9.27.2018

O gigante brasileiro pode se acordar como um monstro fascista-nazista?


Gustavo Lima - Ag. Câmara


Eu não posso acreditar que um país alegre, cantado em versos e prosas de amor, que transbordava de gentileza, hoje tenha enveredado pelo caminho do ódio, do racismo e de rejeição aos valores da democracia. Seria inacreditável que o país mais miscigenado do mundo possa negar suas origens índio africano-europeia. Inimaginável de pensar que grande parte da população brasileira possa ser atraída a votar em uma pessoa com um discurso que suscita ódio e com uma ideologia que prega a supremacia da raça branca, defende a tortura e a morte de seus supostos inimigos. Além de escolher como vice-presidente um militar general de reserva, que comunga de suas ideias. Este senhor que é um mestiço culpa a população indígena e negra de todos os males, considerando-os como os parias da nação. Além de fustigar que os filhos criados por mãe e avó são fábricas de desajustados que fornecem mão de obra ao narcotráfico.  Critica as relações sul/sul dos governos Lula e os compara de “mulambadas” ao se referir ao continente africano, ou seja, como se suas populações fossem sub-raças.
O fascismo e o nazismo devem ser combatidos desde que se vê as sementes, não apenas quando está em frente à porta da casa. Os discursos do candidato a Presidência e seu Vice-Presidente são uma mistura de fascismo e nazismo extremamente perigosa. O candidato à Presidência não esconde sua postura autoritária, incita sem complexo a morte e defendem a violência, é racista, machista e tem homofobia declarada. Ele não tem complexo sobre sua ignorância e desconhecimento sobre diferentes temas necessários para assumir a governabilidade do país, entretanto, o candidato se sente seguro pelo suposto apoio de seus assessores. O Hitler segundo os historiadores franceses Chapoutot et Christian Ingrao era um tipo diletante e preguiçoso e não suportava o esforço intelectual demorado, entretanto, ele soube se cercar de intelectuais doutrinadores.
Em um país hoje assolado pela crise econômica, social, política e jurídica, o terreno é mais que fértil para o retorno dessas ideologias que foram tão nefastas para a Europa. No primeiro discurso de Mussolini na câmara dos deputados ele dizia: “O Estado deve nos dar uma força policial, que salvará os senhores dos canalhas, um sistema judicial bem organizado, um exército pronto para todas as eventualidades, uma política externa em sintonia com as necessidades nacionais”. E Hitler se referia assim à juventude alemã: "Vamos fazer surgir uma nova juventude. Um jovem cruel, intrépido, ele vai suportar a dor, eu não quero nada fraco ou mole nele, vou tê-lo treinado para todos os exercícios físicos, eu não quero qualquer educação intelectual, o conhecimento só corromperia meus jovens, e a única ciência que exigirei desses jovens é auto domínio, eles aprenderão a domar o medo". (De acordo com Hitler, declarações coletadas por Hermann Rauschning em 1933 e 1934, em Hitler me disse, Somogy ed., 1945).
Neste mundo atual onde as leituras são feitas rápidas e sem muitas análises, seria ideal lerem os discursos e falas do candidato da extrema direita encontrarão similitudes.  Há alguns meses atrás eu li a entrevista no jornal Suiço, Le Temps com o historiador francês Johann Chapoutot sobre seu Livro A Lei do Sangue que é uma radioscopia magistral da cultura nazista de Hitler. Ele mostra como os acadêmicos, médicos, cientistas, juristas abraçaram o nazismo de corpo e alma. Alguns podem ter se sentido manipulados. Entretanto, a maioria compartilhou de boa-fé uma visão biológica, nacionalista e racista do mundo. Ele reafirma que os nazistas não eram apenas um bando de loucos ou bárbaros, ao contrário do que podemos acreditar.
A verdade sobre que foi a natureza do nazismo, a essência desumana de sua ideologia, o comportamento de seus seguidores, deve servir de exemplos para lutar contra a sua banalização.
