8.10.2015

Câncer de pulmão: o câncer que mais mata no mundo

Quanto antes, melhor

por Riad Younes
O câncer de pulmão é a variedade da doença que mais mata no mundo. É preciso traçar estratégias para enfrentá-lo

Serena Cevenini/Getty Images
Cigarro
Na luta contra o câncer de pulmão, a velocidade ganha o dia
Anualmente, mais de 1,5 milhão de mortes ao redor do mundo são causadas por câncer de pulmão, segundo estimativas recentes da Organização Mundial da Saúde. Esse continua sendo o câncer mais agressivo, que mais causa mortes, tanto em homens quanto em mulheres. Com essas devastadoras estatísticas, e com a observação em todos os centros médicos do mundo de que a maioria absoluta dos doentes chega ao diagnóstico de câncer de pulmão em fases muito avançadas, de difícil controle e de limitadas chances de viver por longo período, as autoridades de saúde e os especialistas realizaram vários estudos para melhor compreender e diminuir os riscos de as pessoas morrerem em decorrência desse tumor.

Um editorial recente da revista Lancet alerta para a necessidade de se traçar uma estratégia clara para controlar a mortalidade devida ao câncer de pulmão. Sem dúvida, a prevenção continua sendo o pilar central, com a restrição cada vez maior para o tabagismo em locais públicos. O exemplo mais recente está sendo implantado no Reino Unido, que, por sinal, iniciou muito tardiamente sua proibição do fumo em locais públicos, notadamente nos pubs. Os legisladores estão introduzindo leis para probir o fumo nos carros.
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O impacto das restrições aos fumantes é imenso. Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, mostram que as leis antifumo no Brasil ajudaram a reduzir drasticamente o número de fumantes a menos da metade, se comparados com algumas décadas atrás. Infelizmente, entre parar de fumar e a redução da incidência de tumores de pulmão, podem se passar de duas a três décadas.

Estudos comprovaram a eficiência da tomografia computadorizada em diagnosticar, em fase muito precoce, nódulos no pulmão em fumantes crônicos, muito antes de produzirem qualquer sintoma. As chances de resolução total da doença nessa fase são, geralmente, muito elevadas, alcançando níveis superiores a 80% dos casos. Recentemente, estão sendo introduzidos testes do ar expirado, soprado dentro de um tipo de “bafômetro”, que analisa e detecta moléculas produzidas pelas células cancerosas. A eficácia desse tipo de teste pode tornar mais acessível e prático o diagnóstico precoce de câncer de pulmão.
Ao se suspeitar de um tumor de pulmão, os médicos têm pouco tempo para avaliar o tipo exato e a extensão da doença, para depois instituir o tratamento adequado rapidamente. Novamente, existem regiões do mundo, e no Brasil isso é patente, onde a população tem demora excessiva entre diagnóstico e início do tratamento, muitas vezes com avanço ainda maior da doença e disseminação metastática pelo corpo. Um estudo recente também demonstrou que o uso mais difundido de exames específicos de endoscopia pulmonar, chamada broncoscopia, com bió-
psias dirigidas por ultrassom, reduz drasticamente o tempo para o estabelecimento do tratamento eficaz.
Juntamos nossa voz a esse editorial da revista Lancet para alertar nossas autoridades de saúde, em todos os governos, para a necessidade de intervir, de forma efetiva e por todos os meios conhecidos, para reduzir o número assustador de mortes por câncer de pulmão no Brasil. Da prevenção ao diagnóstico e ao tratamento. Como o editorial enfatiza, na luta contra o câncer de pulmão, a velocidade ganha o dia.

