Folha de São Paulo detona Aécio Neves e diz:” como se dirigir um país fosse tão simples quanto escapar de um bafômetro”
Folha de São Paulo detona Aécio Neves e diz:” como se dirigir um país fosse tão simples quanto escapar de um bafômetro”
SÃO PAULO – Por ossos do ofício, resolvi
ler a entrevista concedida pelo senador tucano Aécio Neves ao “Estado
de S. Paulo”, publicada no domingo passado. Esperava identificar ali
alguma ideia relevante, a favor ou contra, pouco importa, mas alguma
ideia capaz de estimular o debate político. A depender do vazio
demonstrado pelo eventual adversário, o PT pode dormir tranquilo por
vários anos no poder.
Globalizadas ou não, até novelas e
pessoas de instrução modesta incorporaram ao repertório assuntos como
recessão e estratégias de crescimento; soluções para evitar o
desemprego; Ocupe Wall Street; União Europeia; crise financeira global;
corrupção; quebradeira de bancos.
Não seria exigir demais que alguém, no
enésimo lançamento de sua candidatura à Presidência, apresentasse
opiniões sobre este universo tão vasto. Duas penosas páginas depois, a
decepção é absoluta.
Em vez disso, nós e a repórter somos
maltratados por frases como: “Decisão correta no momento errado é uma
decisão errada”; “Será o futuro versus o passado”; “Ou vamos todos
unidos de verdade ou não teremos êxito”; “Política é arte de administrar
o tempo”; “O projeto original que trouxe o Brasil até aqui é do PSDB,
mas o que está em execução agora é um software pirata”.
Ao longo do palavrório, nem mesmo a
lógica fica de pé. Aécio defende a ênfase no “legado do PSDB e do nosso
futuro”, mas diz que o principal desafio dos tucanos é “refundar o PSDB
em seu discurso”. Entendeu?
Bandeira mesmo, apenas uma. “Vamos lutar
contra o aparelhamento da máquina pública”, como se os tucanos fossem
virgens à beira do altar, ou como se dirigir um país fosse tão simples
quanto escapar de um bafômetro. Ainda assim, e supondo que o desejo
fosse sincero, desaparelhar a máquina a favor de que plataforma, de que
propostas, de que objetivos, de que projeto social?
É mais simples convocar Carlos Lacerda para ocupar a tribuna.
Ricardo Melo
Folha de S.Paulo
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