Os meios de comunicação desempenham um grande papel junto à opinião pública, eles podem ser vetores contra o nazismo ou combatê-lo. No Brasil infelizmente, a extrema direita não teria hoje esta projeção sem o apoio da grande mídia conservadora brasileira, de grande parte do judiciário e de partidos políticos da direita conservadora. Conjuntamente estas forças se organizaram para confiscar a democracia em nome da luta contra a corrupção. As operações da lava jato foram realizadas de olho no impacto das pesquisas de opinião, onde o ódio coletivo era destilado em uma caçada implacável ao Lula e o PT.  A guerra contra a corrupção pautada na grande mídia e conectada com a direita neoliberal foi organizada dentro de uma estratégia política que tinha como alvo o Partido dos Trabalhadores e sua figura emblemática: Lula.
Todos nós sabemos que a corrupção é um vício social, político, institucional que contamina as relações humanas, ela deve ser considerada como um dos males mais devastadores da sociedade. Daí ela deve ser tratada em suas raízes e não instilando o ódio para que o poder político seja assimilado pelo povo como sinônimo de corrupção. Nada mais profícuo ao combate da corrupção que a educação de seu povo. Não se pode ter uma percepção da ética, da moral, do respeito às instituições republicanas sem a educação e sem consolidação do Estado democrático do direito. Não será dentro de um estado de exceção que a sociedade vai se preparar ao exercício da cidadania e poder participar no controle social, na cobrança pela transparência da gestão pública e exigir o fim da impunidade.
Repentinamente, os piores corruptos e corruptores do Brasil se tornaram moralistas, muitos se tornaram delatores e apontavam seus dedos para o único responsável por toda a perversidade da corrupção brasileira: “O Lula era o chefe de quadrilha que assaltou a nação brasileira”. A Globo durante anos vai envenenar o ambiente político, onde a mentira em torno de Lula e sua família circulava como uma verdade absoluta e buscava atingir o consciente dos telespectadores para desfazer a imagem positiva dos governos de Lula em prol do bem-estar do povo brasileiro.
A Globo foi a melhor aliada de Moro na sua perseguição ao Lula. Ela tenta dar a impressão de ser a baluarte da luta moral e emancipadora para o Brasil.  Ela tinha a missão de acabar também com a imagem de igualdade, a luta contra a pobreza que o PT representava no imaginário popular. O resultado desta histeria “punitivista” e de falsa moralidade, vai abrir um caminho para um clima de confrontação e ódio e uma escalada de violência que se degenera no Brasil. Ao atacar somente um partido político e seu líder maior, um espaço foi criado para os falsos paladinos da moralidade.  Aquele moralista que se diz seguir o caminho da verdade e defende os valores como a família, a religião, a disciplina, a autoridade e a ética. A rede Globo e a imprensa conservadora são indiretamente responsáveis pela ascensão da extrema direita no Brasil, tendo em vista, que levaram o país para um clima de confrontação e ódio. Além de terem colaborado com os golpes que fragilizaram a democracia e a economia brasileira, elevando o nível da mediocridade política, da insegurança econômica e banalizaram o sofrimento social da população que converteu o Brasil em campo fértil para um novo tipo de fascismo/nazismo, onde predomina a perda de referências históricas e perspectivas de futuro. 
Perante esta situação, a necessidade de construir uma resposta antifascista a esta ameaça coloca-se concretamente e urgentemente. A resposta está em cada um dos brasileiros dispostos a evitar que a barbaridade nazista e fascista venha a se apropriar da nação brasileira. Os brasileiros não precisam de armas, basta apenas um clic no 13, de Haddad e Manuela, e confirmar.

Por: Marilza De Melo Foucher
Economista e jornalista. Colabora com o Brasil 247 e outros jornais no Brasil, é colaboradora e blogueira do Mediapart em Paris

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