Emagrecer com remédios
Pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil se mantém no topo da lista dos países que mais consomem anorexígenos, as drogas que reduzem o apetite. O relatório é divulgado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), órgão das Nações Unidas. Em segundo lugar está a Argentina, seguida da Coréia, Estados Unidos, Cingapura e Hong Kong.
As drogas citadas no relatório inibem o apetite ou a sensação de fome e constam de uma lista preparada durante a Convenção Internacional de Psicotrópicos de 1971. “Dessa lista, as drogas utilizadas no Brasil e que respondem pelo indesejável ranking brasileiro são o Femproporex, a Anfepramona e o Mazindol, drogas que somente devem ser receitadas por médicos prescritores que tenham estudado cuidadosamente os riscos e benefícios das mesmas”, defende a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
Os anorexígenos são as drogas mais antigas para o tratamento da obesidade. São derivadas de compostos químicos chamados de anfetaminas que tem um grande potencial para causar dependência química. “A tendência é que elas sejam progressivamente abolidas do nosso receituário com o surgimento de compostos menos agressivos e mais potentes. Foram muito importantes até 10 anos atrás, quando não contávamos com nenhum outro tipo de medicamento para esse fim”, diz a endocrinologista.
Os efeitos das anfetaminas afetam o cérebro. Elas agem nos neurônios responsáveis pela fome, bloqueando-os. “Os anorexígenos têm a seu favor o poder no controle da fome, o que muitas vezes inviabiliza o seguimento de uma dieta. Contrário a eles, existe o fato de poderem causar grande excitabilidade do sistema nervoso, levando a comportamentos compulsivos e intolerantes. Estas drogas também interferem no sono e quando em uso prolongado podem causar dependência química”, explica a médica.
Até alguns meses atrás, os anorexígenos podiam ser usados em associação com ansiolíticos e antidepressivos, tornando ainda mais questionável a associação terapêutica que excita e deprime ao mesmo tempo.
Segundo a médica, provavelmente, as causa para o grande consumo deste tipo de medicamento são variadas. Vão desde a insistência do paciente para perder peso até a própria displicência do médico que cede ao apelo para ajudá-lo ou até mesmo para não perdê-lo.
O consumo de anorexígenos no Brasil também é alavancado pela volumosa produção doméstica. Em 2005, segundo o relatório da JIFE, 98,6% do Femproporex e 89,5% da Anfepramona usados no mundo foram produzidos no Brasil, sendo que a maior parte desta produção foi consumida em território nacional.
Várias ações foram implementadas pela Anvisa, incluindo a proibição das associações medicamentosas que produziam fórmulas milagrosas com a associação de anorexígenos, ansiolíticos, antidepressivos, diuréticos, hormônios tireoideanos e fitoterápicos. Além disso, o órgão também firmou convênio com a Polícia Federal para localizar e tirar do ar os sites brasileiros que vendem anorexígenos de maneira ilegal. O objetivo é reverter esse resultado quando um novo relatório for emitido, em 2009.
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