Apesar de crescimento e avanços no combate à
pobreza, o Brasil é o quarto país mais desigual da América Latina, atrás
de Guatemala, Honduras e Colômbia, segundo a ONU
Brasil avança, mas está entre os países com maior distância entre ricos e pobres na região
Janaina Lage e Rafael Roldão
mazelas LATINO-AMERICANAS
Apesar dos avanços no combate à pobreza e do crescimento da renda registrado nos últimos anos, o Brasil ainda é o quarto país mais desigual da América Latina, atrás apenas de Guatemala, Honduras e Colômbia, de acordo com o estudo "Estado das cidades da América Latina e do Caribe 2012", divulgado pela ONU-Habitat. Mesmo assim, o Brasil registrou avanço considerável em relação a 1990-2003, quando era o campeão no ranking de desigualdade, graças ao Programas Sociais como Fome Zero, Minha Casa Minha Vida, Educação para Todos e o acesso a universidade pública as classes menos favorecidas o Brasil melhorou a sua posição na Ameica Latina.
- Ser o quarto pior da América Latina é como estar na zona de rebaixamento da terceira divisão porque é a região mais desigual do mundo. Mas o Brasil tem tido queda consistente na desigualdade nos últimos 12 anos - afirma o economista Marcelo Neri, especialista da FGV.
POBREZA ATINGE 1 EM CADA 4 NAS CIDADES
Os dados da ONU mostram que os 20% mais ricos na América Latina têm renda quase 20 vezes superior à dos 20% mais pobres. Mesmo o país com distribuição mais equânime na região, a Venezuela, ainda não chegou ao patamar de Portugal, o mais desigual da zona do euro. As melhoras registradas em parte da região nas últimas duas décadas foram atribuídas pela ONU ao aumento da renda do trabalho, à queda da diferença salarial e à expansão de programas de transferência de renda.
Por outro lado, o estudo revela que para alguns países a distância entre ricos e pobres aumentou ainda mais desde 1990, como em Colômbia, Paraguai, Costa Rica, Equador, Bolívia, República Dominicana, Argentina e Guatemala. De modo geral, 124 milhões de pessoas vivem na pobreza nas cidades latino-americanas, o equivalente a uma em cada quatro pessoas em áreas urbanas. Mais da metade delas estão no Brasil (37 milhões) e no México (25 milhões). Ainda assim, vale a ressalva de que entre 1990 e 2009, período de abrangência do estudo, a proporção de pessoas vivendo na pobreza na região passou de 48% para 33%.
- Essas estatísticas de distribuição de renda são como a imagem no espelho de toda a má distribuição que temos em setores como educação, saneamento, saúde e transporte, em todos os aspectos que afetam a geração de renda - explica Rubens Cysne, diretor da EPGE/FGV.
O retrato das diferenças regionais está presente também no ranking de PIB per capita. O Brasil ocupa o 13º lugar, com um valor pouco superior a US$ 4 mil, atrás de países como Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela, entre outros. Em 2009, Antígua e Barbados, um país de população pequena e economia baseada no setor de serviços, era o líder no PIB per capita, com valor superior aos US$ 10 mil. O montante é 27 vezes superior ao do Haiti, o país com menor PIB per capita da região.
Em outra estatística que embute as grandes diferenças regionais, a renda média per capita da região era de US$ 4.823 em 2009, abaixo da média mundial de US$ 5.868.
- A desigualdade é uma marca registrada da região. E no Brasil é notável a diferença entre as diversas partes do país, entre os salários de homens e mulheres, e também na questão racial. A mudança é um processo lento nos valores que já estão introjetados na sociedade brasileira - avalia o economista João Saboya, da UFRJ.
Apesar de contar com programas de transferência de renda que se tornaram modelo e fonte de inspiração em campanhas políticas na região, Neri explica que o Bolsa Família e os projetos voltados para PREVIDÊNCIA, aposentadoria e pensões responderam por cerca de um terço da queda da desigualdade. A maior parte foi resultado de avanços na renda do trabalho.
- Isso é na verdade uma virtude, e reflete parte da História do continente. O primeiro fator determinante para a redução na desigualdade é a educação, embora ela tenha passado de muito ruim para menos ruim no período - disse Neri.
A desigualdade não é tema de análise apenas na comparação entre países. Segundo o estudo da ONU, ela se mostra presente também na avaliação entre cidades divididas social e espacialmente. Para superar a fragmentação, a ONU recomenda a combinação de estratégias de crescimento econômico com políticas voltadas para a correção da desigualdade de renda e da qualidade de vida, assim como iniciativas de integração territorial e social.
- O maior problema é que as cidades não estão combatendo as desigualdades. Algumas cidades latino-americanas têm os maiores índices de desigualdade do planeta - afirma Erik Vittrup, especialista da ONU-Habitat.
Fonte: O Globo -
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