Imunoterapia em câncer de pulmão

por Riad Younes
Opção à quimioterapia: medicamentos que alertam o organismo contra o invasor estranho, cruel e agressivo

USP Imagens
Cigarro
O câncer de pulmão ainda é uma doença agressiva e grave
Câncer de pulmão continua sendo uma doença temível, agressiva e grave. Quando disseminado pelo corpo, a quimioterapia torna-se a arma mais eficaz para controlar as metástases. Infelizmente, a maioria dos pacientes acaba perdendo a batalha. Uma nova abordagem tem apresentado resultados impressionantes: a imunoterapia do câncer. Uma nova classe de medicamentos para estimular o sistema imunológico, as células de defesa do organismo do paciente para que reconheçam as células do câncer como um invasor estranho.
Diferente da quimioterapia, que combate diretamente as células do câncer, a imuno-oncologia apresenta uma nova forma de encarar essa doença. Como resultado dos avanços dessa linha de pesquisa, recentemente a FDA, órgão que regulamenta a liberação de novas drogas nos Estados Unidos, aprovou a primeira imunoterapia para o tratamento do câncer de pulmão. Sobre essa novidade, conversamos com o doutor Marcelo Cruz, oncologista clínico e coordenador do Serviço de Segunda Opinião do Hospital São José, Beneficência Portuguesa de São Paulo:
CartaCapital: A imunoterapia em câncer já é realidade ou só experimental?
Marcelo Cruz: Já é uma realidade. Essa nova classe de terapia já está aprovada para o tratamento de melanoma, uma forma agressiva de câncer de pele, e há vários estudos em fases bastante avançadas para diversos tipos de câncer, como rim, bexiga, mama.
CC: E no caso do câncer de pulmão?
MC: A imunoterapia está sendo estudada justamente nos pacientes com doença disseminada, de mais difícil controle.
CC: E os resultados até o momento?
MC: Os estudos iniciais avaliaram a eficácia da imunoterapia em pacientes com câncer avançado que já haviam apresentado resistência a várias quimioterapias. Apesar disso, uma parte dos pacientes que receberam essa nova terapia apresentou benefício no combate à doença e aumento do tempo de vida. Como resultado dos avanços dessa linha de pesquisa, a FDA aprovou o Nivolumabe como a primeira imunoterapia para o tratamento de um dos tipos mais frequentes de câncer de pulmão.
CC: A aprovação pela FDA foi rápida, em comparação com outras drogas.
MC: Três meses antes da data esperada, o que mostra a agilidade no processo de tornar essa terapia inovadora e eficaz disponível para os pacientes nos Estados Unidos.
CC: Como age a droga?
MC: Ela inibe uma substância conhecida como PD-1. Essa proteína, quando ativa, não deixa que o sistema imune ataque as células do câncer. Dessa forma, inibindo o PD-1, o sistema imune do paciente volta a reconhecer as células do câncer como algo estranho ao organismo e passa a combater o inimigo. Em pacientes com câncer escamoso de pulmão que já haviam recebido tratamento com quimioterapia, o Nivolumabe aumentou as chances de controle de doença e tempo de vida dos pacientes, quando comparado com o docetaxel, uma quimioterapia convencional.
CC: Como é administrada e quais são os efeitos colaterais?
MC: O Nivolumabe é administrado por via intravenosa em intervalos de duas semanas. Os efeitos colaterais mais comuns são fadiga, dores musculares, náuseas e perda de apetite, mas em geral são bem tolerados e não interferem com a continuidade do tratamento. Efeitos colaterais mais graves existem em cerca de 3% dos casos, e podem incluir diarreia de difícil controle, tosse e falta de ar relacionada com pneumonite (um quadro de inflamação dos pulmões).
CC: A droga já está disponível para administração aos pacientes em algum lugar no mundo?
MC: Uma vez aprovado pela FDA, a droga já pode ser utilizada nessa nova indicação nos Estados Unidos. Certamente, a EMA (órgão regulador de novas terapias na Europa) também deverá se posicionar em breve.
CC: Qual a expectativa de sua aprovação e disponibilidade no Brasil?
MC: Ainda não há previsão de aprovação pela Anvisa.Outras terapias contra o câncer de pulmão já aprovadas e em uso nos EUA e na Europa ainda aguardam aprovação no Brasil há pelo menos dois anos.





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