por Riad Younes
—
Os sintomas: tristeza por períodos longos, choro frequente, irritabilidade, autocrítica em excesso
iStockphoto
"Quase todos os dias eu me sentia horrível.
Quase todos os dias sentia o peso insuportável da vida. Tudo era
difícil. Tudo era obstáculo. Até meus passatempos, antes preferidos e
divertidos, não mais me trazem qualquer prazer. Sempre ansioso, sempre à
beira da explosão. Me odiava e odiava tudo e todos que estavam ao meu
redor. Parece que perdi a esperança.”
Assim se descreveu um adolescente a um médico amigo meu.
Em conversas sobre os jovens e suas ansiedades, ele me relatou esse caso
como emblemático de um problema frequente, intrigante e muito
preocupante: o progressivo aumento do número de adolescentes com
diagnóstico de depressão. Muitas vezes graves. Às vezes levando a atos
de automutilação e até suicídio.
As causas dessa incidência cada vez mais
elevada não são claras, mas os números não deixam dúvidas sobre a
importância desse problema. Vários estudos realizados por pesquisadores
do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos estimam que
entre 7% e 11% dos adolescentes apresentam sintomas claros de depressão,
e que de 2% a 3% têm quadros graves da doença. No Brasil, as
estatísticas científicas estimam que os jovens apresentam incidências
semelhantes, sendo a depressão mais comum nas meninas adolescentes (12%)
do que nos meninos (5%).
A depressão tem um peso enorme não
somente nos jovens pacientes, com grande impacto na qualidade de vida
dos adolescentes e de seus familiares, associada ao aumento dos riscos
de desfechos graves. O uso frequente de serviços médicos e hospitalares e
a necessidade de tratamentos prolongados também sobrecarregam os
sistemas de saúde e elevam os custos desses cuidados.
Os tratamentos atuais, apesar de
melhorarem substancialmente em relação ao passado, ainda deixam de
controlar totalmente a maioria dos pacientes.
Os sintomas mais comuns,
que podem alertar pais e amigos para um caso de depressão, são:
tristeza por longos períodos, choro frequente, dificuldade de tomar
decisões, perda de energia, irritabilidade, dificuldade de concentração e
de trabalho, e autocrítica constante.
Mesmo não parecendo haver correlação
entre depressão na adolescência e sua persistência na idade adulta,
muitos dos adultos com a doença apresentaram seus primeiros sintomas na
adolescência. Os adolescentes acometidos são frequentemente filhos de
pais ou familiares imediatos com depressão.
Identificar o problema precocemente e
tratá-lo de forma adequada, utilizando tanto as abordagens
comportamentais quanto medicamentosas, é fundamental. Melhora a
qualidade de vida do adolescente e de sua família, e reduz o risco de
evolução grave, por vezes fatal.
Os especialistas do Instituto de Saúde Mental dos Estados
Unidos recomendam a atenção, o cuidado e a prevenção nas crises de
depressão. A incidência de uso abusivo de álcool, drogas e de
comportamento antissocial é muito mais comum em pacientes com depressão.
O custo social dessa doença mental é alto. O sofrimento individual,
incalculável. E nenhum adolescente está imune. A atenção aos sintomas e
sinais de alerta pode salvar a vida de muitos jovens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário