Ex-presidente participou de seminário ao lado de Pepe Mujica em São Paulo.
Petista afirmou durante discurso que decidiu 'falar e viajar mais' pelo país.
Lula
participou de seminário internacional organizado pela prefeitura de São
Bernardo do Campo (SP), que contou com a presença do ex-presidente
uruguaio José "Pepe" Mujica. (Foto: Leonardo Benassatto/ Estadão
Conteúdo)
Um dia depois de dizer que, "se necessário", vai entrar na disputa pelo Palácio do Planalto em 2018,
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (29),
durante um seminário em São Bernardo do Campo (SP), que decidiu "falar e
viajar mais" pelo país. Dirigindo-se ao ex-presidente do Uruguai José
"Pepe" Mujica – um dos convidados do evento internacional organizado
pela prefeitura de São Bernardo do Campo (SP) –, o petista destacou que
voltou a "voar outra vez" e que, agora, vai "incomodar".Em meio ao discurso de cerca de uma hora, Lula falou a Mujica que, desde que deixou o comando do país, em 2011, ele tinha deixado de conceder entrevistas à imprensa porque, na visão dele, quem tem de dar entrevistas é quem está governando. Em tom de conselho ao uruguaio, que deixou recentemente a presidência do país sul-americano, o petista disse que um ex-presidente tem de "aprender" a ser ex-presidente.
"Você [Mujica] tem que aprender a ser ex-presidente. Você [Mujica] não pode ficar dando palpite em tudo que o Tabaré [Vasquez, atual presidente do Uruguai] vai fazer. Você vai ter que ficar quietinho, muitas vezes angustiado. [...] Esse é o papel de um ex-presidente: permitir que quem foi eleito governe o país. Eu, então, resolvi falar um pouco mais", declarou o petista no seminário internacional Participação Cidadã, Gestão Democrática e as Cidades no Século XXI, organizado pela prefeitura de São Bernardo do Campo (SP).
"Eu, agora, vou falar, eu, agora, vou viajar, eu, agora, vou dar entrevista. Eu, agora, vou incomodar", complementou.
Em outro trecho do discurso, Lula ironizou e criticou declarações recentes de líderes da oposição que apontam a perda de popularidade do ex-presidente da República identificada por institutos de pesquisas. Segundo o petista, a direita brasileira, a qual ele classificou de "reacionária", resolveu dizer que ele "está morto".
"Como eu tenho as costas largas, já apanhei demais na minha vida, eu vou ver se eles [oposicionistas] vão dar sossego para a nossa querida Dilma [Rousseff] e começam a se incomodar comigo outra vez. Porque eu estou naquela fase de quem está esperando o dia da aposentadoria. [...] Mas as pessoas não me deixam em paz. Os adversários, todo santo dia, falam meu nome. Todo santo dia. E eu aprendi uma coisa: você só consegue matar um pássaro se ele ficar parado no galho olhando para você. Se ele ficar voando, pulando de galho em galho, é mais difícil. Então, é o seguinte: eu voltei a voar outra vez", discursou Lula em tom irônico.
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CPMFEm meio às discussões em torno da criação de um novo tributo para financiar a saúde, Lula defendeu o retorno da CPMF. O ex-presidente afirmou ao ministro da Saúde, Arthur Chioro, que o chamado "imposto do cheque" nunca deveria ter sido extinto.
Nos últimos dias, o governo federal passou a discutir com aliados a possibilidade de apresentar ao Congresso Nacional uma proposta para voltar a tributar as transações bancárias. Criada em 1997 pelo governo Fernando Henrique Cardoso, a CPMF acabou extinta pelo Legislativo em 2007, já no segundo mandato de Lula à frente do Palácio do Planalto.
Um dos integrantes do primeiro escalão encarregados de negociar a eventual criação do novo tributo, o ministro da Saúde defende uma alíquota de pelo menos 0,38%, o último percentual da CPMF.
"Não sei se é verdade que [Chioro] defendeu a CPMF. Mas a verdade é que ela não deveria ter sido retirada. Mas você deveria reivindicar para os governadores e prefeitos, porque eles precisam de dinheiro para a saúde", disse Lula.
'Ódio emocional'
O ex-presidente também disse sentir que há "um certo ódio emocional, uma irracionalidade emocional" no país que, para ele, faz com que se estabeleça uma "divisão nacional."
"Pode ser que alguém tenha razão em algumas críticas. Mas do que vem esse ódio? [...] Será que uma parte desse ódio demonstrado contra o PT é porque as empregadas domésticas conquistaram mais direitos? Nós fomos para as ruas sempre à procura de conquistar algo para melhorar a vida das pessoas. E eu acho que essas pessoas [contra o governo] estão vindo para a rua para desfazer as melhoras que nós conquistamos", afirmou Lula.
No seminário, Lula afirmou, diante de diversos integrantes do PT, que o partido passa por um "processo de criminalização" e por uma tentativa de "demonizar" quem defende o PT. Lula pediu para que o os militantes do partido "levantem a cabeça e vão as ruas."
Orçamento
Durante o seminário, Lula se dirigiu a diversos prefeitos que estavam presentes no auditório para pedir que, diante da atual crise financeira no país, é preciso "aumentar a política" e conversar com a população. O petista pediu para que os prefeitos não se “escondam”.
“Quando falta o orçamento, tem que aumentar a política. [...] As coisas estão mal, estão mal. 'Mas eu [prefeito] vou dizer para o povo porque está mal'. O orçamento não é seu [do prefeito]. Não pode se esconder”, disse.
Mujica
O ex-presidente do Uruguai falou, durante o seminário, sobre a importância dos partidos políticos e da necessidade de lideranças políticas trabalharem com a maioria.
"Não há democracia sem partidos. Eles são a vontade coletiva dos grupos humanos para construir coisas melhores. Não há homens imprescindíveis, há causas imprescindíveis", disse Mujica.
O político uruguaio chegou a se emocionar em seu discurso, antes de ceder o microfone para Lula. "Os dirigentes partidários precisam aprender a conviver com as maiorias e não [com] as minorias."
O ex-presidente do Uruguai concluiu a fala mencionando valores como ética na política. "Não se pode separar a economia da alma, da ética e dos sonhos. Quando deixarmos de sonhar e crer num mundo melhor sobrará o egoísmo e o mundo individual", disse ele.
Após o evento, Lula e Mujica almoçaram na cidade, mas o local não foi divulgado pela assessoria do ex-presidente brasileiro.
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