4.07.2008

Cistite: mal das mulheres

Ardor para urinar, urgência para ir ao banheiro e dores no baixo ventre. Só quem já teve infecção urinária, ou cistite, sabe o quanto é incômodo. Estima-se que uma em cada quatro mulheres vai passar por esse sufoco ao longo da vida, sendo que, para algumas, o problema é freqüente - a chamada cistite de repetição.

Infecções ginecológicas, alterações no tecido que reveste a uretra, hábitos incorretos de higiene, uso de agentes espermicidas e de pílulas anticoncepcionais são alguns fatores que favorecem as infecções urinárias. Em alguns casos, é preciso realizar exames mais detalhados para detectar possíveis disfunções no esvaziamento da bexiga. Mulheres grávidas ou na pós-menopausa também estão mais predispostas, uma vez que as alterações hormonais afetam a fisiologia ou o sistema de defesa do organismo.

Em entrevista ao UOL Ciência e Saúde, o urologista Ricardo Felts de La Roca, assistente estrangeiro da Faculdade de Medicina de Paris - Hospital de la Pitié-Salpetrière explica a importância de se buscar tratamento adequado para esse problema, capaz de comprometer a qualidade de vida das mulheres.



Por que o sexo feminino é mais suscetível às infecções urinárias?

Há vários fatores envolvidos. Quando criança, a forma errada de limpar a região anal após as evacuações pode facilitar a entrada de bactérias da região perianal na uretra. Por outro lado, anomalias congênitas do trato urinário podem predispor às infecções urinarias de repetição.

Na fase adulta, a atividade sexual, as infecções ginecológicas, o mau hábito de se limpar após as evacuações, limpando-se de trás para frente e o uso de agentes espermicidas ou pílulas também favorecem as infecções. O maior complicador, para as mulheres, é o tamanho da uretra. Há outras causas, como cálculos renais, tuberculose urinária e alterações no esvaziamento da bexiga. Na fase pós-menopausa, a queda hormonal e a flacidez da musculatura pélvica acarretada por partos sucessivos fazem as mulheres serem mais acometidas pelo problema.



Quais as bactérias responsáveis pelas infecções?

As bactérias mais comumente encontradas nas infecções urinárias pertencem a um grupo chamado de gram-negativos, que constituem parte da nossa flora intestinal normal. A virulência dependerá da quantidade de bactérias em atividade e da resistência do hospedeiro. As mais freqüentes são Escherichia Coli, Enterococos e Klebsiella, entre outras. Poderemos encontrar mais raramente infecções causadas por bactérias gram-positivas (o nome gram diz respeito à coloração especial para identificação nos meios de cultura).



Sintomas como ardência ao urinar podem ser sinal de outra doença que não a cistite?

Ardência ao urinar, aumento no número das micções e sangue na urina são sinais muito claros da cistite. Mas tumores da bexiga, cálculos ureterais, cistites bacterianas e inflamações da parede da bexiga por endometriose podem apresentar os mesmos sintomas.



Qual o risco de não tratar a infecção devidamente?

Dificilmente uma pessoa não procura ajuda médica nesta situação, sendo o diagnóstico fácil e o tratamento eficaz e rápido. Se não tratada, a infecção pode ascender aos rins, causando a pielonefrite, problema bem mais grave. Não tratar devidamente também pode gerar uma diminuição da defesa natural da bexiga, gerando um quadro de cistite crônica.



O uso sucessivo de antibióticos para tratar a cistite de repetição pode levar à resistência bacteriana?

Comumente, as infecções de repetição são causadas pela mesma bactéria, mas de família diferente. Essa pluralidade de microrganismos e o fato de muitas pessoas tomarem antibióticos sem orientação pode gerar infecções por agentes resistentes aos antibióticos normalmente prescritos. Nessa situação, temos que lançar mão de antibióticos de segunda ou terceira geração, cuja via de administração é intramuscular ou endovenosa, com custo incomparavelmente maior.



Como prevenir a cistite de repetição?

A única forma de prevenção é o aconselhamento médico, preferencialmente com um urologista, pois a repetição é um sinal que algo está errado no sistema de defesa desta paciente. Encontrar a causa e tratar é o caminho mais curto. O hábito salutar de ingerir de 2 a 3 litros de líquidos por dia, a correta higiene após as defecações, o controle periódico ginecológico para erradicar infecções vaginais são medidas fáceis de seguir e universais. Mas como cada caso é um caso, só o especialista poderá recomendar o melhor esquema preventivo para cada paciente, pois existem inúmeras situações que podem propiciar as infecções.



É verdade que o extrato de cranberry pode ajudar a prevenir cistites?

O extrato de cranberry tem o poder de modificar o ph urinário e isso pode acidificar a urina, o que é útil. Sua principal indicação não é contra a cistite, mas contra cálculos renais. Mas o uso sem orientação médica pode ser um desastre, caso as infecções de repetição sejam fruto de alguma doença mais grave.


Fonte: UOL CIÊNCIA E SAÚDE
Site Médico

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