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A decisão da Justiça prevê que o pai receba o salário garantido pelo INSS enquanto estiver em casa cuidan
"Eu vou persistir". Essa é a
frase que acompanha o professor de enfermagem Marcos Antonio Mendonça
Melo, 36, há seis meses, desde que ele descobriu que sua ex-namorada
não queria ter o filho dos dois.
Ele buscou na Justiça o direito de
receber licença-paternidade para cuidar sozinho da criança. A decisão
do juiz Rafael Margalho prevê, de forma inédita, que o pai se afaste
por quatro meses e receba o salário, garantido pelo INSS.
Conheci a mãe do meu filho por meio de
um amigo. Não chegamos a ter um relacionamento sério, saímos algumas
vezes durante um ano. Em fevereiro, grávida de quatro meses, ela me
disse que não nasceu para ser mãe. A partir daí, não tive dúvida de
qual seria o meu papel.
Como ela também morava sozinha em
Campinas e não queria contar para ninguém que estava grávida,
combinamos com meus pais e ela ficou com eles em Presidente Venceslau
(SP). Eu não falei que já tínhamos decidido que eu iria cuidar sozinho
do meu filho porque não queria que rejeitassem ela em casa.
Passei quatro dias com eles e depois
voltei para Campinas, porque precisava trabalhar. Só retornei quando o
Nicholas ia nascer. Eu já tinha montado todo o enxoval e arrumado a
bolsa para levar à maternidade.
Quando o bebê nasceu, fiquei muito
emocionado. Ter um filho era um sonho que eu tinha desde os 23 anos, e
que eu achava que não se realizaria mais. Vi ele e pensei: "Agora é de
verdade". Pedi uma toalha para dar o primeiro banho nele e me
perguntaram: "Mas você consegue?".
A mãe dele não queria amamentar e eu
pedi para que esquentassem o leite que comprei, mas recusaram. No
segundo dia, deixaram dar a mamadeira porque insisti muito. Fiz isso
escondido outras vezes, para ninguém reclamar.
Passamos uma semana na casa dos meus
pais. Eu sempre tive o sono pesado e fiquei com medo de que o Nicholas
chorasse à noite e eu não acordasse. Pedi para minha mãe me acordar
caso eu não levantasse. Mas bastou o primeiro movimento dele e eu
despertei. Nesse momento, pensei: estou apto.
Antes de ir embora, expliquei a situação
à minha mãe. A princípio, ela estranhou. Sei que ela esperava uma
família mais tradicional, mas pedi que respeitasse nossa decisão.
Quando voltamos para Campinas, assinamos
a guarda amigável e eu abri mão da pensão. O conciliador achou a
situação inédita. Após sair do fórum, deixei a mãe do meu filho em
casa. Ela disse "espero que vocês sejam muito felizes" e desde então
somos só eu e o Nicholas.
DIAS DIFÍCEIS
Os primeiros dias foram difíceis. Eu
acordava três ou quatro vezes à noite para dar mamadeira e de manhã
tinha que ir trabalhar com ele. Os berçários não o aceitavam por ele
ainda não ter tomado todas as vacinas.
Sempre acompanhado dele, pedi a licença
[maternidade] no INSS e não permitiram por não ser algo previsto em
lei. Passei também pela Defensoria do Estado de São Paulo e indeferiram
meu pedido.
Em seguida, fui até a Defensoria Pública da União e explicaram que minha situação era atípica. Mesmo assim, queria tentar.
Entre as primeiras conversas com a
defensora pública e a decisão da Justiça se passaram apenas dez dias.
Achei que o Nicholas ia fazer 15 anos e eu ainda não teria uma
resposta. Fiquei impressionado quando soube que o juiz tinha aprovado.
Me sinto realizado por saber que
consegui algo tão importante. Meu filho é minha motivação e espero que
nosso caso também seja motivador para outros pais.
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