Quanto antes, melhor
por Riad Younes
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O câncer de pulmão é a variedade da doença que mais mata no mundo. É preciso traçar estratégias para enfrentá-lo
Serena Cevenini/Getty Images
Anualmente,
mais de 1,5 milhão de mortes ao redor do mundo são causadas por câncer
de pulmão, segundo estimativas recentes da Organização Mundial da Saúde.
Esse continua sendo o câncer mais agressivo, que mais causa mortes,
tanto em homens quanto em mulheres. Com essas devastadoras estatísticas,
e com a observação em todos os centros médicos do mundo de que a
maioria absoluta dos doentes chega ao diagnóstico de câncer de pulmão em
fases muito avançadas, de difícil controle e de limitadas chances de
viver por longo período, as autoridades de saúde e os especialistas
realizaram vários estudos para melhor compreender e diminuir os riscos
de as pessoas morrerem em decorrência desse tumor.
Um editorial recente da revista Lancet
alerta para a necessidade de se traçar uma estratégia clara para
controlar a mortalidade devida ao câncer de pulmão. Sem dúvida, a
prevenção continua sendo o pilar central, com a restrição cada vez maior
para o tabagismo em locais públicos. O exemplo mais recente está sendo
implantado no Reino Unido, que, por sinal, iniciou muito tardiamente sua
proibição do fumo em locais públicos, notadamente nos pubs. Os
legisladores estão introduzindo leis para probir o fumo nos carros.
O
impacto das restrições aos fumantes é imenso. Dados do Instituto
Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, mostram que as leis
antifumo no Brasil ajudaram a reduzir drasticamente o número de fumantes
a menos da metade, se comparados com algumas décadas atrás.
Infelizmente, entre parar de fumar e a redução da incidência de tumores
de pulmão, podem se passar de duas a três décadas.
Estudos comprovaram a
eficiência da tomografia computadorizada em diagnosticar, em fase muito
precoce, nódulos no pulmão em fumantes crônicos, muito antes de
produzirem qualquer sintoma. As chances de resolução total da doença
nessa fase são, geralmente, muito elevadas, alcançando níveis superiores
a 80% dos casos. Recentemente, estão sendo introduzidos testes do ar
expirado, soprado dentro de um tipo de “bafômetro”, que analisa e
detecta moléculas produzidas pelas células cancerosas. A eficácia desse
tipo de teste pode tornar mais acessível e prático o diagnóstico precoce
de câncer de pulmão.
Ao se suspeitar de um tumor de pulmão, os
médicos têm pouco tempo para avaliar o tipo exato e a extensão da
doença, para depois instituir o tratamento adequado rapidamente.
Novamente, existem regiões do mundo, e no Brasil isso é patente, onde a
população tem demora excessiva entre diagnóstico e início do tratamento,
muitas vezes com avanço ainda maior da doença e disseminação
metastática pelo corpo. Um estudo recente também demonstrou que o uso
mais difundido de exames específicos de endoscopia pulmonar, chamada
broncoscopia, com bió-
psias dirigidas por ultrassom, reduz drasticamente o tempo para o estabelecimento do tratamento eficaz.
psias dirigidas por ultrassom, reduz drasticamente o tempo para o estabelecimento do tratamento eficaz.
Juntamos nossa voz a esse editorial da revista Lancet para
alertar nossas autoridades de saúde, em todos os governos, para a
necessidade de intervir, de forma efetiva e por todos os meios
conhecidos, para reduzir o número assustador de mortes por câncer de
pulmão no Brasil. Da prevenção ao diagnóstico e ao tratamento. Como o
editorial enfatiza, na luta contra o câncer de pulmão, a velocidade
ganha o dia.
Imunoterapia em câncer de pulmão
por Riad Younes
—
Opção à quimioterapia: medicamentos que alertam o organismo contra o invasor estranho, cruel e agressivo
USP Imagens
Câncer de pulmão continua sendo uma doença
temível, agressiva e grave. Quando disseminado pelo corpo, a
quimioterapia torna-se a arma mais eficaz para controlar as metástases.
