo 
de Bolsonaro na hora do atentado era o mesmo que posava
 para um retrato do lado da candidata à vice-presidente na
 chapa petista, Manuela D'Ávila (PC do B). Um indício, 
segundo a postagem, de que aquele era um criminoso
 infiltrado pelos partidos adversários na 
sucessão presidencial.
Outra fotografia indicava um homem com o punho 
fechado tocando o candidato ferido. A legenda incriminadora
 dizia que essa pessoa havia dado um soco quase no local 
da facada.
Nos dois casos os homens que aparecem nas imagens
 são agentes da Polícia Federal que participavam da 
escolta e que prestavam socorro ao candidato ferido. 
A reportagem apurou que eles receberam ameaças de eleitores
 de Bolsonaro. A família de um deles, moradora de uma cidade 
do interior, também foi alvo de intimidação.
As notícias falsas contaram com a ajuda de 
autoridades ligadas ao candidato para se disseminarem 
com rapidez. O senador Magno Malta (PR-ES) ampliou
 a tese enganadora numa entrevista em frente ao hospital
 onde Bolsonaro estava internado, no sábado (8).
"Um cidadão de camisa marrom dá um soco nele por 
baixo e põe a outra mão em cima do lugar furado",
 diz Malta. "Um sujeito, na hora de colocá-lo no carro,
 vocês podem ver as imagens, ele fecha a mão e soca na
 última costela. A gente que é da luta sabe. A mão chega
 e entra batendo e em seguida ele abre a mão, estica 
e vai lá no local e você vê a hora que o Bolsonaro 
faz assim [se contrai] e sente uma dor diferente na hora 
de entrar no carro."
Malta ainda diz que aquele homem é tratado como 
suspeito pela Polícia Federal. "Todo mundo 
[da PF tem as imagens do homem de camiseta marrom]. 
A investigação está sendo bem feita pela PF e certamente 
o Brasil vai se surpreender com tanta canalhice, tanta sandice", 
diz o senador.
Coube ao deputado Eduardo (PSL-SP), filho de Bolsonaro 
e também policial federal, eliminar as suspeitas. 
Ele publicou em sua rede social que o homem da foto era da
 PF e que não foi um soco. "Sua mão estava mole, ele estava
 direcionando o corpo de JB (Jair Bolsonaro) para entrar no carro.
 A mão está fechada, mas na hora foi desse jeito mesmo, 
sem querer mesmo, podem acreditar. Fiquem tranquilos", escreveu.
Abalados com a repercussão, os sete policiais da escolta
 fixa da campanha de Jair Bolsonaro viajaram para 
Brasília em busca do apoio da Fenapef (Federação Nacional
 dos Policiais Federais), entidade que representa a categoria. 
Na terça-feira, por intermédio da federação, eles foram
 recebidos pela diretora executiva da Polícia Federal, 
Silvana Helena Borges. No dia seguinte, houve um encontro 
com um psicólogo, que avaliou o impacto dos acontecimentos 
nos policiais.
Procurado pela Folha, Magno Malta disse que não errou ao 
ter dado entrevistas apontando o dedo para um dos agentes.
"Eu realmente busquei informação, chamei a atenção, 
até que se apurou aquilo tudo. Você não pode esquecer
 que quem matou Indira Gandhi foi um segurança. 
Você tem que desconfiar. Achei que fosse um cidadão 
comum, depois me disseram que era um agente da PF. 
Mas eu disse que mesmo assim tinha que checar, 
e me lembrei desses grandes estadistas, atingidos por
 gente que estava nas costas deles: Indira Gandhi, Yitzhak Rabin",
 disse Malta.
O senador se dispôs a visitar o agente da PF que passou
 a ser ameaçado após a repercussão nas redes sociais.
"Não cometi nenhum erro, não quis prejudicá-lo, fui atrás 
do fato para descobrir se era verdade ou não. Não sabia 
do que você está me falando. Se tiver necessidade, 
gravo um vídeo, vou visitá-lo", completou.
 Com informações da Folhapress.

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