Infelizmente, a maioria dos pacientes acaba perdendo a batalha. Uma nova
abordagem tem apresentado resultados impressionantes: a imunoterapia do
câncer. Uma nova classe de medicamentos para estimular o sistema
imunológico, as células de defesa do organismo do paciente para que
reconheçam as células do câncer como um invasor estranho.
Diferente da quimioterapia, que combate
diretamente as células do câncer, a imuno-oncologia apresenta uma nova
forma de encarar essa doença. Como resultado dos avanços dessa linha de
pesquisa, recentemente a FDA, órgão que regulamenta a liberação de novas
drogas nos Estados Unidos, aprovou a primeira imunoterapia para o
tratamento do câncer de pulmão. Sobre essa novidade, conversamos com o
doutor Marcelo Cruz, oncologista clínico e coordenador do Serviço de
Segunda Opinião do Hospital São José, Beneficência Portuguesa de São
Paulo:
CartaCapital: A imunoterapia em câncer já é realidade ou só experimental?
Marcelo Cruz:
Já é uma realidade. Essa nova classe de terapia já está aprovada para o
tratamento de melanoma, uma forma agressiva de câncer de pele, e há
vários estudos em fases bastante avançadas para diversos tipos de
câncer, como rim, bexiga, mama.
CC: E no caso do câncer de pulmão?
MC: A imunoterapia está sendo estudada justamente nos pacientes com doença disseminada, de mais difícil controle.
CC: E os resultados até o momento?
MC: Os
estudos iniciais avaliaram a eficácia da imunoterapia em pacientes com
câncer avançado que já haviam apresentado resistência a várias
quimioterapias. Apesar disso, uma parte dos pacientes que receberam essa
nova terapia apresentou benefício no combate à doença e aumento do
tempo de vida. Como resultado dos avanços dessa linha de pesquisa, a FDA
aprovou o Nivolumabe como a primeira imunoterapia para o tratamento de
um dos tipos mais frequentes de câncer de pulmão.
CC: A aprovação pela FDA foi rápida, em comparação com outras drogas.
MC: Três
meses antes da data esperada, o que mostra a agilidade no processo de
tornar essa terapia inovadora e eficaz disponível para os pacientes nos
Estados Unidos.
CC: Como age a droga?
MC: Ela
inibe uma substância conhecida como PD-1. Essa proteína, quando ativa,
não deixa que o sistema imune ataque as células do câncer. Dessa forma,
inibindo o PD-1, o sistema imune do paciente volta a reconhecer as
células do câncer como algo estranho ao organismo e passa a combater o
inimigo. Em pacientes com câncer escamoso de pulmão que já haviam
recebido tratamento com quimioterapia, o Nivolumabe aumentou as chances
de controle de doença e tempo de vida dos pacientes, quando comparado
com o docetaxel, uma quimioterapia convencional.
CC: Como é administrada e quais são os efeitos colaterais?
MC: O
Nivolumabe é administrado por via intravenosa em intervalos de duas
semanas. Os efeitos colaterais mais comuns são fadiga, dores musculares,
náuseas e perda de apetite, mas em geral são bem tolerados e não
interferem com a continuidade do tratamento. Efeitos colaterais mais
graves existem em cerca de 3% dos casos, e podem incluir diarreia de
difícil controle, tosse e falta de ar relacionada com pneumonite (um quadro de inflamação dos pulmões).
CC: A droga já está disponível para administração aos pacientes em algum lugar no mundo?
MC: Uma vez aprovado pela FDA, a droga já pode ser utilizada nessa nova indicação nos Estados Unidos. Certamente, a EMA (órgão regulador de novas terapias na Europa) também deverá se posicionar em breve.
CC: Qual a expectativa de sua aprovação e disponibilidade no Brasil?
MC: Ainda
não há previsão de aprovação pela Anvisa.Outras terapias contra o câncer
de pulmão já aprovadas e em uso nos EUA e na Europa ainda aguardam
aprovação no Brasil há pelo menos dois anos.